Mais Lidas

'Agora ela vai ter a festinha dela no céu', diz mãe de Emilly Victória, que faria 5 anos nesta quarta

ONG Rio de Paz levou doações à família de Emilly e Rebeca na Baixada Fluminense. Primas foram mortas no dia 5 desse mês, por uma bala perdida enquanto brincavam na porta de casa

Local do crime
Local do crime -
Rio - 'Agora, ela vai ter a festinha dela no céu porque eu ia fazer aqui para ela', disse Ana Lúcia Silva Moreira, mãe de Emilly Victoria dos Santos, que faria 5 anos nesta quarta-feira quando recebeu a equipe do Rio de Paz em sua casa. A ONG levou doações à família, que é muito humilde. Emily e a prima Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7 anos, foram mortas no dia 5 desse mês, por uma bala perdida enquanto brincavam na porta de casa. O crime aconteceu na comunidade do Barro Vermelho, em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. No local, ainda há mancha de sangue.
Com as mortes de Emily e Rebeca, só este ano, 12 crianças foram mortas por armas de fogo no estado do Rio de janeiro, ou seja, uma por mês, de acordo com estatísticas da ONG Rio de Paz.
Emily foi enterrada com o vestido de princesa que pediu à mãe para usar no dia do aniversário. Já estava tudo pronto para a comemoração. "Ia ser festa de pobre, dignamente, mas ela ia ter a festinha dela. Eu só quero justiça e eu vou conseguir essa justiça, a de Deus porque a do homem eu não tenho", lamentou Ana, que ainda mantém as roupinhas da filha no guarda-roupa. "Não consigo tirar. Vai doer", contou ela. As bonecas também estão guardadas.
Articulador social e mobilizador politico do Rio de Paz, João Luis Silva cobrou mudanças na política de segurança do estado. "Ao chegar aqui (no local do crime) um misto de sentimentos absorve a gente: raiva, revolta, tristeza porque a gente chega numa casa e se depara com a dor de uma família que perdeu duas crianças. Diante de tantas crianças que já morreram vítimas dessa política de segurança pública que extermina pessoas e sobretudo crianças. Políticas essas que enchem as mãos dos gestores desse estado chamado Brasil de sangue. Senhores, os senhores têm as mãos cheias de sangue e sangue de crianças inocentes. Revejam as políticas de segurança que mais matam que salvam vidas", disse João.
Tia de Emily e avó de Rebeca, Lídia da Silva Moreira Santos, questionou o governador. Ela presenciou o crime quando estava chegando do trabalho. "Senhor governador, até onde, até quando isso vai acontecer. Mudou tudo na nossa vida. Eu costumo dizer para os meus irmãos que esse acontecimento foi um efeito dominó que fizeram na nossa vida: colocaram todos nós em fila e deram um soco para atingir todo mundo, dos pequenos aos maiores", contou Lídia. Ela disse que a família quer mudar do local. "Não tem condição mais de viver aqui por causa das lembranças. Elas nasceram aqui. Se eu pudesse, não viria mais aqui", revelou ela.
O laudo
Segundo o laudo de necropsia, o projétil encontrado no corpo de Rebeca é compatível com fuzil 762, mas laudo é inconclusivo. Segundo informações, Emily e Rebeca foram baleadas quando policiais militares tentaram abordar duas pessoas que estavam em uma motocicleta. Houve pelo menos três disparos. Ninguém foi preso.
Homenagem
Duas placas improvisadas com os nomes das meninas foram colocadas pelo Rio de Paz na Lagoa Rodrigues de Freitas, na Zona Sul do Rio, onde a ONG tem uma instalação permanente com nomes de crianças e policiais mortos vítimas da violência.
Local do crime ONG Rio de Paz
Familiares de Emilly e Rebeca ONG Rio de Paz
Ana Lúcia Silva Moreira, mãe de Emilly Victoria, mostra roupas da filha ONG Rio de Paz
Brinquedos ainda estão pela casa ONG Rio de Paz
Brinquedos ainda estão pela casa ONG Rio de Paz
Ana Lúcia Silva Moreira, mãe de Emilly Victoria, mostra roupas da filha ONG Rio de Paz
Ana Lúcia Silva Moreira, mãe de Emilly Victoria, mostra foto da filha ONG Rio de Paz