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Comerciantes do entorno do Sambódromo relatam dificuldades sem Carnaval

Essa é a primeira vez sem desfiles no Sambódromo desde a sua construção, em 1984

Em um dos cômodos da casa que dá para a Travessa 11 de Maio, Maria Benício tinha se organizado para tirar uma boa grana no Carnaval
Em um dos cômodos da casa que dá para a Travessa 11 de Maio, Maria Benício tinha se organizado para tirar uma boa grana no Carnaval -
Sinônimo de espetáculo, alegria e encantamento popular, a Marquês de Sapucaí 'chora' em silêncio o cancelamento do Carnaval — essa é a primeira vez sem desfiles das escolas de samba desde a construção do Sambódromo, em 1984 — em virtude da pandemia da Covid-19. E sem o evento que impulsiona diversos setores da economia, o comércio (formal ou não) no entorno da Passarela do Samba enfrenta ainda mais dificuldades para se manter.

O MEIA HORA percorreu as ruas da Cidade Nova para ouvir a galera guerreira que sempre contou com a renda extra gerada pelo Carnaval, mas agora precisa se virar como pode. É o caso de Manoel Cordeiro, de 52 anos, morador da região e mais conhecido como Paulista. Ambulante há mais de 20 anos, ele é cadastrado pela prefeitura e enfrenta dificuldades desde o ano passado. "Já estou há seis meses sem trabalhar direito. Em 2019 já foi ruim porque choveu no Carnaval passado, agora ficou pior. O jeito é contar com a ajuda da família, que é grande, com cestas básicas que recebo, para ir sobrevivendo".

Maria Benício, de 43 anos, é de Higienópolis, e viu seu planejamento pessoal se desfazer. "Seria a minha primeira vez trabalhando aqui no Carnaval. A ideia era investir uns R$ 4 mil em mercadoria para os quatro dias de folia. Daria para ter o dobro de lucro", lamenta.
A alternativa para amenizar a crise é torcer para que as aulas presenciais na rede estadual retornem o quanto antes, o que está previsto para 1º de março. "Até a venda de doces e refrigerantes, que é o nosso forte, está ruim. Espero que as aulas voltem logo".

'Diminuição de 50% do nosso faturamento'

Rio de Janeiro 10/02/2021 - Ambulantes sem Carnaval. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia - Luciano Belford/Agencia O Dia
No 'Bar e Restaurante Sambódromo', colado à Sapucaí, mudanças ao longo dos anos  são sentidos há muito tempo. De acordo com Anderson Zoroasta, de 35 anos, filho de Noberto André, as mudanças graduais ao longo do tempo e a pandemia recente agravaram ainda mais a situação. 
"O Carnaval aqui era bom antes, durante e depois. A gente começava a vender bem três meses antes do início das festividades. O período anterior ao Carnaval era bom porque a equipe que trabalhava na montagem do Sambódromo vinha para cá. Hoje, caiu pela metade esse tempo de adaptação da Sapucaí. Ou seja, combinado com a pandemia, nosso faturamento caiu em 50%".

Ambulantes não têm um sindicato atuante

Maria de Lourdes do Carmo é coordenadora do Muca - Arquivo pessoal
Se já não bastasse toda a dificuldade para colocar comida na mesa e pagar as contas, seja com ou sem Carnaval, os ambulantes que trabalham no Rio de Janeiro não contam com um sindicato organizado que lute pelos seus direitos. Quem tenta desempenhar esse importante papel é o Muca (Movimento Unido dos Camelôs). Segundo Maria de Lourdes do Carmo, coordenadora do movimento, é importante que esses trabalhadores sejam ouvidos.
"A gente tenta fazer com que a prefeitura tenha um olhar para essa categoria. Sabemos que o pessoal que trabalha nas escolas de samba são de extrema importância, mas os ambulantes também precisam de uma atenção melhor. Atrás de cada isopor, de cada barraquinha de churrasco, de cachorro quente, existe um pai de família que passa por dificuldades. Ainda mais agora após o fim do auxílio emergencial. Queremos que o poder público olhe para a gente", pede Maria de Lourdes