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Aumentos do preço do gás dificultam investimentos

Reajuste nacional de 39% inviabiliza a expansão para o interior do estado do Rio

O gás natural é um combustível que compete com energéticos como eletricidade, GLP, carvão e biomassa
O gás natural é um combustível que compete com energéticos como eletricidade, GLP, carvão e biomassa -

A Petrobras anunciou, na última semana, o reajuste nacional de 39% no preço do gás natural vendido às distribuidoras de gás de todo o país. A medida vale para todo o Brasil e, com a correção, o preço ficará acima do patamar observado antes do início da pandemia de Covid-19. Esse aumento impactará os consumidores a partir de 1 de maio, em um ano no qual a estatal já aumentou os preços da gasolina em 46,2%, do diesel em 41,6% e do gás de botijão em 17%. O reajuste chega ao bolso do consumidor na forma de aumento de tarifas, pois as empresas e produtos precisam repassar o custo do gás comprado da Petrobras.

De acordo com um levantamento da distribuidora de gás canalizado do Rio de Janeiro, Naturgy, 63 indústrias já deixaram de usar o gás natural de 2016 a março deste ano no Rio de Janeiro e substituíram por outros energéticos. E, segundo a empresa, esse número tende a aumentar. A empresa enfrenta, ainda, uma inadimplência de quase 30% em razão da pandemia e relata preocupação adicional com este novo aumento da Petrobras que impactará os clientes.

A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) afirma que os aumentos praticados pela Petrobras reduzem a competitividade do gás natural em relação a outros energéticos e inviabilizam investimentos. "Para combater esse tipo de situação, defendemos uma maior concorrência na oferta de gás natural, mais investimentos em infraestrutura de escoamento, processamento e transporte e também acesso à infraestrutura existente. O Rio de Janeiro é um importante estado produtor e tem grandes reservas de gás natural, mas enfrenta o desafio de expandir o mercado de gás natural e garantir demanda para viabilizar os investimentos", afirmou a entidade, em nota.

"O gás natural é um combustível que compete com vários outros energéticos, como a eletricidade, o GLP, o carvão, a biomassa. Com mais este aumento, estamos diante de uma perda enorme de competitividade do nosso produto, que acaba perdendo mercado para outros combustíveis. O gás a este preço inviabiliza a expansão pois reduz o interesse pelo produto. Com o insumo mais barato, seria possível expandir mais a rede e levar o gás natural a mais localidades. O potencial de crescimento seria muito maior", explica Katia Repsold, CEO da Naturgy.

Mesmo com a perda de competitividade ocorrida nos últimos meses, a Naturgy ainda conseguiu continuar expandindo e modernizando a rede de distribuição e em 2020, apesar da pandemia, foram mais de 40 mil novos clientes conectados e 15 novas indústrias. Em 23 anos de gestão, a Naturgy já investiu mais de R$ 7,8 bilhões no Rio de Janeiro, gerando 14 mil empregos.

"Desde meados da década de 2010, a demanda da indústria por gás acumula queda de 20% no Rio de Janeiro. É preciso investir em políticas públicas para que o gás seja uma ferramenta de retomada da economia a partir do fortalecimento da indústria de energia, petroquímica e GNV", diz Celso Mattos, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

A Naturgy ressaltou que o repasse desse reajuste do gás pela Petrobras às tarifas para o consumidor são custos não gerenciáveis, que não trazem nenhum ganho para a empresa. Ao contrário, prejudica a todos por reduzir a demanda por um combustível menos poluente e abundante no estado.