Ministério Público Militar pede condenação de oito dos 12 militares por mortes de Evaldo e Luciano

Promotoria pediu a absolvição dos réus que não atiraram em abril de 2019

Militares foram julgados, nesta quarta-feira (13), por morte de Evaldo Rosa e Luciano Macedo
Militares foram julgados, nesta quarta-feira (13), por morte de Evaldo Rosa e Luciano Macedo -
Rio - O Ministério Público Militar (MPM) pediu a condenação de oito dos doze militares que participaram da ação que matou o músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo no dia 7 de abril de 2019, em Guadalupe, Zona Norte do Rio. Contudo, a promotoria do MPM também pediu a absolvição pelos crimes de omissão de socorro e de tentativa de homicídio por excesso de força por falta de provas. O Julgamento do caso acontece nesta quarta-feira
Depois de dois anos e meio e quatro adiamentos, onze militares acusados entraram fardados e perfilados na sessão por volta de 9h15. O décimo segundo réu entrou à paisana. A viúva de Evaldo, Luciana dos Santos Nogueira, passou mal com um pico de pressão no início da sessão, após a entrada dos acusados.
A promotora Najla Nassif pediu, em sua sustentação, que o tenente Ítalo da Silva Nunes receba uma pena maior. O oficial foi responsável pela maior parte dos 82 disparos contra o carro do músico e o laudo pericial identificou 652 partículas de pólvora em sua mão. Ele também foi o primeiro a atirar, além de ser o responsável pela equipe. 
No mesmo documento, o MPM pediu a absolvição de quatro militares que não efetuaram disparos: Vitor Borges Barros; William Patrick Nascimento, motorista da viatura; Paulo Henrique Araújo, responsável pela segurança da retaguarda; e Leonardo Delfino Costa, rádio operador. 
Ao fim das alegações da promotora, Luciana disse que aguarda o fim do julgamento para se dizer aliviada. "Estou muito nervosa. É muito difícil ter que relembrar tudo. Ao mesmo tempo, bate um alívio pelo julgamento estar ocorrendo hoje e um medo de impunidade. Quando bater o martelo, vou poder me sentir aliviada. Não posso continuar com essa dor na alma", afirmou a viúva. 
Luciana não se demonstrou insatisfeita com o pedido de absolvição dos militares que não efetuaram os disparos. "Acho que não é justo os que não fizeram pagarem pelo erro dos outros", comentou.
A viúva de Luciano, Dayana Horrara, acompanha o julgamento com o filho de dois anos. Ela estava grávida quando o catador foi morto após ser baleado tentando socorrer Evaldo. "Quero justiça por esse crime que acabou com minha e com a da minha filha", disse.
O julgamento corre no âmbito da Justiça Militar da União (JMU). No andamento do processo, foram realizadas oitivas (depoimentos) de acusação e defesa, qualificação e interrogatório dos réus, produção de provas pelas partes, e, por fim, alegações finais do Ministério Público Militar e da Defesa. Os doze militares respondem ao processo em liberdade.

Pedido de absolvição por excesso em confronto

O MPM pediu a absolvição dos militares no crime de excesso do uso da força quando os militares entraram em confronto durante um roubo de carro, momentos antes do fuzilamento do carro de Evaldo. O músico foi atingido enquanto conduzia seu Ford Ka branco a 250 metros da troca de tiros entre militares e bandidos.
Para a promotora Najla Nassif, apesar dos indícios de excesso, não há provas da quantidade de munição usada na ação. Foram 257 disparos no total, incluindo os 82 no momento em que o carro da família da vítima foi atacado. A promotora também pediu a absolvição dos militares pela omissão de socorro. Já que o tenente Nunes ligou para a polícia militar pedindo envio de ajuda para os feridos na ação.
Após as alegações da promotora, houve um intervalo e o julgamento foi retomado às 15h com a fala do assistente de acusação. Na sequência, será a vez da defesa dos militares. Depois, o procurador e o defensor poderão replicar e treplicar.
Relembre o caso
O músico Evaldo Rosa, 51 anos, foi morto a caminho de um chá de bebê com a família quando teve o carro atingido por mais de 80 tiros na Estrada do Camboatá, em Guadalupe. O grupamento militar teria, supostamente, confundido o carro do artista com o de criminosos. O laudo da perícia aponta que teriam sido disparados 257 tiros pelos militares.
Evaldo morreu na hora, mas seus parentes conseguiram escapar. Luciano, que estava nas proximidades e tentou ajudar a família, acabou sendo também baleado e morreu dias depois. Os militares respondem por homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado e omissão de socorro.
O carro em que o músico estava com a família
O carro em que o músico estava com a família Reprodução / Internet
O músico Evaldo Rosa foi morto atingido por nove tiros
O músico Evaldo Rosa foi morto atingido por nove tiros Arquivo Pessoal
Evaldo Rosa dos Santos, conhecido como Manduca
Evaldo Rosa dos Santos, conhecido como Manduca Reprodução
Carro de família foi atacado a tiros em Guadalupe e músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo acabaram mortos. Testemunhas afiram que viram militares atirando contra o veículo
Carro de família foi atacado a tiros em Guadalupe e músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo acabaram mortos. Testemunhas afiram que viram militares atirando contra o veículo Reprodução Internet
Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo
Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo Beatriz Perez/Agência O DIA