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Moradores da comunidade Santa Marta têm casas invadidas por policiais militares

Segundo o morador Alexandre Firmino, esta é uma prática recorrente da polícia na comunidade

Casa do morador Alexandre Firmino foi invadida por policiais militares
Casa do morador Alexandre Firmino foi invadida por policiais militares -
Rio - Moradores da comunidade de Santa Marta, na Zona Sul do Rio, relatam que tiveram suas casas invadidas por policiais militares na manhã desta segunda-feira. Uma das vítimas foi o repórter fotográfico, Alexandre Firmino, que teve a casa arrombada, por volta das 7h, por dois agentes que portavam fuzis. Segundo Alexandre, eles entraram com uma chave mestra pelo primeiro portão com grades e arrombaram a segunda porta que dá para o interior da casa.
“Tem um portão com grade na frente que é reforçado e tem uma porta de entrada da casa que é reforçada. Eu estava dormindo simplesmente, comecei a ouvir uns barulhos batendo, parecia até uma marreta na porta, minha filha se assustou, eu saí do quarto e quando vi fui abordado por dois policiais com um fuzil apontado na minha cara”.
Alexandre disse aos policiais que eles não podiam entrar na casa dele e os agentes responderam que o morador não tinha escutado eles batendo na porta.
“Eles perguntaram se tinha mais alguém na casa, eu falei que tinha uma criança de 12 anos, minha filha. Ficaram olhando para os objetos da casa, como se o favelado não pudesse ter nada, ficou olhando as minhas câmeras, as lentes. E saíram da minha casa, não pediram desculpas, ainda saíram com o fuzil na minha cara”.
O repórter fotográfico contou ao DIA que esta é uma prática recorrente da polícia da comunidade e que não sabe como explicar para a filha sobre a invasão dos policiais.
“O pé na porta existe, é uma prática da polícia militar. O Estado vem e mete o pé na minha porta. E o que vai acontecer? Vou ter que colocar câmera, fechadura para me proteger não do bandido e sim da polícia, isso é inversão de valores. E o que eu vou falar para a minha filha? Para ela não ter medo da polícia. Eu ainda estou impactado, porque ninguém quer ser abordado assim dentro de casa”, afirmou.
Alexandre também é coordenador do programa Santa Marta Contra a Covid-19, junto com seu irmão Thiago Firmino, que contam com uma equipe de doze voluntários.
“A gente faz a sanitização no Santa Marta no combate à covid-19 e a resposta do Estado é meter o pé na nossa porta. Não dá tranquilidade para a gente fazer nosso trabalho, uma série de fatores para nos matar, é dengue, é covid, é a polícia”.
De acordo com Alexandre, outros moradores também tiveram a casa arrombada pelos policiais, mas preferiram não falar sobre o caso.
“O policial é o violador. Na verdade, ele é da mesma classe social que a minha e ele vem aqui para humilhar o morador da comunidade. Ainda me colocou como se fosse o culpado de estar dormindo, eu estou de férias. Vários moradores tiveram a casa arrombada com chave mestra. Isso é racismo institucional, apoiado pelo Estado, pelo judiciário. Respeito zero a vida. Viram a minha casa bonitinha e já pensaram que é do tráfico. Isso não deveria ser procedimento, ninguém deveria passar por isso. A gente fica entre a cruz e a espada”.
Em nota, a Polícia Militar informou que está no local averiguando a situação relatada e um procedimento apuratório interno será instaurado. "Cabe informar ainda que esta prática não é prevista nos protocolos da Corporação”.
"Na manhã desta segunda-feira, policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Santa Marta estavam em patrulhamento na Ladeira dos Guararapes, na comunidade Cerro Corá, quando foram atacados por disparos de arma de fogo. Houve reação. Após cessarem os disparos, uma granada foi localizada e apreendida. Até o momento, não há relatos de prisões ou de possíveis feridos. Ocorrência encaminhada para a 9ª DP", disse a PM em nota.
*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro