Vinícola na Região Serrana colhe 1ª safra e ajuda a firmar região como polo de enoturismo

Família Eloy colhe primeiros frutos e vinícola já vai produzir vinho ainda este ano

Empreendimento vinícola da Família Eloy tem 30 mil metros quadrados de videiras plantadas
Empreendimento vinícola da Família Eloy tem 30 mil metros quadrados de videiras plantadas -
Petrópolis/Areal - Muita gente ainda não sabe, mas implantada na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro brota da terra uma cultura milenar e venerada desde os tempos mais remotos da humanidade: a vinicultura.
A reportagem de O Dia esteve em uma propriedade no município de Areal - que faz limite com Petrópolis - para conhecer o mais novo empreendimento desse setor e que começou a colher, literalmente, “seus primeiros frutos”.
Trata-se da vinícola Família Eloy, cujo pai José Carlos Eloy e seus dois filhos, Bernardo e José Carlos Filho, estão aliando a paixão pelo vinho com o negócio principal da família: o setor de construção e empreendimentos imobiliários.
Bernardo Eloy, Jose Carlos Eloy (filho) e Jose Carlos Eloy: empresários do setor imobiliário criaram projeto de uma vinícola, paixão da família, na Região Serrana - Divulgação/Família Eloy
Bernardo Eloy, Jose Carlos Eloy (filho) e Jose Carlos Eloy: empresários do setor imobiliário criaram projeto de uma vinícola, paixão da família, na Região SerranaDivulgação/Família Eloy
A propriedade onde os Eloy estão desenvolvendo a plantação de uvas possui 450 mil metros quadrados, subdivididos em lotes, com uma parte dedicada a uma vinícola - já com 30 mil metros quadrados de videiras -, ao lado da qual está sendo construída uma vila temática, inspirada na região italiana da Toscana, com capela, spa, hotel voltado para o enoturismo e estrutura de vinificação.

Vinícola Família Eloy
A vinícola é propriedade particular da família, e levará seu nome. Ela é agregada ao empreendimento imobiliário - cujo investimento é de cerca de R$ 40 milhões -, e o futuro proprietário de um lote dentro do condomínio poderá participar e aderir a ela, se quiser, através de um “clube do vinho”.
Fazendo parte do clube, o condômino poderá participar da vindima, dos jantares harmonizados, fazer compras do shopping da vila temática, além de participar de todos os eventos que serão criados, voltados para o universo que envolve a venerada bebida. Quando totalmente implantada, a iniciativa vai gerar cerca de 80 empregos diretos, contribuindo para incrementar a renda da mão de obra local.
Além disso, o sócio passa a ter benefícios na compra das garrafas do produto da vinícola. Ou seja, ele terá sua casa, mas poderá curtir o clima da serra na piscina do hotel, fazer degustações dos vinhos produzidos no local e sentir ainda mais “na pele” todos os atrativos do Borgo del Vino, nome dado à vila temática que está sendo erguida pela família de empreendedores.
Bernardo - que acompanhou nossa reportagem na visita ao local do empreendimento - reafirmou que a ideia para o condomínio vem da paixão da família por vinhos. Ela já é representante de uma importadora na Região Serrana, com uma loja na charmosa Itaipava, distribuindo o produto para restaurantes e hotéis.
“O hobby da família é viajar para conhecer vinícolas. Dez anos atrás, uma vinícola chamada Inconfidência, localizada em Paraíba do Sul [cidade vizinha a Areal] começou a plantar essas espécies de uvas voltadas para a produção de vinho e desde então estamos acompanhando esse processo, até que vimos que dava certo, que o projeto estava crescendo”, contou Bernardo.
A partir dessa verificação de que era possível plantar uvas na região, a Família Eloy incrementou a ideia com um empreendimento no mercado imobiliário, sua atividade principal.
“Então, em uma das viagens que fizemos à Itália, nos hospedamos em um local chamado Borgo San Felice, que é um hotel vinícola. E aí nos inspiramos lá numa vila italiana toda voltada para o vinho, com essa temática, e tivemos a ideia de desenvolver um empreendimento similar aqui na região”, explicou Bernardo.

