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Especialista fala sobre falta de investimento em infraestrutura em hospitais da rede pública

'Não surpreende que a gente tenha bombas relógios', diz Chrystina Barros após incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso

Incendio no Hospital Federal de Bonsucesso. Bombeiros, PM e Guarda Municipal no local.
Incendio no Hospital Federal de Bonsucesso. Bombeiros, PM e Guarda Municipal no local. -
Rio - O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) já havia sido notificado, pelo menos duas vezes, sobre os riscos de incêndio. A especialista em gestão de Saúde e pesquisadora da UFRJ, Chrystina Barros, esteve no local na manhã desta quarta-feira e fez um alerta sobre a falta de investimento em infraestrutura em hospitais públicos.

"A gente infelizmente viu documentos que a própria direção do hospital havia informado os defeitos estruturais importantes que podiam comprometer a segurança. A gente sabe que nos últimos anos aconteceram três ou quatro incêndios e que não foram só em hospitais públicos, mas também em hospitais privados. É preciso que a fiscalização seja séria e responsável. A falta de investimento em infraestrutura pública ao longo de tempo não surpreende que a gente tenha bombas relógios armadas", disse a especialista, que depois completou:
"Que esse hospital possa servir de modelo para que a gente tenha um diagnóstico correto. O gestor sofre muito porque ele sabe o que tem que fazer, mas não está na mão dele a decisão, vem de cima. Essa é a maior angústia de nós que trabalhamos na saúde".
O secretário de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Leandro Monteiro, afirmou que o HBF está com duas notificações e dois autos de infrações dos bombeiros e não tinha certificado de vistoria da corporação.
A Superintendência Estadual do Ministério da Saúde informou que 179 pacientes foram transferidos, 37 receberam alta, 11 ainda aguardam transferência, e 03 pacientes vieram a óbito. Questionada sobre o riscos que o hospital ainda pode oferecer, Chrystina Barros diz que nesse momento é preciso que se avalie as causas, mas também as condições de todos os prédios. 
"A gente sabe que o bloco 1 tinha áreas importantes como almoxarifado, área de imagem, laboratório, que são fundamentais para todos os outros anexos. Então, assim que haja um retorno dessas atividades de alguma forma, esse hospital vai precisar desenvolver muitas soluções alternativas para que volte a atender pacientes, mas desde que haja também condições de segurança. É preciso avaliar principalmente sua parte elétrica, que geralmente é a origem das maiores causas de incêndios geradas causa da má conservação".
Para Chrystina, os outros prédios do hospital precisam ser avaliados para saber se são capazes de funcionar neste momento.

"Cada um deles tem uma característica. Um anexo é para ambulatório, outro é para a parte administrativa e de suporte. Então, é preciso que haja um estudo para que não se crie uma estação improvisada, que inclusive pode ser de maior risco para futuros pacientes a serem atendidos por lá. Não sabemos se outros blocos podem ter uma estrutura intermediária. Pequenos almoxarifados, podem ser feito uma outra logística para exames, por exemplo. Mas não adianta fazer isso como um remendo se não houver segurança. O principal ponto agora é entender as causas do incêndio no bloco 1 e entender os riscos dos outros blocos para que então se replanejem uma possível abertura no tempo adequado e certo".