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Sem democracia

Tráfico proíbe moradores de apoiarem candidatos que não têm aliança com facção

Especial Núcleo de Investigação - Candidatos que estão sofrendo ameaças.
Especial Núcleo de Investigação - Candidatos que estão sofrendo ameaças. -

'Me sinto invadida e sem poder de escolha, como moradora e eleitora, não podendo escolher em quem votar, escolher quem eu quero apoiar, quem eu quero que gere mudança para a minha cidade. Fico constrangida com essa situação de não ter poder de escolha'. Esse foi o depoimento de uma moradora da comunidade do Carvão, em Itaguaí, na Baixada Fluminense, ao contar que traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) não estão permitindo moradores de exercerem a democracia durante o período eleitoral.

O apoio de organizações criminosas a candidatos a vereador e a prefeito, fazendo curral eleitoral e proibindo a circulação dos adversários e seus apoiadores no território onde eles atuam, está sendo investigado pela força-tarefa da Polícia Civil. Cinco candidatos estão sendo investigados no estado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco), que já recebeu mais de 30 denúncias sobre essa relação.

Segundo a moradora de Itaguaí, ela foi reprimida próximo da sua casa. "Eu estava voltando para casa do trabalho, com uma praguinha na blusa, e me abordaram mandando eu tirar. Não pude demonstrar apoio para o meu candidato", contou.

Enquanto moradores são reprimidos, candidatos que fizeram alianças com os traficantes podem circular normalmente pela comunidade, de acordo com a jovem. "Já vi outros candidatos podendo atuar lá. Mas eu não posso falar nada, não posso bater de frente."

Campanha prejudicada

A Polícia Civil tem recebido diversas denúncias sobre a relação entre criminosos, principalmente milicianos, e candidatos da região da Baixada. Concorrendo à Prefeitura de Queimados, Zaqueu Teixeira (PSD) contou que, além de já ter tido agenda de campanha cancelada pela milícia, que não permitiu que ele se reunisse com apoiadores, ele já foi ameaçado. "Estava marcada uma reunião e, quando cheguei lá, não tinha ninguém. Fui me informar do que tinha acontecido e me contaram que foi uma pessoa lá de moto e disse que não podia ter aquela reunião de candidato. As pessoas ficaram com medo e foram embora."

Mesmo filme na Zona Oeste

Concorrendo a uma cadeira na Câmara de Vereadores da capital, Sancler Mello não coloca adesivos ou bandeiras nos bairros do Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena, porque os milicianos não permitem. Segundo ele, a organização criminosa só permite a campanha do vereador, candidato à reeleição, Marcello Siciliano. "No Terreirão, no Recreio, mandaram tirar todos os adesivos de outros candidatos. Na Cascatinha, em Vargem Grande, você não consegue nem entrar para apresentar a proposta. E em Vargem Pequena, quando tem alguém bandeirando por ali, aparecem homens de carro e dizem que não pode ficar ali."

Especial Núcleo de Investigação - Candidatos que estão sofrendo ameaças. Luciano Belford/Agencia O Dia
Especial Núcleo de Investigação - Candiados que estão sofrendo ameaças.
Especial Núcleo de Investigação - Candiados que estão sofrendo ameaças.