Variedades de uvas
São oito variedades plantadas pela família em sua propriedade de Areal, sendo seis tintas e duas brancas. As tintas são: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Syrah, Pinot Noir e Malbec; enquanto as brancas são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.
Segundo Bernardo, as variedades que mais se adaptaram de acordo com o que foi visto na Vinícola Inconfidência, cujo sucesso já é comprovado, são Sauvignon Blanc, Syrah e Cabernet Franc. As demais ainda passam por um processo de descobrimento de como vão se comportar no clima da região.
Vindima na vinícola Família Eloy: previsão é de que sejam produzidas 1500 garrafas de vinho este ano - Divulgação/Família Eloy
Vindima na vinícola Família Eloy: previsão é de que sejam produzidas 1500 garrafas de vinho este anoDivulgação/Família Eloy
“Fizemos testes para estas outras variedades. Mas, por exemplo, a Malbec já conseguimos em dois anos colher. Então, já está surpreendendo e a tendência é que dê certo. As outras qualidades vamos levar mais uns dois anos para efetivamente verificar seu potencial”, declarou o empreendedor.
A plantação foi iniciada em outubro de 2019. Em geral, leva-se de três a quatro anos para se colher a primeira safra, mas surpreendentemente, segundo Bernardo, foi possível fazer uma colheita após dois anos das variedades Syrah, Sauvignon Blanc, Cabernet Franc e Malbec.
“Essas são as quatro variedades que já conseguimos colher frutos. Ano que vem, esperamos já ter todas as variedades. A previsão de colheita em 2021 é de, por exemplo, cerca de mil quilos da variedade Syrah, e devemos produzir em torno de 1500 garrafas de vinho com toda a colheita, incluindo as demais variedades”, contou empolgado Bernardo.

Vinificação e processo de dupla poda
Após a colheita, as uvas da Família Eloy estão sendo levadas para processamento na planta da Vinícola Inconfidência. O processo começa com o desengaçamento das uvas, maceração, tratamento e decantação do sumo da fruta, até chegar ao engarrafamento do vinho.
A família acompanha todo o processo junto com o enólogo contratado por eles, degustando os vinhos e testando a mistura das uvas. “Esperamos daqui a dois ou três anos termos nosso próprio processo de vinificação em nossa vila temática”.
Em todas as vinícolas do mundo - tanto na Europa como nos Estados Unidos e até mesmo no sul do Brasil - a vindima é feita sempre em janeiro e fevereiro, pois esse é o ciclo normal da videira, ligada ao clima temperado.
Bernardo explicou que devido ao clima tropical da região, a solução foi realizar um procedimento chamado dupla poda, o qual permitiu que fosse possível produzir uvas por aqui.
“O clima tropical muda a sazonalidade da chuva. Então em janeiro e fevereiro a gente tem bastante chuva no Sudeste e não podemos fazer a colheita nessa época, pois dará um vinho de má qualidade, porque, se chove muito, a videira vai pegar a umidade do solo e as uvas vão ficar cheias d'água, não vão desenvolver o açúcar necessário, o que chamamos de brix das uvas”, explicou o produtor.
Para que isso não aconteça e as videiras não frutifiquem no verão tropical, é feito esse processo de dupla poda, criado por um agrônomo brasileiro, que consiste em cortar a planta no verão para que ela não frutifique, “enganando-a”.
“Quando chega em janeiro, podamos a planta, jogamos fora os frutos que começaram a brotar, poda-se ela no chão, e deixamos ela crescer até junho, julho, agosto - dependendo da localidade -, medindo o brix da uva, e aí sim a colheita é feita. Por isso é chamado de dupla poda, em cada ciclo da videira podamos duas vezes”, continuou Bernardo.
Com todo um trabalho multidisciplinar e esta técnica, o estado do Rio de Janeiro já conta hoje com 14 vinícolas e ruma para se tornar um polo de atração dos enófilos no país. A paixão da Família Eloy pela bebida é mais um capítulo nessa saga, que, desde já, gera renda e mais riqueza para a região, aliando turismo e enogastronomia.
Bernardo Eloy, Jose Carlos Eloy (filho) e Jose Carlos Eloy: empresários do setor imobiliário criaram projeto de uma vinícola, paixão da família, na Região Serrana
Bernardo Eloy, Jose Carlos Eloy (filho) e Jose Carlos Eloy: empresários do setor imobiliário criaram projeto de uma vinícola, paixão da família, na Região Serrana Divulgação/Família Eloy
Vindima na vinícola Família Eloy: previsão é de que sejam produzidas 1500 garrafas de vinho este ano
Vindima na vinícola Família Eloy: previsão é de que sejam produzidas 1500 garrafas de vinho este ano Divulgação/Família Eloy