Mais Lidas

Defensora diz que 'havia muito sangue' em comunidade do Rio após operação da polícia

A ação da Polícia Civil que aconteceu na manhã desta quinta-feira terminou com 28 pessoas mortas

Policiais civis fizeram uma operaçao na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, na manha de hoje
Policiais civis fizeram uma operaçao na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, na manha de hoje -
Rio - Maria Julia Miranda, defensora pública do núcleo de defesa dos Direitos Humanos disse, em entrevista coletiva que aconteceu virtualmente na noite desta quinta-feira para falar sobre a operação da Polícia Civil no Jacarezinho, na Zona Norte, que ficou assustada ao chegar na comunidade.
"O choque foi a quantidade de sangue na favela. Chegando lá ouvimos muitos relatos de violação de domicílio. Vimos também muitos muros cravejados de bala".
Maria Júlia questionou ainda qual é o critério que a Polícia Civil utiliza para dizer que essa operação foi eficiente. "Eu não acho que uma operação policial que gerou 25 mortes, incluindo policiais, seja considerada eficaz".
Já Guilherme Pimentel, ouvidor-geral da Defensoria Pública, que também esteve no local, afirmou que "infelizmente, atender pedidos de socorro nas favelas do Rio de Janeiro tem sido uma rotina diária da ouvidoria da Defensoria Pública. O caso de hoje passou do absurdo. É muito importante investigar com rigor o que aconteceu ali".
Daniel Sarmento, professor da Uerj e advogado do ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, disse, em relação a suspensão do Supremo Tribunal Federal (STF) de operações em favelas durante a pandemia, que irá abrir uma petição para que seja explicado o motivo da Polícia Civil ter participado de uma ação nesta manhã no Jacarezinho.
"O ministro Edson Fachin, quando concedeu a medida cautelar referendada pelo plenário do Supremo, afirmou que o descumprimento ensejaria a responsabilidade civil, penal e administrativa. Isso será levado ao Fachin. É preciso averiguar de quem é essa responsabilidade."
Em nota, o Governo do Estado do Rio de Janeiro disse que "lamenta as vidas perdidas na operação". Além disso, citou que "a ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído. Para garantir a transparência e a lisura da operação, todos os locais de confrontos e mortes foram periciados. É lastimável que um território tão vasto seja dominado por uma facção criminosa que usa armas de guerra para oprimir milhares de famílias."
Em uma coletiva da Polícia Civil, que também aconteceu nesta noite, o secretário da instituição, Rodrigo Oliveira, sustentou que "todos os protocolos definidos na decisão do STF foram cumpridos, sem exceção".
Inicialmente, a Polícia Civil havia divulgado 25 mortes, mas o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, confirmou, nesta sexta-feira (7), que foram contabilizadas 28 mortes. Entre os mortos, está o policial civil André Frias, de 48 anos.
A reportagem entrou em contato com o STF para falar sobre a operação mas até a publicação dessa matéria, não obteve retorno.