Vida interrompida por guerra sem fim

Com lágrimas nos olhos, Diego de Jesus Barbosa, 30 anos, relembra os últimos momentos ao lado do irmão, Caio de Jesus Barbosa. O músico e estudante de Direito, de 24 anos, morreu na noite de anteontem, após ser baleado nas costas, enquanto dirigia, atingido pelo fogo cruzado entre policiais militares e traficantes, que tentavam retomar o controle da venda de drogas no Morro da Barão, na Praça Seca, Zona Oeste do Rio. Ferido, ele perdeu o controle do veículo e acabou batendo em uma árvore.

A mensagem pregada pelo jovem, na noite de domingo, em uma igreja evangélica, parecia ser o presságio da tragédia. "A palavra que ele levou à igreja foi sobre a dor das pessoas que estão em luto. Parecia que ele já estava anunciando esse fato. Hoje o luto está no nosso lar", diz Diego.

Segundo parentes, Caio voltava do barbeiro onde se preparava para uma sessão de fotos, ontem, para o álbum de casamento, que aconteceria em setembro, com a jovem Rebeca Moreira, de 23 anos.

A moça ficou em estado de choque."Ela está muito abalada com tudo isso. Eles iriam morar perto de mim. A única coisa que a gente pede é que quem fez isso pague na justiça. Meu irmão nada tinha com essa guerra", desabafou inconformado o irmão mais velho.

Caio era o segundo de quatro irmãos. Os pais estão muito abalados com a perda do filho, que trabalhava como motorista de aplicativo, pregava e tocava na igreja. O enterro será hoje, às 9h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.

MARCAS DE UMA GUERRA SEM FIM

As marcas de tiros nas paredes e janelas dos imóveis próximos às comunidades São José Operário e Barão mostram o retrato da rotina de violência na região da Praça Seca. Há anos, milicianos e traficantes travam uma intensa guerra pelo controle de território. 

Ontem, a Polícia Militar ocupou a região. Agentes do Bope vasculharam becos e vielas, mas nada foi encontrado. Em um imóvel havia marcas da tortura sofrida por uma mulher, acusada pelo tráfico de ter se relacionado com homens ligados à milícia.  

A PM disse que as ações na região seguem por tempo indeterminado. Sobre o fato do dia anterior, o porta-voz da corporação, coronel Mauro Fliess, deu um relato diferente da família de Caio de Jesus: 

"Fomos recebidos por disparos oriundos dos marginais. Houve um revide e essa vítima teria descido do alto da comunidade num veículo escuro, em alta velocidade, com o farol alto aceso".