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Rio: organizações ambientais e moradores reclamam de excesso de podas de árvores

Movimento Baía Viva, por exemplo, classifica a retirada massiva da área verde carioca como "assassina"

Árvores em grande quantidade estão sendo podadas no município do Rio de Janeiro
Árvores em grande quantidade estão sendo podadas no município do Rio de Janeiro -
Rio - A cidade do Rio tem muitos pontos turísticos e, com certeza, um aspecto que contribui para a beleza deles é a grande arborização do município, com plantações e florestas conhecidas. Mas, nas últimas semanas, o panorama ambiental da capital fluminense tem passado por problemas. Uma grande quantidade de podas de árvores está sendo registrada por moradores de diversos bairros e tem causado revolta em organizações de proteção ambiental, como, por exemplo, o Movimento Baía Viva, que preza pela manutenção da área verde carioca.
Gestor ambiental e cofundador do Baía Viva, o ecologista Sérgio Ricardo explica como essa questão das retiradas das árvores começou a ganhar força no Rio, ainda em 2019, e revela de quem, na visão dele, é a culpa pela enorme quantidade do que o especialista chama de "podas assassinas" na cidade. Segundo Sérgio, a Light, concessionária de energia elétrica, tem grande parcela de responsabilidade em relação aos decepamentos realizados na área urbana.
"No ano retrasado, o Movimento Baía Viva foi avisado sobre as podas assassinas e nós começamos a receber fotos e vídeos de muitos bairros que apresentavam esse problema, até mesmo de outros municípios vizinhos ao Rio, como Niterói. A causa disso tudo, na minha visão, é que, a partir de 2006, a Fundação Parques e Jardins (FPJ), da prefeitura, uma instituição centenária, foi destruída e desmantelada. Ela saiu de um bom patamar de orçamento anual para um baixo, e teve todas as suas competências transferidas à Comlurb", disse.
"Além disso, a Light, hoje, é a principal responsável por essas podas que ocorrem na capital fluminense e vamos processá-la por isso, já que a empresa usa terceirizados, que não tem familiaridade alguma com plantações, para fazer esse serviço cruel com as árvores, sem nenhum tipo de manejo adequado. Isso é um crime ambiental cometido pela concessionária e entraremos com uma representação no Ministério Público", apontou Sérgio.
O ecologista afirmou também que, com o desmantelamento da Fundação Parques e Jardins, as chamadas podas assassinas de árvores viraram um padrão de política pública, seja através da Light, seja por meio de outros órgãos. E que elas funcionam à revelia da lei. O gestor também concluiu ser necessário reverter a situação da FPJ, que necessita, de acordo com ele, ser fortalecida e revigorada.
Como forma de tentar frear o decepamento em massa das áreas verdes na cidade, o Movimento Baía Viva está realizando a petição (abaixo-assinado) "Parem com o extermínio de árvores no Rio de Janeiro", que já contém cerca de 10 mil assinaturas, com objetivo de atrair as pessoas para a causa. A organização lembra que qualquer cidadão carioca ou morador pode participar da campanha, utilizando seu próprio celular para fazer fotos e vídeos das podas.
Excesso de podas na Zona Sul do Rio
Quem também não está nada a favor da retirada em excesso de árvores no Rio de Janeiro é a fotojornalista e corretora de imóveis Vanessa Ataliba, de 46 anos, moradora do Humaitá, na Zona Sul da capital fluminense. Segundo ela, além do próprio bairro, moradores de Botafogo, Lagoa e Jardim Botânico têm relatado, com frequência, a ocorrência de podas nas ruas e avenidas da região. Desconfia, ainda, que alguém pode estar levando vantagem financeira com essa situação.
"São muitas por mês, geralmente umas quatro ou cinco, como aconteceu aqui em frente à minha casa, no Humaitá. A gente acha tudo isso muito estranho, vejo sempre os moradores daqui e das redondezas reclamando sobre essa retirada das plantações. E os órgãos que realizam essa decepamento das árvores sempre alegam o mesmo motivo: que elas estão doentes ou com problemas, e que, por isso, não podem mais ficar onde estão. A impressão que fica, na verdade, é que toda essa poda que vem acontecendo no município tem algum interesse financeiro por trás, ou seja, parece que sempre há alguém ganhando economicamente. Caso seja verdade, é um quadro preocupante", contou Vanessa.
"Eu penso que a retirada das árvores só podem, de fato, acontecer em caso de extrema urgência ou perigo para os pedestres que transitam no entorno, como forma de proteção para a população. Se não for essa a razão, não vejo o porquê. A natureza, como um todo, só traz benefícios e deve ser preservada ao máximo. A principal questão para mim, nessa situação, é como as autoridades cuidam da nossa área verde urbana, ou seja, o cuidado tido com as plantas. Se elas receberem zelo e atenção, com certeza o número de problemas em relação às árvores diminuirá", finalizou.
Comlurb e FPJ afirmam ter laudos técnicos
Em nota, a Comlurb afirmou que dispõe de um corpo técnico de engenheiros florestais e agrônomos que fazem a vistoria técnica para avaliação da necessidade de manejo das árvores na cidade e que qualquer serviço só é realizado após vistoria e laudos fornecidos por esses profissionais. Além disso, disse também que todos os garis da área são habilitados para o manejo de árvore e de equipamentos por meio de cursos com engenheiros agrônomos e florestais, que também orientam e supervisionam os serviços.
Por fim, a companhia esclarece que, no caso de remoções de árvores, "o procedimento só é feito mediante a avaliação técnica por meio de protocolo de risco que foi normatizado pela própria Fundação Parques e Jardins. E que, embora a árvore esteja em estado fitossanitário perfeito, ela pode ser removida porque o laudo da Defesa Civil indicou algum tipo de risco que as raízes estão causando para estrutura de um imóvel ou de redes de esgoto ou gás, colocando vidas em perigo.
Seguindo a mesma linha, a Fundação Parques e Jardins, da Prefeitura do Rio, diz, em comunicado, que as árvores em áreas públicas podem ser podadas ou removidas por empresas credenciadas, mediante autorização da FPJ. Em todos os casos, as equipes que estiverem realizando os serviços têm a obrigação de portar uma autorização ou um laudo de manejo.
A nota ainda esclarece que a Comlurb é o órgão responsável por este serviço na cidade e que as ações realizadas pela companhia são sempre executadas com base em laudos técnicos elaborados pelos engenheiros florestais e agrônomos.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes