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Alta taxa de letalidade para covid-19 no Rio está ligada a falta de testagem, aponta pesquisadora da UFRJ

Membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros, explicou que a capital fluminense tem testado 25 pessoas por cada mil habitantes enquanto alguns países europeus testam 800 por mil habitantes

Apesar do alto risco de contágio na cidade do Rio, cariocas lotaram as praias do Arpoador, Leblon e Ipanema
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Rio - Os dados da Prefeitura do Rio mostram que, atualmente, a taxa de letalidade da covid-19 é de 9,2% por 100 mil habitantes. A capital fluminense registrou 17.648 óbitos por coronavírus até a manhã desta segunda-feira. Na semana passada, o Rio se tornou a cidade com o maior número de óbitos por coronavírus do Brasil e já ultrapassou até a cidade de São Paulo. Em entrevista ao DIA, a pesquisadora em saúde do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde do COPPEAD/UFRJ e Membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros, explicou que a alta taxa de letalidade está diretamente ligada a falta de testagem da população.

"A letalidade de uma doença significa o número de óbitos decorrentes de uma doença sobre o total de número de casos dessa doença. O que acontece especificamente no Rio de Janeiro é que comparando até com outros países, a capital tem testado em torno de 25 pessoas por cada mil habitantes. Se a gente olhar, por exemplo, a Inglaterra ou alguns países da Europa, esse número chega a 800 pessoas por cada mil habitantes. Então, é lógico, se nós estamos testando basicamente apenas pessoas que têm sintomas, nós não temos o número real de casos de doença, e por conta disso, a letalidade será mais alta", explicou Christyna.
A pesquisadora defende a testagem em massa da população para que seja possível aplicar as políticas e diretrizes adequadas de isolamento. "Ter uma letalidade alta no Rio de Janeiro, infelizmente, passa por um indicador que não é confiável, mas quando a gente observa que o Rio de Janeiro tem o maior número absolutos de óbitos, comparados a outros munícipio. Quando compara-se, por exemplo, em relação a São Paulo, que tem quase que o dobro de habitantes do Rio, a gente vê que aqui tem proporcionalmente o maior número de mortes por 100 mil habitantes. Nós estamos testando pouco, temos uma política de isolamento e um controle de pessoas contaminadas muito deficientes, com isso a doença está sem controle, o número de casos de pessoas doentes sobe, por consequência das que precisam internar, das que complicam e morrem e daquelas que nem conseguem ter internação e acabam morrendo, sem assistência".
Levantado pela pesquisadora, o Rio pode não apresentar uma taxa de letalidade tão alta, já que o município testa tão pouco a população. Ela ainda ressalta, "o que não significa que a notícia seja boa, significa que faltam informações", com os números estão "descontrolados". Christyna também falou sobre as altas taxas de transmissão para a doença no munícipio. "As taxas de transmissão estão superiores a 1, ou seja, 100 pessoas transmitem, hoje, para 120 pessoas. E sim, nós amargamos a posição da cidade com o pior número de mortes por cada 100 mil habitantes".
A questão dos testes que perderam a validade e não puderam ser utilizados também foi um ponto levantado pela pesquisado, para ela isso atrapalha a "confiabilidade das informações" para a população. "Infelizmente, nós vemos testes perdendo a validade. Por exemplo, o governo do estado do Rio chegou a anunciar um programa de testagem em massa e não conseguiu implementar. Hoje, o estado não faz nem 40% dos testes que foram prometidos no final de dezembro e isso tudo traz informações inconsistentes e, claro, total falta de confiabilidade ou de transparência em todas essas informações tão necessárias para que haja o controle adequado da doença e a informação da gravidade da situação para toda a população".

"O Rio de Janeiro amarga o pior cenário possível. A descoordenação entre o governo federal, estadual e municipal. Um governo estadual com várias trocas de secretários, corrupção, má gestão, falta de investimento em atenção primária à saúde e o resultado são esses números tristes que a gente vê. E o governo não consegue deixar claro a gravidade da situação", lamentou.
*Estagiária sob supervisão de Beatriz Perez