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Prefeitura do Rio vai divulgar dois números para óbitos por Covid-19

Secretaria iria contabilizar mortes pelo número de sepultamentos na cidade, mas subnotificação preocupou especialistas

Contagem baseada em sepultamentos poderia falsear realidade
Contagem baseada em sepultamentos poderia falsear realidade -

A Prefeitura do Rio vai passar a divulgar números discriminados por hospitais e cemitérios no painel que contabiliza os óbitos pela covid-19. Na segunda-feira, a secretária municipal de Saúde, Beatriz Busch, anunciou que a pasta iria contabilizar as mortes somente pelo número de sepultamentos pela doença. Mas, com esse método, a diferença entre os dois cenários chegou a dar 1.280 mortes a menos no novo critério, o que poderia dar a impressão de menor gravidade da pandemia na cidade. Tudo isso justamente no momento em que a prefeitura começava a falar sobre flexibilizar o isolamento social.

Na quarta-feira, as informações apresentadas pela prefeitura, com base nos atestados de óbito, davam conta de 1.855 mortes pelo novo coronavírus, mas o número divulgado pelo Ministério da Saúde, baseado nos hospitais, somavam 3.135. A Secretaria Municipal de Saúde informou que os sepultamentos por covid-19 foram incluídos para estimar, em tempo real, o número diário de mortes pela doença.

Segundo a SMS argumentou, essa investigação depende da notificação pelo serviço de saúde, resultado de exames e análise de dados de declaração de óbitos pelo Sistema de Investigação de Mortalidade. "Não houve nenhuma mudança na orientação e as ações para conter o avanço da covid-19 continuam sendo tomadas com base nos dados epidemiológicos, de acordo com critérios do Ministério da Saúde", emendou a secretaria.

 

Especialistas alertam para equívocos nos números

Para a pesquisadora em saúde do Centro de Estudos de Gestão de Serviços de Saúde da UFRJ Chrystina Barros, a mudança no método de contabilização dos óbitos é prejudicial. "Não ajuda em nada na tomada de decisão rápida. Atrapalha, porque temos sub-notificação de casos totais. O atestado de óbito é uma fonte importante de informação, mas nem sempre há tempo suficiente para confirmação laboratorial de que (o óbito) foi provocado pelo novo coronavírus. O mundo todo está trabalhando com as notificações que os serviços de saúde fazem, e não dos registros civis", afirmou a pesquisadora.
Ela explica que, com a metodologia, há redução de 40% das mortes, podendo afetar ações de retomada da mobilidade urbana. "As informações epidemiológicas, clínicas dos pacientes, são as mais adequadas neste momento, porque precisamos destes dados para planejar o retorno da mobilidade urbana e a estrutura de atendimento necessária por um bom tempo ainda pela frente."
A geriatra e psiquiatra Roberta França, alerta para os riscos da subnotificação. "Minimiza tudo o que está acontecendo em termos de pandemia. Se eu tenho 25 mil óbitos, que na verdade são 50 mil, é uma mudança radical que teria que ser feita na saúde pública. Aconteceu no mundo inteiro, mas o restante do mundo foi se organizando e melhorando suas estratégias. Nós estamos retrocedendo no combate à pandemia", diz a médica, que reforça a necessidade de testagem em massa de pessoas com sintomas suspeitos de covid-19.