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Megaoperação mira lavagem de dinheiro da maior facção criminosa do estado

Policiais cumprem 28 mandados de busca e apreensão contra 12 criminosos e 35 empresas, em cinco estados

Eletrônicos estão sendo apreendidos pelos policiais
Eletrônicos estão sendo apreendidos pelos policiais -
A Polícia Civil e o Ministério Público estadual (MPRJ) fazem, desde as primeiras horas da manhã desta quinta-feira, a Operação Overload II, contra um esquema de lavagem de dinheiro da facção Comando Vermelho (CV), a maior do estado. São 28 mandados de busca e apreensão contra 12 pessoas e 35 empresas, que estão sendo cumpridos em cinco estados (Rio, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná).
De acordo com as investigações, em pouco mais de um ano, a organização criminosa movimentou cerca de R$ 200 milhões. Chefes do bando participam desse esquema mesmo presos, alguns em presídios federais, repassando ordens aos subordinados.
Dentre os alvos dos mandados, que foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Regional de Madureira, estão dois chefões do CV, Elias Pereira da Silva, conhecido como Elias Maluco, e Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Os dois estão presos em um presídio federal em Catanduvas, no Paraná.
Marcinho VP atuava no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, quando foi preso em 1996, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Elias Maluco agia no Alemão e também no Complexo da Penha e foi capturado na Favela da Grota (Alemão), em setembro de 2002. Ele foi condenado a 28 anos de prisão como o mandante da morte do jornalista Tim Lopes, em junho daquele ano, depois do profissional de ter sido pego na Vila Cruzeiro (Penha) e levado à Grota pelos traficantes.
INVESTIGAÇÃO
As investigações para a operação começaram a partir da apreensão de um celular da facção no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, em 2014. No aparelho, os agentes encontraram diversas mensagens entre os traficantes, onde foram indicadas pelo menos 28 contas bancárias de pessoas e empresas, para ocultar, circular e dissimular a origem ilícita do dinheiro da quadrilha.
"A investigação realizada desarticulou financeiramente a organização criminosa autodenominada Comando Vermelho, responsável pelas recentes cenas de guerra por disputa de territórios vivenciadas pela população do Estado do Rio de Janeiro, uma vez que o fortalecimento do seu poderio bélico está diretamente vinculado aos altos valores auferidos pelas suas atividades ilícitas, o que tende a aumentar com as recentes decisões judiciais que vedam as ações policiais em comunidades dominadas pelo tráfico", destaca o delegado Felipe Curi, chefe do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), que comanda a operação.
Veja os outros denúncias na ação, além de Elias Maluco e Marcinho VP:
. Eliézer Miranda Joaquim, o Criam: preso no Complexo de Gericinó (Bangu), de onde recebe ordens de Elias Maluco
. Felipe da Silva Guimarães Junior, o Zangado
. Gustavo Vieira de Oliveira
. Danilo Flores da Silva
. Liliane Laurinda Rocha: sócia da Expoarte Fast Money
. Liz Lelis Rocha: sócia da Liliz Brazilian Fast Money
. Carolina Melissa Ribas da Costa: sócia Vest Tur Agência de Viagens
. Maria Aparecida Campos de Oliveira: sócia da Vest Tur Agência de Viagens
. Paulo Morinigo: dono da Paulo Morinigo ME
. Vitor Ivanovitch Costite: dono da Vitor Ivanovitch ME
De dentro da cadeia, Criam compra drogas e armas, dando ordens a comparsas da facção. Ele é responsável pela parte financeira do bando e por repassar parte dos lucros da quadrilha à família de Elias Maluco.
Segundo o MPRJ, Gustavo Vieira e Danilo Flores receberam em suas contas depósito do CV, mesmo sabendo da origem ilegal dos valores.
Já Liliane Laurinda e Liz Lelis também permitiam a utilização de contas pertencentes às suas empresas para o direcionamento de valores da facção, recebendo depósitos em espécie e fazendo circular e/ou movimentar os recursos ilegais em outras contas bancárias, através de transferências.
Carolina Melissa e Maria Aparecida Campos, permitiram a utilização de contas pertencentes à empresa delas, que fechou em 2015, para circular dinheiro da quadrilha.
O mesmo foi visto pelos empresários Paulo Morinigo e Vitor Ivanovitch, sendo certo que havia circulação de valores oriundos do esquema criminoso entre as contas da Expoarte, Liliz Brazilian, Vest Tur, Paulo Morinigo ME e Vitor Ivanovitch ME.
LAVAGEM
Durante a investigação, os agentes tiveram acesso à prestação de contas do bando em várias comunidades. Apenas na Baixada, o faturamento mensal da facção chega a R$ 7,2 milhões. Cerca de 20% desse valor é repassado aos líderes da quadrilha.
Através dos dados obtidos, descobriu-se que a "lavagem" acontece para dar "legalidade" ao valor obtido com o tráfico de drogas, compra e venda de armas de fogo e munições, roubos de carga, de veículos, a estabelecimentos comerciais, a instituições financeiras, dentre outros crimes.
As investigações apontaram ainda que os criminosos usam contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas para fazer depósitos de grandes valores. Depois, eles retiram o montante dessas contas como se fosse valor "legal".
As empresas envolvidas no esquema ficam no Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Algumas têm sede, com vários funcionários, e recebiam depósitos de valores diretamente dos traficantes. A diferença da renda declarada oficialmente e o montante depositado era bem grande, chegando a milhões de reais por ano.
"No transcorrer da investigação, foram detectadas inúmeras negociações de vendas de armas e drogas pela organização criminosa, sendo identificadas diversas contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na transação", conta Curi.
Os agentes conseguiram o bloqueio dessas contas, que terão o valor apreendido.
Os mandados estão sendo cumpridos nas seguintes cidades:
. Rio de Janeiro (RJ)
. Belo Horizonte (MG)
. Campo Grande (MS)
. Ponta Porã (MS)
. Curitiba (PR)
. Araucária (PR)
. Guarapuava (PR)
. Ponta Grossa (PR)
. São José dos Pinhais (PR)
. Mafra (SC)
PRIMEIRA FASE
A primeira fase da Overload, realizada em junho de 2015, levou 61 traficantes que fazem parte da liderança do CV à condenação. Os alvos agem principalmente em comunidades da capital, Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo.
Outros integrante da facção que fazem parte do esquema:
. Elizeu Felício de Souza, o Zeu: condenado por ter matado Tim Lopes
. Edson Silva de Souza, o Orelha: chefe do tráfico no Alemão
. Eduardo Fernandes de Oliveira, o 2D: uma das lideranças do Alemão
. Alcindo Luiz Fernandes, o Da Cabrita: liderança no Complexo do Caramujo, em Niterói
. Luiz Cláudio Machado, o Marreta: age no Complexo do Lins
. Anderson Sant'Anna da Silva, o Gão: atua no Morro Faz Quem Quer (Rocha Miranda)
. Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira: age no Complexo do Chapadão
. Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu da Mineira: atua no Complexo do Chapadão
A ação de hoje é comandada pelo DGPE e tem o apoio do Departamento de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR), da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) e da 25ª DP (Engenho Novo).
O MEIA tenta contato com os citados na reportagem.
Eletrônicos estão sendo apreendidos pelos policiais Reprodução
Operação acontece em cinco estados, incluindo o Rio Armando Paiva / Agência O DIA