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João Pedro tranquilizou mãe durante tiroteio: 'Estou dentro de casa. Calma'

Mais tarde, adolescente manifestou medo com operação, em mensagem encaminhada ao tio

João Pedro Matos Pinto tem 14 anos
João Pedro Matos Pinto tem 14 anos -
João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, morto a tiro no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, enquanto estava em casa no último dia 18, tranquilizou a mãe momentos antes de ser baleado. Na última conversa que teve com o filho, Rafaela Matos enviou áudio preocupada com o adolescente. Ela estava em uma casa perto da que o filho estava. As mensagens foram divulgadas pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo.
"João Pedro", diz a mãe no áudio.
"Fala", escreve o menino em resposta.
"Seu tio está aí com vocês? Só está você e Nathan? Esse tiroteio é aí, não é? Já estou nervosa já", diz Rafaela.
"Meu tio está vindo", ele responde.
"O pai está lá no quiosque, esse tiroteio é aí mesmo perto de onde vocês estão?", diz a mãe.
"Estou dentro de casa. Calma", diz o menino.
A mãe de João Pedro conta que chorou de nervosismo com a operação. "Ninguém atendia. Aí fiquei nervosa, chorando porque não tinha notícia de ninguém".
Áudio para os tios

"Tia, tia, tia...", chama ele no áudio.
"Ô, João, fica calmo pelo amor de Deus. Olha só. Não me saia daí de dentro. Se a polícia chamar alguém, você... vocês atendem de boa. Pelo amor de Deus", responde a tia Denise.
João Pedro também ligou para o pai, mas o tio Nadilton atendeu e pediu para ele ficar dentro da casa. "Estou aqui, pelo amor de Deus", respondeu João Pedro.
Os sobreviventes contaram aos familiares que os policiais arrombaram o portão e entraram no quintal jogando granadas e atirando.

“Quando chegamos na casa, do lado de fora, os cinco adolescentes estavam sentados no chão. Mais ou menos de 10 a 15 policiais cercando eles, tudo de fuzil. Meu sobrinho olhou pra mim: "João..." Eu falei: "O que aconteceu com João?". "João foi baleado". Comecei a ficar desesperado, perguntar para o policial o que aconteceu. Ele nada de falar", disse o pai.

Os policiais, segundo o pai, disseram que João tinha sido resgatado de helicóptero. "A resposta dele foi essa: socorremos ele, estava com vida".
Policiais Civis afastados
Três policiais civis que participaram da operação que resultou na morte do menino João Pedro no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no início da semana, foram afastados do serviço operacional provisoriamente. De acordo com a Corregedoria Geral de Polícia Civil (CGPOL), os agentes irão exercer atividades administrativas.
Além disso, a CGPOL instaurou sindicância administrativa disciplinar para apurar a conduta dos policiais civis que participaram da ação. A apuração corre em paralelo ao inquérito policial instaurado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI).
Entenda o caso
Na tarde de segunda-feira (18), familiares de João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, estavam em busca do jovem, que foi baleado dentro de casa durante uma operação da Polícia Civil na Praia da Luz, na Ilha de Itaoca, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do estado.
De acordo com as primeiras informações, a vítima foi socorrida por agentes em um helicóptero, enquanto a família aguardava notícias.
João foi encontrado sem vida por volta de 15h da tarde de segunda-feira no Grupamento de Operações Aéreas (GOA) da Lagoa, na Zona Sul do Rio. Um tio e um primo do estudante fizeram o reconhecimento do corpo que estava no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó.
Segundo investigações, o helicóptero da Polícia Civil percorreu cerca de 40 km com o corpo do estudante do município da Região Metropolitana até a área do Corpo de Bombeiros na capital.