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Traição de Capitão Adriano, falsos seguranças e ameaças: entenda participação de Bernardo Bello na morte de Bid Garcia

Justiça aceitou denúncia e levantou sigilo de processo. Vídeo da execução ajudou a identificar réus; assista!

Comportamento de suposto segurança de Bid e altura de executor foram captados por imagens de câmera de segurança
Comportamento de suposto segurança de Bid e altura de executor foram captados por imagens de câmera de segurança -
Rio - A Justiça do Rio recebeu nesta segunda-feira (31) a denúncia contra o contraventor Bernardo Bello e mais cinco pessoas pela morte do também contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, morto em fevereiro de 2020 ao retornar do desfile das campeãs na Sapucaí. Com o recebimento, o processo deixa a fase de inquérito e passa a ser uma ação penal. O sigilo também foi retirado.  
Tornaram-se réus: 
1) Bernardo Bello Pimentel Barboza
2) Wagner Dantas Alegre (foragido)
3) Leonardo Gouvêa da Silva
4) Leandro Gouvêa da Silva
5) Thyago Ivan da Silva
6) Carlos Diego da Costa Cabral
Bid Garcia foi morto por volta das 4h30 no dia 25 de fevereiro de 2020, em frente ao condomínio de sua namorada, o Barra One, na Barra da Tijuca. O contraventor retornava com dois seguranças do desfile das campeãs na Sapucaí em uma van. Chamou a atenção dos investigadores o fato de Bid não ter usado seu carro blindado, mas optado pelo frete do veículo, a pedido de sua companheira.
Ao desembarcar do veículo Bid foi alvo de dezenas de disparos de arma de fuzil calibre 5.56. O comportamento de suposto segurança de Bid e altura de executor foram captados por imagens de câmera de segurança e ajudaram a identificar os suspeitos.
Confira:
A denúncia afirma que a motivação do crime foi a disputa pelo controle do jogo do bicho e de máquinas caça-níquel do Clã Garcia, que domina principalmente a Zona Sul do Rio e parte da Zona Norte, como Tijuca, Andaraí, Vila Isabel e Grajaú.
A disputa interna no clã iniciou-se com a morte do patriarca da família Garcia, Waldemir Garcia, o "Miro", 30 dias após o homicídio de seu filho Waldemir Paes Garcia, o "Maninho", em 2004. As mortes desestabilizaram o controle dos pontos da contravenção até então centralizados nos dois.
Nesse contexto, dois genros de Maninho ascenderam no clã Garcia: José Luiz de Barros Lopes, o "Zé Personal", ex-marido de Shanna Garcia, e  Bernardo Bello, então companheiro de Tamara Garcia. Zé Personal, segundo a denúncia, tinha como segurança particular, Adriano da Nóbrega, morto em operação policial na Bahia em fevereiro de 2020, apontado como chefe do Escritório do Crime. No entanto, os dois romperam e o 'Capitão Adriano' se aliou a Bernardo Bello.
O ex-capitão do Bope ajudou o aliado a executar rivais, como o próprio "Zé Personal" e o caçula de Maninho, Myro Garcia, conhecido como "Myrinho", além de Alcebíades Paes Garcia, o "Bid". Segundo os investigadores a dupla também seria responsável pela tentativa de homicídio contra Shanna em um shopping na Barra em 2019.
Em mensagens obtidas na investigação Bernardo Bello apelidado de "Play" diz que "Titio", referindo-se a Bid, "seria seu em questão de tempo". Segundo a denúncia, o conteúdo denota ameaça. Bernardo é apontado como mentor intelectual do crime.
Já os acusados e irmãos Leonardo Gouvêa, o "Mad", e Leandro Gouvêa, o "Tonhão" têm indícios de participação na vigilância e monitoramento da vítima. Os dois pertencem ao Escritório do Crime e já estavam presos no último sábado, dia da operação.
No celular de Leandro foram identificadas imagens, vídeos de vigilância e pesquisas sobre a vítima Alcebíades Paes Garcia, sendo destacadas orientações como "melhor lugar para se entocar" e "melhor lugar para entrar" em uma eventual emboscada criminosa. Também foram encontradas imagens retiradas de rede social. A própria placa do carro da vítima foi objeto de pesquisa pelo indiciado através do aplicativo Sinesp Cidadão.
Os demais três réus são ex-PMs expulsos da Polícia Militar. São Wagner Alegre, expulso da corporação pela prática de homicídio qualificado; Thyago Ivan da Silva, expulso por tentativa de homicídio; e Carlos Cabral, excluído pela prática de extorsão mediante sequestro.
Os três se conheceram no Batalhão Especial Prisional (BEP), presídio que recebe policiais presos. Eles também ficaram custodiados com o ex-policial já falecido Glauber Silva, comparsa de Carlos Cabral no sequestro com extorsão. Glauber era amigo pessoal da companheira de Bid, Fabíola da Costa Azevedo. Foi a ele que Fabíola recorreu para contratar seguranças para acompanhá-los no Sambódromo durante os desfiles de Carnaval de 2020.
Glauber morreu em uma suposta tentativa de assalto dias após prestar depoimento sobre o assassinato de Bid. Em seu celular foram localizadas buscas em nome da vítima Alcebíades, o fuso horário do México em que este se encontrava uma semana antes do homicídio, conflitos em relação à família Garcia, e informações sobre o réu Wagner Alegre. Ou seja, para os investigadores, Glauber estava monitorando Alcebíades.
Já Wagner Alegre, era chefe da segurança particular de Bernardo. Segundo depoimento de uma testemunha, Fabíola e Bid relataram que Wagner teria tranquilizado o casal em uma boate dizendo que era segurança do Bernardo e que o chefe não queria nada com os dois. Por meio das imagens de câmeras de segurança, no entanto,  os investigadores identificaram que o executor de Bid possuía a mesma altura de Alegre, aproximadamente 1,90 m de altura, o que é perfeitamente compatível à altura do indiciado Wagner (que possui 1,92m).
Os ex-PMs Thyago e Cabral foram indicados por Glauber à namorada de Bid para fazer a segurança do contraventor no desfile da Sapucaí. No entanto, os dois tiveram comportamentos suspeitos. Na madrugada do homicídio, Carlos Cabral não voltou na van com Bid, alegando que havia "se perdido".
Por sua vez, Thyago enviou a localização em tempo real da van para Carlos Cabral, possibilitando que a vítima pudesse ser monitorada e executada. Além disso, durante o ataque, Thyago ficou parado e efetuou um disparo na direção contrária a do executor e fugiu.
Bernardo Bello foi preso no último sábado na Colômbia. Sua extradição para o Brasil deve levar meses e pode ser acelerada, caso ele manifeste interesse em retornar. A defesa do réu teve um pedido de habeas corpus negado ontem. Bello pedia para retornar ao Brasil por conta própria, que se entregaria à polícia.
Comportamento de suposto segurança de Bid e altura de executor foram captados por imagens de câmera de segurança Reprodução
Coordenador do Gaeco, Bruno Gangoni, em coletiva sobre prisão de Bernardo Bello Cleber Mendes/Agência O Dia
Titular da Delegacia de Homicídios da Capital, delegado Henrique Damasceno Cleber Mendes/Agência O Dia
Autoridades do MP, PF e Polícia Civil em coletiva sobre prisão de Bernardo Bello na Colômbia por morte de Bid Garcia Cleber Mendes/Agência O Dia