Relatório do Bope aponta que 75 policiais participaram de operação no Complexo do Salgueiro

A corporação afirma que apenas oito homens participaram da troca de tiros

Corpos encontrados em área de mangue no Complexo do Salgueiro
Corpos encontrados em área de mangue no Complexo do Salgueiro -
Rio - O relatório interno do Batalhão de Operações Especiais (Bope) após a operação que matou nove pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, revela que 75 policiais do Bope participaram da ação, mas a corporação afirma que apenas oito homens participaram da troca de tiros.
A Polícia Militar entregou oito fuzis, dos oito policiais que participaram da operação do último domingo no Complexo do Salgueiro à Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). As armas foram entregues nesta quarta, e passarão por confronto balístico. De acordo com a Polícia Civil, são quatro fuzis Colt calibre 5.56 e quatro AR-10 calibre .762, indicando que oito agentes usaram as armas. 
O documento, que é assinado pelo major Carlos Eduardo da Silveira Monteiro, do próprio Bope, é relativo à obrigatoriedade de comunicar o Ministério Público sobre a excepcionalidade das operações em favelas durante a pandemia da covid-19 no Rio, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório também aponta que  a morte do 2º sargento Leandro Rumbelsperger da Silva no sábado, foi uma justificativa para a ação da Polícia Militar na região.
"A injusta agressão resultou na morte do 2º Sgt PM 83.225 L.R.S., tornando-se imperiosa a atuação dessa Unidade Especial a fim de restabelecer a ordem na área conflagrada em questão, buscar identificar e prender os responsáveis pela morte do agente da lei e providenciar a retirada em segurança dos policiais que permanecem no interior da comunidade".
O documento ainda diz que a PM estava com dois veículos blindados e uma ambulância que tinham o objetivo de conduzir os policiais para a zona de conflito com maior velocidade e segurança, bem como extrair da mesma zona, se necessário, policiais e civis feridos. A ambulância teria sido deslocada para socorro imediato de policiais e civis.
O relatório também diz que policiais com o conhecimento de primeiros-socorros foram inseridos nas equipes para realizarem atendimentos pré-hospitalares caso fosse necessário. No entanto, foram os próprios moradores que precisaram retirar os corpos de uma área de mangue na manhã da última segunda-feira.
Nesta quarta-feira, a Polícia Civil divulgou o resultado dos laudos de perícias feitas em nove corpos encontrados em manguezal no Complexo do Salgueiro. De acordo com o documento, a maioria dos tiros foram disparados na região da cabeça.
O Supremo Tribunal Federal (STF) julga nesta quinta-feira a ADPF 635, que restringe operações policiais em comunidades do Rio enquanto durar a pandemia da covid-19, em vigor desde agosto do ano passado. A discussão acontece quatro dias após a operação da Polícia Militar no Complexo do Salgueiro.
A ADPF 365, conhecida como ADPF das Favelas, é válida desde agosto de 2020, quando o plenário do Supremo confirmou a decisão do ministro Edson Fachin. A discussão será retomada nesta quinta. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) prevê que operações policiais só podem ser realizadas em casos "absolutamente excepcionais" e devem ser comunicadas imediatamente ao Ministério Público do Rio (MPRJ), responsável pelo controle externo das atividades.