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Cientista da Baixada

Rômulo Neris é um dos sete brasileiros selecionados para estudar a Covid-19 nos EUA

De Caxias, Rômulo Neris faz pesquisas para mapear o coronavírus
De Caxias, Rômulo Neris faz pesquisas para mapear o coronavírus -

Foi no quintal de casa que Rômulo Neris, ainda criança, passou a se interessar por ciência. Nascido e criado no bairro Jardim Primavera, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ele tinha o hábito de observar os insetos que pairavam ao redor, sem imaginar que hoje, aos 27 anos, seria um dos sete brasileiros selecionados para estudar a Covid-19 na Dimensions Sciences, nos Estados Unidos.

Formado em Biofísica na UFRJ, Rômulo é de origem simples e sempre contou com o apoio da família para realizar seus sonhos. Doutorando em imunologia, o rapaz, que concluiu o Ensino Médio em escola particular com bolsa integral, viu no saber a oportunidade de vencer na vida. "Meus pais são humildes, mas sempre me apoiaram. Meu pai dizia que faria o que estivesse ao seu alcance para que a gente (ele e a irmã, formada em Direito) continuasse estudando", afirma o cientista, filho de mãe pedagoga e pai ferroviário.

Rômulo lembra que a inspiração para os estudos surgiu em casa, apesar das condições econômicas desfavoráveis. "É muito bom observar que vim da Baixada. Prova que conseguimos alcançar os mesmos lugares que pessoas mais privilegiadas. A gente não consegue a mesma eficiência por causa da desigualdade social. Com recursos, incentivos e um suporte familiar, teremos indivíduos capazes em todos os ambientes", ressalta o pesquisador, consciente de que serve de exemplo para outras pessoas. "Muitos jovens não têm um núcleo familiar estruturado. Espero que minha história inspire, mas que também possibilite um discurso de melhora e incentivo da educação e ciência no Brasil", diz. 

O laboratório como novo lar

Com a bolsa de estudos, que tem duração de três meses, Rômulo vai atuar nas pesquisas para mapear o novo coronavírus. Por isso, ele precisou dar uma pausa no doutorado na Califórnia, nos EUA, onde estuda chikungunya. "Recebi essa oportunidade com muita felicidade. Me candidatei", diz ele, que tem o laboratório como seu novo endereço. "Minha área é entender aspectos de como o vírus funciona, como o sistema imunológico reage. Médicos estão associando os quadros graves como uma resposta exagerada do sistema imune."

'Brasil tem defasagem grande de testes'

Com mais de 55 mil mortos pela pandemia de coronavírus no Brasil, Rômulo Neris observa com tristeza a forma como a prevenção da doença está sendo conduzida no país. "A gente não tem nenhum tratamento, não tem nenhuma vacina eficiente. Se a gente for olhar para países que atravessaram bem a pandemia, são os que adortaram praticas do isolamento social. Isolamento massivo da população. Isso tudo alinhado com protocolos rígidos de testagem, que infelizmente são os dois aspectos que o Brasil não tem conseguido concluir com eficiência. O Brasil tem uma defasagem muito grande de testes, o que leve uma subnotificação elevada dos casos", avalia.

Família é a base do sucesso

Nas redes sociais, Rômulo escreve sobre medidas de prevenção e endossa a luta contra o racismo. "Há quase 10 anos trabalho com uma série de vírus que circulam em território nacional. Muita gente comenta que é uma idade nova para um indivíduo se tornar doutor", brinca o cientista, que, aos 27 anos, enche a casa de alegria. "É legal ver como a família tem um papel fundamental numa formação de sucesso. Não sei se sou o orgulho da família, mas, de fato, sou um dos orgulhos", comemora.

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Rômulo Neris Daniel Castelo Branco

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