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'Justiça vai ser feita'

Família e amigos de Marcelo Guimarães falam da dor de perder o marmorista

Arthur Miguel, de 5 anos, é a cara do pai. A única diferença está na cor da camisa: o filho rejeitou a herança vascaína e preferiu o Rubro-Negro. Na segunda-feira, o marmorista Marcelo Guimarães, de 38 anos, deixou o pequeno na escolinha de futebol e foi para o trabalho na sua motocicleta. A distância entre a Gardênia Azul e a Cidade de Deus, duas favelas de Jacarepaguá, é de poucos quilômetros. Marcelo voltaria para casa para almoçar com a irmã, mas não chegou. No caminho, foi atingido no tórax esquerdo por uma bala. Do outro lado da pista, um blindado da Polícia Militar estava estacionado. Moradores da CDD tentaram acudi-lo, em vão. O disparo atravessou o peito. Morreu de tiro mais um trabalhador brasileiro.

Jorge Luiz Alves foi amigo de infância de Marcelo e estava feliz naquela segunda-feira: o parceiro da Gardênia Azul deixaria o filho pela primeira vez aos seus cuidados na escolinha Favelão FC, projeto esportivo da comunidade mantido por uma ONG italiana. "Ele deu um beijo no filho, disse que 'papai tinha que trabalhar' e aconteceu essa tragédia", lembra o professor. "A avó do Arthur estava sentada ao lado do campo. Mandaram mensagem e ela saiu desesperada. Tive que suspender a aula e correr até o local para ajudar. Sinto tristeza. Um garoto de 5 anos vai crescer sem o pai. O que vai ser daqui para a frente?", lamenta.

A esposa, Carla Guimarães, não sabe a resposta, mas busca forças para seguir cuidando de Arthur e de Vitória, de 19 anos, os dois filhos do casal. Carla pretende se mudar da casa em que viviam na Gardênia para outra, na mesma comunidade. A memória, no entanto, será eterna e dolorosa, como a do momento em que os PMs a colocaram sentada dentro do caveirão para tentar acalmá-la.

"Não me preocupo com o que estão dizendo sobre meu pai. Todo mundo sabe quem ele era de verdade, tanto que o ato foi cheio. A Justiça está aí e vai ser feita. Um dia, vai", diz Vitória.