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Carrefour é fechado em Caxias e manifestantes protestam pela morte de João Alberto

Ato foi pacífico e permaneceu na parte de fora do mercado, que contou com com forte segurança policial

Gabriel Montsho, de 20 anos, integra o Movimento Negro Perifa Zumbi e foi um dos líderes da manifestação pacífica no Carrefour de Duque de Caxias
Gabriel Montsho, de 20 anos, integra o Movimento Negro Perifa Zumbi e foi um dos líderes da manifestação pacífica no Carrefour de Duque de Caxias -
Na véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, um soldador negro, foi espancado e assassinado por dois vigilantes brancos em um Carrefour de Porto Alegre (RS). Desde então, manifestações antirracistas eclodiram em unidades do mercado em todo o Brasil. Neste domingo, foi a vez da loja da Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, receber um ato pacífico contra o racismo. Aberto pela manhã, o Carrefour foi fechado por volta das 14h pela organização do estabelecimento, que contou com uma escolta policial robusta.
A primeira reação das pessoas que chegavam para fazer compras foi de espanto, por não poderem entrar. Dois agentes da PRF já estavam no local e uma fila se formava na porta do Carrefour. O ato, porém, ainda não tinha começado e não havia concentração de manifestantes. O protesto começou por volta das 14h30, com pessoas reunidas ao redor de um carro de som, por fora da grade que cerca o estacionamento do local. À essa altura, novas viaturas policiais já estavam na porta do estabelecimento.
Gilmar Treveso, de 61 anos, foi uma das pessoas que foram ao mercado, mas não conseguiram fazer suas compras. Para ele, porém, a manifestação contra o racismo é uma atitude correta, desde que seja pacífica. O motorista particular aposentado lembrou de um caso em que foi vítima de preconceito:
“Eu trabalhava no bairro do Flamengo, estava arrumadinho, camisa branca e gravata. O porteiro do prédio me falou que o elevador de serviço estava parado, me mandou ir pelo social. Quando abriu a porta do elevador, um morador dali botou a mão no meu peito e me empurrou pra fora. Disse que ali eu não podia entrar. Ele viu a minha cor”, contou.
“Eu fiquei até sem graça, nem contei pra minha família. Você vai chegar em casa, contar pra tua mãe... Foi uma coisa que eu guardei pra mim mesmo. Até hoje isso me marcou, ficou entalado. Fiquei paralisado. Você se pergunta, será que isso tá acontecendo mesmo?”, completou Treveso.
O professor Marroni Alves, um dos organizadores da manifestação, pertence ao grupo Educafro, que atua para promover a inclusão da população negra e a transformação social do Brasil, com fundamento cristão e franciscano. Ele foi o primeiro a discursar e ressaltou a importância de movimentos de resistência:
“A gente tem que começar a mexer na consciência das pessoas, pra tirá-las da inércia. A Educafro já colocou advogados à disposição da família do João Alberto e de qualquer outra pessoa que sofreu racismo. A grande coisa que precisamos começar a fazer, a partir desse momento, é denunciar fortemente o racismo. Infelizmente, está sendo necessário mais e mais mortes de negros para isso acontecer”, afirmou.
 
O jovem Gabriel Montsho, do Movimento Negro Perifa Zumbi, falou em seguida e lembrou de episódios anteriores de racismo, como o de Pedro Gonzaga, de 19 anos, morto por um segurança do mercado Extra, na Barra da Tijuca, em fevereiro de 2019:
“Quem aqui não lembra do rapaz que foi enforcado até a sua morte em frente ao supermercado Extra? Quem aqui não lembra do George Floyd, que morreu nos Estados Unidos e aconteceu toda aquela onda de manifestações antirracistas no mundo todo? O que todas essas pessoas tinham em comum, além do tom de pele, é que elas foram mortas por policiais e seguranças das empresas. Elas estavam colocando as empresas privadas acima da vida do ser humano. E isso, nós vemos cotidianamente”, ressaltou.
O professor Marroni Alves explica que a Educafro cobra um “pedido público de desculpas, de reconhecimento do racismo que tem dentro da empresa”. Ele sugere que seja feito um trabalho de capacitação com os funcionários do Carrefour:
“A gente quer que o Carrefour capacite as pessoas para trabalharem nos seus estabelecimentos e não serem racistas. Aprenderem o que é o racismo e que o racismo existe. Mas eles tem que se abrir para isso, reconhecer que têm funcionários, empresas terceirizadas racistas, que não são preparadas. O programa de training evita coisas como o assassinato de mais um negro, o João Alberto”, finalizou.
*Estagiário sob supervisão de Bruna Fantti