O novo coronavírus é capaz de invadir o cérebro e provocar uma infecção potencialmente mais grave e letal do que a registrada nos pulmões. Esta é a conclusão de dois trabalhos científicos brasileiros assinados por especialistas da UFRJ, Fiocruz e Instituto D'or, publicados nesta segunda-feira, em plataformas de pré-publicação. Um terceiro trabalho, da Universidade de Yale, publicado na quarta-feira passada, chega a conclusões semelhantes e complementares.
O principal alvo do coronavírus é o pulmão, mas ele também ataca os rins, o fígado, vasos sanguíneos e o coração. Metade dos pacientes apresenta sintomas neurológicos, como confusão mental, ausência de olfato, delírio e risco aumentado de AVC, sugerindo que o vírus ataca também o cérebro. "Nosso laboratório trabalha com o cérebro e o sistema nervoso central", afirmou o neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ e do Instituto D'or.
O grupo teve acesso aos resultados de uma necropsia feita em uma criança de 1 ano e 2 meses vítima da Covid-19. "Essa é a primeira evidência que temos da presença do vírus dentro do cérebro", constatou Rehen. "Os estragos são óbvios, há uma clara destruição dos tecidos." O segundo estudo, feito a partir das observações in vitro, não foi capaz de identificar a replicação do coronavírus dentro das células cerebrais, mas, ficou constatada uma ligação do vírus com as células que protegem o cérebro contra agentes infecciosos. A forte reação inflamatória causada para a defesa do organismo seria responsável pelas alterações neurológicas encontradas pelos pesquisadores.
