Quase seis décadas depois, vítima do Gran Circo ainda luta por justiça

Com primeiro processo indeferido, Zezé Pedroza deu entrada em outro, desta vez incluído na lista de ações especiais de direitos humanos da ONU

O presidente, o primeiro ministro e o governador do Rio, em visita ao no Hospital Antonio Pedro, diante do leito da então menina Zezé
O presidente, o primeiro ministro e o governador do Rio, em visita ao no Hospital Antonio Pedro, diante do leito da então menina Zezé -
SÃO GONÇALO - No dia em que o incêndio do Gran Circo Norte-Americano em Niterói completa 59 anos, em 17 de dezembro, não só o país relembra uma de suas maiores tragédias, que matou 503 pessoas e feriu outras 800, mas principalmente a professora Maria José de Oliveira Pedroza, uma das vítimas graves. O ocorrido jamais será esquecido por ela, que sofreu queimaduras de terceiro grau em 90% do corpo quando tinha apenas 11 anos e carrega as marcas até hoje. A despeito de todas as dores e cicatrizes, Zezé resistiu, cresceu e se tornou professora, esposa, mãe, avó, bisavó e, desde 2016, escritora. E ainda luta na justiça com um processo - respaldado pela Organização das Nações Unidas - que permanece estagnado. 
Em 1962, sua mãe deu entrada em um processo indenizatório na Comarca de Niterói, onde foi chamada para diversas audiências. No local hoje funciona a biblioteca judiciária. Elas buscavam um suporte financeiro, já que, mesmo não totalmente incapaz, a moça ficou com membros atrofiados e outras sequelas limitantes. Em 1976, as duas procuraram pelo advogado José do Egyto e pelo processo, mas não os encontraram. Empreenderam buscas durante anos por cartórios distribuidores de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro, porém em vão. Até que em 2016 Zezé Pedroza encontrou o processo e descobriu que havia perdido a causa, já que nenhum dos governos municipal, estadual e federal se responsabilizaram pelo incêndio na época, alegando que fora criminoso.
Maria José reclama não ter recebido auxílio do Fundo de Assistência às Vítimas do Incêndio em Niterói, decretado e divulgado no Diário Oficial de 19 de dezembro de 1961 pelo então governador Celso Peçanha. Contudo, a professora não desistiu e, com a ajuda de outro advogado, o processo foi refeito e incluído na lista de ações especiais de direitos humanos da ONU, onde adormece há dois anos. 
Hoje com 70 anos e sem desistir de seus direitos, Zezé Pedroza busca apoio governamental ainda em vida. “Foram tantas lutas! Tantas dores e perdas! Sempre fomos pobres, entretanto meu pai vendeu tudo o que tinha para salvar minha vida. Depois de tudo o que aconteceu comigo, não posso morrer sem ver concluída, de forma positiva, a justiça dos homens em minha história”, exclama.
Maria José de Oliveira Pedroza, uma das vítimas graves do incêndio, sofreu queimaduras de terceiro grau em 90% do corpo quando tinha apenas 11 anos e carrega marcas até hoje
Maria José de Oliveira Pedroza, uma das vítimas graves do incêndio, sofreu queimaduras de terceiro grau em 90% do corpo quando tinha apenas 11 anos e carrega marcas até hoje Divulgação