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Favela por ela mesma: voluntários imprimem apostilas para crianças sem acesso à Internet

Projeto Educação na Quarentena ajuda alunos da rede municipal no Morro dos Prazeres. 'Muitos pais não têm sequer telefone', explica a idealizadora

Educação na Quarentena, no Morro dos Prazeres, leva apostilas aos alunos do município
Educação na Quarentena, no Morro dos Prazeres, leva apostilas aos alunos do município -
Na teoria, funciona: a secretaria municipal de Educação envia apostilas escolares para os pais de alunos via Whatsapp; os responsáveis imprimem e as crianças fazem os exercícios em casa, enquanto as escolas seguem fechadas. Na prática, o acesso ao material é uma verdadeira saga para quem não têm acesso à Internet, ou mesmo telefone celular. No Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, o projeto Educação na Quarentena preenche a lacuna com voluntários que fazem a impressão das apostilas, distribuídas para mais de 300 crianças. 
O projeto é o que tem aliviado a rotina e o bolso de Daniele Batista, mãe de uma menina de 13 anos e gêmeas de nove. "Eu sou mãe de três meninas, moro de aluguel, não tenho computador em casa, nem impressora. Eles mandam um link pelo Whatsapp da escola. Imprimir para cada um dos meus filhos sairia muito caro. Duas das minhas filhas têm problema de aprendizado, hiperatividade; outra, tem problema de visão. Então não tinha ninguém para ensinar. Esse projeto tem me ajudado bastante, porque dá a apostila e ainda explica, tira as dúvidas", celebra Daniele. 
O Educação na Quarentena foi idealizado por Janice Delfim, 37 anos, moradora dos Prazeres e ativista social desde os 16. O projeto começou com os amigos do sobrinho, e agora já alcança 313 crianças da favela. "Vi que alguns amigos do meu sobrinho não estavam fazendo as atividades da escola porque não tinham acesso à apostila. Foi quando eu comecei a pensar no que eu poderia fazer. A secretaria de Educação manda para a escola, e cada escola coloca nos grupos de Whatsapp a apostila para os pais imprimirem. Mas muitos responsáveis nem têm telefone, ou, quando têm, não conseguem acesso à Internet. Precisam acessar na casa da patroa, algo do tipo", explica Janice, que conta com a ajuda de voluntários, muitos deles as próprias mães dos alunos.
"As doações vêm através de amigos que têm doado. Os voluntários são moradores da comunidade, que ajudam a montar os kits. A gente arrecada fundos para comprar folha e cartucho de impressora. A impressora, por exemplo, foi doada por uma professora".
Educação na Quarentena - DIVULGAÇÃO
Aula online não chega em parte dos alunos
O projeto ganhou a ajuda de voluntários pedagogos, que criaram um planejamento educacional paralelo para complementar os estudos das crianças. Para Janice, há um gargalo entre o que é distribuído pela rede municipal e o que chega nas casas das crianças da favela. "A apostila é associada às aulas. Como vou dar a apostila da secretaria de Educação, uma vez que essas crianças não têm contato com as videoaulas? Estão bombeardeando com conteúdo, mas nossas crianças não têm como assistir videoaulas. Hoje a gente usa algumas coisas da apostila do município, mas temos atividades orientadas por professores".
Em nota, a secretaria municipal de Educação afirmou que "está oferecendo diversos recursos e atividades complementares para os alunos estudarem durante o período de suspensão das aulas em função da pandemia. Inclusive com a distribuição de material impresso". "Até o momento, já foram entregues mais de 200 mil materiais pedagógicos impressos para os alunos da Rede Municipal de Ensino desde o início da pandemia. Entregues nas Coordenadorias Regionais de Educação e por parcerias: em associações de moradores, pelos Correios e com o Conselho Tutelar. Ou seja, o material didático está disponível para todos, os com acesso à internet e computador/celular e para os que não têm acesso".
Educação na Quarentena, no Morro dos Prazeres, leva apostilas aos alunos do município DIVULGAÇÃO
Educação na Quarentena DIVULGAÇÃO

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