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Marqueteiro une Russomanno a Bolsonaro

A indicação de Mouco passou pelo crivo do ministro das Comunicações, Fábio Faria

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Um integrante da campanha de Celso Russomanno une o candidato a prefeito de São Paulo ao ex-presidente Michel Temer e ao presidente Jair Bolsonaro. O marqueteiro Elsinho Mouco, que trabalha com o ex-mandatário há mais de 15 anos e ajudou a negociar sua indicação como chefe da delegação do governo brasileiro em viagem ao Líbano em agosto, é o responsável pela comunicação de Russomanno em sua terceira tentativa de concorrer à Prefeitura da capital paulista.

Derrotado no primeiro turno nas duas últimas eleições municipais, após liderar as pesquisas de intenção de voto, Russomanno ouviu um conselho do presidente Jair Bolsonaro: sua comunicação falhou e seria preciso montar uma blindagem contra a esperada ofensiva dos adversários.

A indicação de Mouco passou pelo crivo do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten entrou na campanha depois que a equipe já estava montada e deve atuar como uma interface entre a campanha e o Planalto. Credita-se a ele o fato de que Russomanno passou a dar mais ouvidos ao seu marqueteiro. Wajngarten e Mouco estavam juntos na última segunda-feira, quando Bolsonaro explicitou seu apoio ao deputado.

A interlocutores, o secretário tem dito que a campanha do deputado está atrasada pois foi a última a ser confirmada. No início da semana, se queixou da falta de uma identidade visual para Russomanno. Uma das primeiras sugestões de Wajngarten foi a associação total entre candidato e presidente, estratégia que até a semana passada não estava definida. Além disso, defende que Russomanno seja blindado para conseguir manter os índices de intenção de voto e evitar que se repita a derrocada das últimas campanhas.

O alinhamento entre o presidente e a campanha ficou claro no jingle de Russomanno, que cita Bolsonaro três vezes, inclusive no refrão. "Com Russomanno e Bolsonaro, quem ganha é a nossa cidade", diz um trecho da música (mais informações nesta página) A frase é muito semelhante ao slogan da campanha, segundo o qual São Paulo sai ganhando com apoio presidencial. Já no refrão, repetido duas vezes, consta o trecho "e Bolsonaro apoiando".

Aval

Antes de aceitar o emprego, Mouco consultou e recebeu o aval do ex-presidente Michel Temer (MDB), de quem foi o homem forte da comunicação e redator dos discursos no período de transição e mandato presidencial. Em agosto, Elsinho já tinha participado das tratativas entre Temer e Bolsonaro que resultaram na escolha do emedebista como chefe da missão brasileira ao Líbano após explosões na zona portuária de Beirute. O ex e o atual presidente, aliás, tem conversado sobre política nos bastidores.

Foi a experiência de gerenciar crises que pesou na contratação de Mouco. Foi ideia dele, por exemplo, o pronunciamento no qual Temer finalizou dizendo com o dedo em riste "Não renunciarei". Contratado pelo MDB, Elsinho também foi um dos criadores do programa Ponte para o Futuro e autor de ideias como slogan "Bora, Temer" para substituir o "Fora, Temer" após impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Em 2017, o publicitário foi acusado por Joesley Batista em sua delação premiada de ter recebido R$ 3 milhões em propina da JBS na campanha de 2010 e outros R$ 300 mil em espécie em 2016 a pedido de Temer, o que Mouco nega. Na ocasião, o marqueteiro disse ao Estadão que o empresário o contratou com dois objetivos: eleger o irmão José Batista Júnior em Goiás e "derrubar" Dilma.

"A principal participação do presidente Bolsonaro no nosso programa é avalizar as propostas do Russomanno para São Paulo. Além, evidentemente, de uma longa história de amizade e convivência entre os dois", disse Mouco.

O marqueteiro ganhou a simpatia do presidente em 2018 ao manifestar apoio à sua campanha no segundo turno. Ele justificou seu posicionamento contra o PT por causa da oposição feita por aliados de Haddad ao governo Temer.

O apoio de Bolsonaro a Russomanno serviu de estímulo para que o PTB, que integra a base de apoio bolsonarista, abandonasse o projeto de candidatura própria nas eleições deste ano. Os partidos já estavam coligados nas eleições de 2012 e 2016. "O PTB é da base de apoio do presidente, assim como o Republicanos, então nós já temos um trabalho naturalmente em conjunto, o que gerou uma natural aproximação", afirmou Marcos da Costa (PTB), vice na chapa de Russomanno e ex-presidente da OAB de São Paulo.