O escritório deles é na praia, e estavam sempre na área.Nas areias, ganharam clientes fiéis e amigos sob o sol escaldante do Rio e de Niterói, como barraqueiros ou vendedores. Mas desde que a pandemia do novo coronavírus chegou, eles estão longe do lugar que aprenderam a amar e que virou fonte de renda. Na série ‘Sonhos de um lugar ao sol’, o Meia Hora conta, deste domingo até quinta,as histórias de cinco trabalhadores da praia antes e durante o isolamento social.
No terraço da casa, em Botafogo, as roupas no varal servem de primeiro plano para uma imagem bem conhecida para Delley Tinoco,de 60 anos. Ao fundo, o Pão de Açúcar, ponto turístico pertinho do seu local de trabalho: a Praia Vermelha,na Urca, onde ele é referência como barraqueiro. Goiano de Córrego do Ouro, ele trabalhava nas areias até antes de a pandemia chegar.“Tenho amigos, clientes que só vão quando estou lá.
Na praia, você tem que aproveitar o sol e o momento para guardar dinheiro. Agora, estou entediado, mas fico desesperado para não pegar esse troço”, diz Delley, contando que se mantém com “um dinheirinho guardado”.Ele chegou ao Rio aos 17 anos:“Vim sozinho. Só eu e Deus”. Passou por vários empregos e, em 2006,a praia entrou na sua vida de vez:“Fui ajudar uma senhora na barraca. Ela tinha problemas de saúde e,quando faleceu, o marido ficou de titular e eu de auxiliar”.
A foto com a camisa do Flamengo, de bicicleta na praia, ilustra seu perfil no Facebook, e traz à memória o momento em que, ainda na infância, em Goiás, Delley virou torcedor rubro-negro. “Todo mundo tinha bicicleta. Eu, com 10 anos,troquei o que havia plantado de milho e arroz por uma e nela tinha um escudo do Flamengo”, conta o barraqueiro.
Sua “estreia” na praia, no início de sua vida na Cidade Maravilhosa, é lembrada com um toque de bom humor. “Peguei um ônibus na Lapa e fui para Copacabana. Vi aquele mundaréu de água. Fiquei encantado. Mas levei um caixote”, conta Delley.