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Mais um dia sem respostas

Funcionários do hospital de campanha do Maracanã protestam contra falta de salários e respostas do Iabas

Os manifestantes exibiram cartazes em que denunciaram a falta de pagamento e pediram explicações
Os manifestantes exibiram cartazes em que denunciaram a falta de pagamento e pediram explicações -
Com faixas, coro cobrando salários e buzinaço, um grupo com cerca de 100 profissionais da área da Saúde participou, ontem, de ato na porta Hospital de Campanha do Maracanã. Contratados pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (IABAS), os trabalhadores se posicionaram em novo ato para cobrar salários atrasados desde maio e por uma explicação que justifique o fechamento às pressas da unidade. Segundo denúncias de funcionários, a organização social vem acionando alguns funcionários para dar baixa na carteira, mas a grande maioria foi pega de surpresa com o desmonte da unidade.
O novo ato, que começou por volta das 10h, foi acompanhada de perto por quem passava no local. Motoristas solidarizados com a situação dos profissionais realizaram um buzinaço na porta do hospital de campanha. De acordo com profissionais ouvidos pelo DIA, no domingo, o último paciente foi transferido do hospital contrariando suas condições graves. 
"O encerramento do hospital foi como a morte por covid-19. Foi de uma hora para a outra, não se teve tempo de luto, de se velar esse corpo. Tempo do ritual e elaboração da passagem desse momento para uma nova fase. Os profissionais vão ficar mais abalados por não conseguirem vivenciar essa experiência da conclusão dessa luta. Não tem uma despedida. Não tem um encerramento de processos. Fica uma sensação de vazio", disse Adriane d'Anniballe, psicóloga que integrava o grupo de trabalho na unidade. 
No ato, manifestantes chegaram a bloquear duas faixas da Rua Eurico Rabelo, em frente ao hospital de campanha. Além das faixas com dizeres como "Não queremos só aplausos", "Cadê nosso pagamento" e "Respeito", o grupo contou com o apoio de motoristas que buzinavam em tom de protesto. Um morador do bairro, chegou a participar da sua janela batendo panelas.

"É um absurdo o que eles vêm fazendo com a gente. Nos prontivemos a salvar vidas numa situação de guerra e agora isso? É um jogo de empurra e nós ficamos sem resposta e sem salários", ser queixou a enfermeira Nilza de Azevedo, 57 anos, que trabalha na unidade desde a abertura, em maio.

Moradora de Anchieta, a técnica de enfermagem, Suelen Silva, 30 anos, fala da falta de condições nos últimos dias de plantão. "Se dependesse deles, ficaríamos usando a mesma máscara por quase 15 dias. Ouvi relatos de colegas que trabalharam nesse fim de semana que faltou até remédio, porque já não tinha ninguém na farmácia da unidade", conta.

Na sexta-feira, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) fez a transferência dos pacientes do Hospital de Campanha do Maracanã e de São Gonçalo para outras unidades hospitalares por conta do término do contrato com a organização Iabas.

A juíza Aline Maria Gomes Massoni da Costa, da 14ª Vara da Fazenda Pública do Rio, intimou o Estado do Rio para que cumpra decisão da 25ª Câmara Cível e mantenha em funcionamento os hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo. Caso a determinação seja descumprida, o governador Wilson Witzel e a Secretaria de Saúde do Rio podem ser multados em R$ 2 mil, por hora.

Críticas ao descaso na pandemia

A enfermeira Nilza de Azevedo, que foi contratada para o hospital de campanha em maio, classificou de "absurdo" o descaso com os profissionais. "Nos prontificamos a salvar vidas numa situação de guerra, e agora isso? É um jogo de empurra e nós ficamos sem resposta e sem salários", se queixou Nilza, 57 anos. Já a técnica de enfermagem Suelen Silva, de 30, denunciou a falta de condições de trabalho nos últimos dias de plantão. "Se dependesse deles, continuaríamos usando a mesma máscara por 15 dias", disse.

A SES transferiu os pacientes do Maracanã e de São Gonçalo para outras unidades em razão do término do contrato com o Iabas.

OZZ - Coordenada 2

Em um impasse judicial desde maio com o governo estadual do Rio, a empresa OZZ Saúde Eireli, responsável por gerir o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), alerta para risco de colapso e paralisação dos atendimentos emergenciais por conta da interrupção dos pagamentos. “A dívida da Secretaria Estadual de Saúde do Rio com a empresa já passa de R$ 50 milhões. Investimos mais de R$ 30 milhões de capital próprio para fazer um estoque e estamos negociando com os fornecedores. Não podemos continuar prestando o serviço sem receber, isso gera até um enriquecimento ilícito do estado”, ponderou Eduardo Zazo, diretor da OZZ. Segundo Zazo, a decisão que determinou que os pagamentos fossem interrompidos, devido a possíveis fraudes contratuais, veio de um erro no relatório da secretaria. “Estamos aguardando que a Controladoria do Estado refaça os cálculos, nos colocamos à disposição”. Por nota, a SES informou que o contrato está sendo auditado pela pasta por vício de finalidade em valores de serviços prestados, insumos e bancos de horas. Além disso, estuda a possibilidade de fazer o pagamento das folhas de pagamento e insumos.