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Polícia forma 75 agentes especialistas em depoimentos de menores vítimas de violência sexual

Curso de capacitação, que existe desde 2018, já formou cerca de 300 agentes

Polícia Civil forma 75 agentes em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes vítimas ou testemunhas
Polícia Civil forma 75 agentes em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes vítimas ou testemunhas -
Rio - "A gente trabalha ativando as memórias das crianças, por isso precisa ser acolhedor, humanizado". É dessa forma que o Inspetor Emerson Brant resume a atuação de quem se dedica a investigar crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes. Ele é um dos instrutores do Curso de Capacitação em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes vítimas ou testemunhas (CCDE), da Polícia Civil, que formou, nesta quarta-feira, agentes neste tipo de atendimento especializado.
Psicólogo de formação, Emerson trabalha da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) há 20 anos e pontua que é importante preparar os agentes porque o ato de colher informações em um caso de violência sexual não é uma simples conversa. O policial precisa estar atento às reações emocionais, à qualidade do discurso, para direcionar a memória.
"A gente não faz entrevista, eu vou facilitar a lembrança para a criança ativar a memória do que aconteceu, se aconteceu, com uma técnica. Assim eu consigo saber o que aconteceu e como aconteceu. Se eu fizer perguntas, como uma entrevista, eu não vou saber", explica Emerson Brant, que continua: "É uma diferença sutil para ver se a criança/adolescente está mentindo ou não. Não nos cabe julgar. É uma entrevista humanizada, respeitando o íntimo e o emocional, com cuidado para não revitimizar".
Neste mês, o governador Cláudio Castro anunciou um investimento de R$ 690 mil em 22 salas que serão preparadas para atender especificamente esse público, que precisa de atendimento especializado e acolhedor num momento tão difícil. O valor será usado em cada uma das 14 Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs) e nas delegacias de Seropédica, Mesquita, Nilópolis, Itatiaia, Teresópolis e Iguaba. Já a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) contará com duas salas.
"Isso é muito importante para quem está sendo preparado, para futuramente, quando elas estiverem funcionando, uma criança chegar à delegacia você se sentir preparado para atender. Vai dar uma tremedeira, mas não vai deixar que o trabalho se perca", completou o psicólogo.
Grande procura pelos agentes
O Curso de Capacitação em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes vítimas ou testemunhas (CCDE) acontece com regularidade desde 2018, mas este ano, pela primeira vez, aconteceu na modalidade a distância por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. Outra novidade foi a inclusão de investigação simulada ao final do curso.
Segundo o Delegado Carlos Eduardo de Araújo Rangel, Diretor de Ensino da Acadepol, a procura pelo curso é muito grande, por atender a uma demanda dos gestores e de toda classe policial. Inclusive, nessa edição, há a presença de Delegados e agentes das polícias civis de outros estados (Acre, Mato Grosso e Pará).
"O curso possibilita que o policial passe a alterar sua metodologia de atendimento às crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes. O método PEACE, utilizado pela polícia civil do RJ, é uma modalidade de entrevista cognitiva que nos foi repassada pela polícia do Canadá e nós fizemos as adaptações metodológicas à realidade processual penal brasileira. O ganho é gigantesco, pois a criança e o adolescente recebem um atendimento humanizado e, por outro lado, a polícia produz um elemento de prova mais consistente", comentou o delegado.