Jovem cria projeto para empoderar modelos negros no Rio

'Nós somos pretos, da favela e queremos mostrar a nossa raíz', explica Juliana Gomes

Jovem cria projeto de empoderamento
Jovem cria projeto de empoderamento -
Decidida, carismática, fotogênica e empoderada. Juliana Gomes, de 22 anos, decidiu criar um projeto para devolver a autoestima das pessoas, principalmente jovens negros e sem condições financeiras, que se sentem oprimidos por um determinado padrão de beleza. A carioca, que começou sua trajetória em 2015 modelando para uma agência, acabou conquistando espaço e observou que o número de curiosos sobre o seu trabalho ia crescendo cada dia mais. Notando que era uma das poucas modelos negras na agência, ela decidiu que era hora de fazer algo a respeito e tomar uma atitude.

Em 2018, Juliana percebeu que valia a pena dividir seu tempo entre os compromissos com a agência e dar início a outro projeto. Após convocar dois amigos, ela criou o Sorriso Negro. Sem restrição de idade, peso ou altura, em março, Juliana convidou algumas pessoas para primeira sessão de fotos, que ocorreu na Lapa, centro do Rio. "Em abril me veio a ideia de criar um projeto porque eu estava vendo muitas pessoas querendo seguir como modelo, mas sem recurso financeiro. Fui vendo fotos de alguns grupos e tive a ideia", conta.
"O intuito era dar oportunidade a pessoas que não tinham como investir em agência, porque em agência, primeiro nós perdemos para depois ganharmos e isso leva tempo, talvez anos", explica. "O primeiro ensaio demos o nome de Levante Negro, e foi muito espontâneo, não sabíamos muito como fazer as coisas e tinha muita gente, mas no fim deu tudo certo", relembra.

Apenas com duas pessoas na produção, um fotógrafo e bastante gente pedindo para fazer parte, Juliana entendeu que acabou chamando mais atenção do que o esperado. O que começou com sete pessoas no ensaio, acabou se tornando um grupo com 40 modelos, com média de 26 por ensaio. E, por isso, ela resolveu que estava na hora de apostar apenas no seu novo projeto e saiu da agência.

A função de Juliana não era apenas modelar e produzir, foi quando ela notou que precisava correr atrás de parcerias firmes e pessoas de confiança, principalmente após a saída de uma das criadoras do grupo. Embora a demanda fosse ficando maior, a visibilidade crescia e ela teve a oportunidade de fechar parcerias com loja de roupa, figurinistas e até colocar mais projetos no papel. "Logo no início tentamos um desfile, mas não deu certo, porque as pessoas veem um projeto pequeno e ficam com receio de investir", afirma. "Ainda tiro muito do meu próprio bolso, não como antes, agora consigo equilibrar mais".

Com a demanda crescendo, Juliana foi recebendo mensagem de todo tipo de gente querendo participar criança, adulto, adolescente... Neste momento, ela tocava tudo apenas ao lado do fotógrafo Patrick Lucas, de 21 anos, e teve outra ideia: criar o Black and White. Ali, ao perceber o motivo de tanta procura, ela entendeu a importância do que criou e como afetava a vida das pessoas ao seu redor. "Tem muita gente que ainda fica para baixo com o nosso cabelo. Antigamente a nossa referência era da Rapunzel, cabelo liso e longo, e nunca com o cabelo crespo. Por que não uma Rapunzel com cabelo crespo?", questiona. "Na minha infância eu colocava toalha na cabeça e queria ter um cabelo grande e liso, por não aceitar o meu cabelo. Mas acredito que está melhorando porque agora estão expondo mais essas questões, por isso não os limito (os modelos)", completa.

Moradora de Inhoaíba, na Zona Oeste, a intenção de Juliana era explorar lugares do Rio que vão além dos cartões postais, desde o subúrbio à fábricas abandonadas. Com a entrada de mais um fotógrafo na equipe, a modelo apostou em editoriais que quebram estereótipos, para ter a liberdade de recriar paisagens "quebrando protocolos" e buscando "identidade" através das roupas e acessórios. "A gente pega lugares ocultos. As pessoas só conhecem o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar... nós queremos mostrar outras coisas. Fizemos um ensaio no bondinho, lá ele mostra uma favela, queremos passar essa visão. Nós somos pretos, da favela e queremos mostrar a nossa raiz".

Com toda essa liberdade e criatividade, Juliana também está apostando em ficar atrás das lentes e começar a fotografar. "Acabei indo para esse lado por necessidade, não tinha como contratar mais um fotógrafo, então juntei e comprei minha câmera. Agora quero seguir com outra página minha apenas com as fotos que faço".

Em casa, ela teve todo apoio da mãe em cada passo, principalmente na produção de figurinos. Mãe da Valentina, de 4 anos, e do Théo de cinco meses, a carioca já avisou o que pretende fazer do futuro dos filhos: "Já fiz ensaio deles. Vou colocar os dois nesse ramo!".

Alguns planos tiveram que ser adiados por conta da pandemia do novo coronavírus, mas Juliana e sua equipe já estão montando projetos a longo prazo. "Íamos fazer um desfile, mas não deu. Espero que isso passe logo, tinha muita coisa prevista, mas acredito que após o fim da pandemia vamos dar continuidade, já estou selecionando modelos para isso". 

Galeria de Fotos

Jovem cria projeto de empoderamento Vinicius Nascimento
Jovem cria projeto para empoderar modelos Vinicius Nascimento
Jovem cria projeto para empoderar modelos Vinicius Nascimento
Jovem cria projeto para empoderar modelos Vinicius Nascimento
Jovem cria projeto para empoderar modelos Patrick Lucas
Jovem cria projeto para empoderar modelos Patricl Lucas
Jovem cria projeto para empoderar modelos Vinicius Nascimento
 
 *Estagiária sob supervisão de Nathalia Duarte