Maioria da Rede Municipal de Saúde do Rio está com salários atrasados

Profissionais de saúde contratados pela RioSaúde, que administra 180 das 326 unidades da rede, estão com o salário de novembro atrasado. A situação se repete em hospitais administrados por OSs, como Evandro Freire, Albert Schweitzer e Ronaldo Gazolla

Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, durante inauguração de UTI pediátrica no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Unidade está com pagamentos atrasados
Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, durante inauguração de UTI pediátrica no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Unidade está com pagamentos atrasados -
Rio - Em meio à saturação de leitos na Rede Municipal de Saúde com o aumento de casos da covid-19, o sindicato dos médicos estima que 22 mil funcionários estejam com salários atrasados. Profissionais de saúde contratados pela RioSaúde, que administra 180 das 326 unidades da rede, estão com o salário de novembro atrasado. A empresa pública administra 55,21% das unidades da Rede Municipal de Saúde. 
A situação se repete em pelo menos três Organizações Sociais: Cruz Vermelha Brasileira, CEJAM e SPDM. Confira abaixo a lista de unidades com salários atrasados, que inclui os hospitais Evandro Freire, Albert Schweitzer e Ronaldo Gazolla, este referência no tratamento de covid-19 no município.
Conforme antecipou a Coluna do Servidor, funcionários de hospitais geridos por OSs foram avisados por mensagens de WhatsApp, sobre a incerteza dos pagamentos do salário de novembro. O mesmo alerta foi feito em relação ao 13º salário. A Prefeitura apontava a antecipação de R$ 1 bilhão em receita de royalties como saída para o depósito da gratificação. A operação, porém, foi barrada pelo Tribunal de Contas, devido a impedimentos legais.
A Prefeitura informou em nota que a previsão é que os pagamentos sejam realizados até a semana que vem. "Representantes das Secretarias Municipais de Fazenda e de Saúde se reuniram para tratar do pagamento da Rio Saúde, empresa Municipal vinculada à SMS. As secretarias trabalham para equacionar a questão", diz o texto.
Só na Rio Saúde são 16 mil funcionários contratados que aguardam o pagamento referente ao mês de novembro e a segunda parcela do décimo terceiro. São Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Clínicas da Família e hospitais de referência, como os de Acari, o hospital de campanha do Riocentro e o Rocha Faria, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio.
O vereador Paulo Pinheiro (Psol), que compõe a Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio, cobraque a Prefeitura identifique dinheiro para priorizar o pagamento dos funcionários. A folha mensal de pessoal da RioSaúde é de R$ 80 milhões, segundo o parlamentar.
"A alegação da Prefeitura é que não há mais dotação orçamentária para a Saúde, mesmo ainda faltando quinze dias para acabar o ano.Várias OSs também estão sem pagamentos. As pessoas estão indo trabalhar em desespero. Não têm dinheiro para pagar o aluguel e as contas da casa", ressalta o vereador.
Contratos suspensos
Além dos atrasos, profissionais enfrentam incertezas por conta do encerramento dos contratos de trabalho com a RioSaúde no último dia 7, que ainda não foram renovados.
"Os contratos de quase 1/4 dos profissionais do Ronaldo Gazolla se encerraramA RioSaúde permaneceu inerte. Médicos, técnicos de enfermagem e enfermeiros estão trabalhando sem contrato. Alguns funcionários não estão indo à unidade por insegurança jurídica", alerta o presidente do Sindicato dos Médicos, Alexandre Telles.
A Câmara Municipal aprovou na terça-feira a prorrogação dos contratos, que são de dois anos, por mais seis meses. A lei segue para sanção do prefeito Marcelo Crivella.
Cenário de arresto deve se repetir 
 
Para o vereador Paulo Pinheiro, a solução para o impasse deve vir por meio de um arresto promovido pelo Tribunal Regional do Trabalho. "A única maneira que vejo de o pagamento ser feito é o TRT fazer o mesmo que fez ano passado. Em 2019 o Tribunal mandou abrir as contas da Prefeitura e procurar recursos para pagar os profissionais das OSs", lembra Pinheiro.
O sindicato dos médicos realiza na quinta-feira uma assembleia com a categoria e na sexta-feira diz que vai pedir este arresto durante audiência conjunta com os sindicatos dos técnicos de enfermagem e dos enfermeiros no TRT. 
" Vivemos um momento de pandemia e temos compromisso com a assistência à população. Mas o mínimo que a gente precisa é do nosso salário. Não estamos pedindo aumento. Desde 2017, todo fim de ano os sindicatos têm que entrar na Justiça", diz o presidente do sindicato dos médicos Alexandre Telles. 
O representante da categoria diz que os profissionais estãos desmotivados e que dão pouca credibilidade à promessa da Prefeitura de quitar os salários até a semana que vem. "Quando a Prefeitura promete que vai pagar até semana que vem, fica difícil de acreditar. O município promete abrir novos leitos, mas qual médico vai querer aderir a um emprego sem salário? Com certeza vamos pedir o arresto", reforça Telles.
O vereador do Psol fez uma representação ao Ministério Público do Trabalho pedindo providências para que o pagamento seja normalizado.
Confira as unidades que estão com salários atrasados:
. Hospital Municipal Evandro Freire
. Hospital Municipal Albert Schweitzer
. Hospital Municipal Rocha Faria
. Hospital Municipal Ronaldo Gazolla
. Hospital de Campanha do RioCentro
. UPAs administradas pela RioSaúde
. Telessaude
. Residentes estão sem bolsa complementar
Ocupação de leitos na capital
A Secretaria Municipal de Saúde informa que no início da tarde desta quarta-feira há uma fila de 420 pessoas que aguardam transferência para leitos na capital e na Baixada Fluminense para tratar a covid-19. Destas, 193 pacientes aguardam em vaga em Unidades de Tratamento Iintensivo (UTIs).
A taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede SUS - que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais - no município é de 91%. Já a taxa de ocupação nos leitos de enfermaria é de 87%.