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MPF recomenda solução negociada para desocupação em favela em Duque de Caxias

Ocupação acontece em área onde ocorrerão obras com recursos do PAC de tratamento do canal Caboclo

Prefeitura de Duque de Caxias quer desapropriar 56 famílias da Favela do Lixão
Prefeitura de Duque de Caxias quer desapropriar 56 famílias da Favela do Lixão -
Rio - O Ministério Público Federal (MPF) expediu recomendação à Prefeitura de Duque de Caxias (RJ), à Secretaria de Habitação e Urbanismo e à Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos para que seja apresentada e executada uma proposta, em dez dias, a fim de garantir atendimento a 56 famílias ameaçadas de remoção que ocupam os locais de obras inacabadas do Programa de Aceleração do Crescimento na Vila Ideal/Favela do Lixão, no município de Duque de Caxias.
A recomendação para a Secretaria de Habitação e Urbanismo da cidade requer a apresentação e execução de uma proposta habitacional de reassentamento imediato, no mesmo distrito, para as famílias mencionadas, ou o oferecimento do pagamento de um aluguel social, pelo prazo de um ano, acrescido de 50% em cada parcela. Além disso, recomenda-se o cadastramento dos moradores e a realização de medidas de acolhimento e serviço social durante o mesmo prazo, de forma a assegurar seus direitos e a criação de políticas de habitação para as famílias impactadas.

A medida foi adotada em inquérito que apura o possível atraso nas obras do PAC e eventuais irregularidades, visando a construção, em duas etapas, de unidades habitacionais com urbanização, paisagismo, drenagem pluvial, sistema de esgotamento sanitário, pavimentação, extensão da rede de abastecimento de água e energia elétrica e a construção de equipamentos sociais, como escolas, creches e postos de saúde. A ocupação está em área destinada às obras no canal Caboclo.

Segundo documentos enviados pela Caixa Econômica Federal, 60,89% da obra está completa, incluindo 176 unidades habitacionais, o que estava previsto na primeira etapa do projeto. Ainda assim, não foi possível comprovar a conclusão da etapa inicial como um todo. Em 12 de janeiro deste ano, o MPF recebeu a demanda das 56 famílias ocupando o local que estavam ameaçadas de remoção, devido à novas obras a serem realizadas no Canal do Caboclo. Desde então, foram realizadas reuniões no MPF com os moradores, a prefeitura e entidades como o Movimenta Caxias.

O MPF entende que a demora na conclusão das obras impacta diretamente a vida das famílias que seriam realocadas, e que esse atraso favorece a consolidação de novas situações, como a ocupação de regiões e terrenos, que exemplificam o caso em si. Além disso, devem ser consideradas a Lei Estadual nº 9.020/2020, que impede as remoções forçadas na pandemia, e a Recomendação nº 90/2021, do Conselho Nacional de Justiça, que indica cautela para a realização de desocupação coletiva de populações vulneráveis no contexto da pandemia.
"O MPF considera que o prosseguimento de conclusão da obra e uma negociação que ofereça um bom termo e condições mínimas existenciais são a melhor maneira de garantir os direitos fundamentais envolvidos às famílias impactadas, ainda mais no cenário atual", afirma o procurador da República Julio José Araujo Junior, que assina a recomendação.