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Canais bolsonaristas replicam estratégia de Trump para atacar a imprensa, aponta PF

Segundo a corporação, o grupo tem estratégias para transformar ideologias em mercadorias, além de 'diminuir a fronteira entre a verdade e a mentira'

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald J. Trump
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald J. Trump -
A Polícia Federal informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que os canais bolsonaristas estão replicando uma estratégia de comunicação utilizada por Donald Trump em sua campanha eleitoral. Segundo a PF, a atuação do grupo nas redes sociais tem como objetivo "diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira", usando os ataques à veículos de imprensa tradicional e as urnas eletrônicas, por exemplo, como ferramenta. 
Segundo as informações divulgas pela Folha de São Paulo, o método é atribuído a ex-estrategista de Trump, Steve Bannon e teria sido utilizado tanto na campanha do ex-presidente dos Estados Unidos, em 2016, quanto na campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em 2018. 
Os indícios foram relatados pela Polícia Federal no pedido de suspensão da monetização de canais bolsonaristas ao TSE. O inquérito em questão apura os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral. Ainda de acordo com a corporação, o grupo usa diferentes canais e redes sociais para desqualificar a oposição.

O relatório, que é assinado pela delegada Denisse Ribeiro, afirma que a estratégia é "um modelo exitoso de influência baseado na forma como os indivíduos percebem, aprendem, absorvem e difundem as informações que outros fornecem no processo de comunicação (psicologia cognitiva), identificando-se seu emprego tanto nas eleições americanas de 2016, quanto, em maior ou menor escala, nas eleições brasileiras de 2018". 
Para a delegada, o método transforma ideologias em mercadorias: "Além disso, promove ataque aos veículos tradicionais de difusão de informação (jornais, radio, TV etc.), de modo a atingir o seu público de forma direta, horizontal, ao dissipar a distinção entre o que é informação e o que é opinião". 
"A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecido pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo numero de visualizações", complementa o texto.
Segundo a corporação, além de Bolsonaro, outras figuras políticas estariam envolvidas no esquema, como o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), além de parlamentares apoiadores do presidente como as deputadas Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP).
"Quanto mais polêmica e afrontosa às instituições for a mensagem, maior o impacto no número de visualizações e doações, reverberando na quantidade de canais e no alcance do maior número de pessoas, aumentando a polarização e gerando instabilidade por alimentar a suspeição do processo eleitoral, ao mesmo tempo que promove a antecipação da campanha de 2022", aponta o relatório.