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ONG Rio de Paz conta 80 crianças vítimas de bala perdida e aponta para famílias desamparadas

O número subiu após a inclusão do caso de Ana Clara, de 5 anos, morta em uma comunidade de Niterói

Foto de Ana Clara Gomes, 5 anos, vítima de bala perdida em Niterói
Foto de Ana Clara Gomes, 5 anos, vítima de bala perdida em Niterói -
Rio - Após a morte de Ana Clara Gomes, de 5 anos, na comunidade do Manon Pequeno, em Niterói, o estado do Rio alcançou a triste marca de 80 crianças mortas por bala perdida desde 2007, segundo dados da ONG Rio de Paz. No entanto, o que mais chama a atenção nas informações é falta de respostas para esses crimes, que em sua maioria não tiveram a autoria esclarecida.
Os casos começaram a serem contabilizados a partir 2007 pelo Rio de Paz, que realiza ativismo pelas causas de comunidades carentes. "Entre 2007 e 2021, 80 crianças foram mortas por bala perdida no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino e uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar. Mas, nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados pelo poder público e grande parte da sociedade, matáveis", apontou Antonio Costa, presidente da ONG, através de uma vídeo.
Criticando o poder público, Costa questionou falta de implementação de medidas de segurança para área carentes do estado, que mais sofrem com a violência. "Perguntas nos são feitas sobre essas mortes. Respostas objetivas são dadas, mas as medidas não são implementadas, e os crimes continuam. Essas tragédias deixariam de acontecer se armas não chegassem às mãos de criminosos, se parte da sociedade parasse de estimular e celebrar a guerra, e as nossas polícias entendessem que, numa operação policial mais importante do que a prisão do bandido é a preservação da vida do morador de comunidade pobre", disse.
"Agora, ficam duas perguntas que precisam ser respondidas pelas nossas autoridades públicas: o que vai mudar? O que o poder público fará pela família da Ana Clara?", questionou.
A Lei Ágatha (9.180/21), sancionada pelo governo do Rio em 13 de janeiro deste ano, estabelece que "os procedimentos investigatórios e as comunicações internas e externas deverão conter o seguinte aviso escrito: ‘Prioridade – Vítima Criança ou Adolescente'". A lei teria surgido após a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, baleada aos oito anos, em 2019, durante operação policial no Complexo do Alemão, sendo mais uma das vítimas a violência no estado.
Ana Clara foi enterrada no início da tarde desta quarta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, em Charitas.