Famosos lamentam morte de congolês em quiosque da Praia da Barra

Nomes como Lucio Mauro Filho, Fafá de Belém e Camilla Carmago e mais usaram as redes sociais para lamentar o crime

Família alega que Moïse Kabagambe foi espancado e morto por cobrar diárias de trabalho atrasadas
Família alega que Moïse Kabagambe foi espancado e morto por cobrar diárias de trabalho atrasadas -
Rio - Famosos usaram as redes sociais, na manhã desta terça-feira, para cobrar punição aos responsáveis pela morte do congolês Moïse Kabamgabe, no quiosque Tropicália, na Praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O jovem, de 25 anos, teria sido espancado até a morte por cinco homens, com golpes de madeira e taco de beisebol, após cobrar um pagamento atrasado. Ele trabalhava no local e foi encontrado em uma escada, amarrado e já sem vida.
No Instagram, o ator e humorista Lucio Mauro Filho fez uma reflexão sobre a sociedade. "Que crueldade meu Deus! No que estamos nos transformando? Que exemplos estamos dando para as novas gerações? Tudo muito triste. Ex-cidade maravilhosa".

A escritora e desembargadora Andrea Pachá também se pronunciou: "O Rio de Janeiro não continua lindo. Não há beleza que conviva com a selvageria que mata um jovem de 25 anos que ousa cobrar o seu salário. Luto interminável".

"Inacreditável e imperdoável", escreveu a cantora Fafá de Belém. A atriz Camilla Camargo se diz chocada com mais um crime brutal. "Dilacera a alma essas notícias".

A atriz Debora Bloch postou uma imagem do jovem congolês acompanhada da hashtag: #justicepormoise.
O deputado federal Pedro Paulo disse que pediu que o Secretário de Ordem Pública Brenno Carnevale acompanhe de perto a investigação.

"O brutal assassinato do jovem Congolês Moïse é inadmissível e requer apuração rápida e rigorosas punindo todos os culpados. Solicitei ao secretário Brenno Carnevale que acompanhe de perto toda a investigação. Caso se confirme a participação ou conivência do concessionário/proprietário do Quiosque Tropicália, será imediata a cassação de sua licença e concessão. É inaceitável que o espaço mais democrático dessa Cidade possa ser concedido a alguém capaz de um ato tão brutal e desumano".
"O assassinato do congolês Moïse Kabamgabe não ficará impune. A Polícia Civil está identificando os autores dessa barbárie. Vamos prender esses criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade. A Secretaria de Assistência à Vítima vai procurar os parentes para dar o apoio necessário", escreveu Castro no Twitter.
O prefeito Eduardo Paes também se pronunciou, nesta terça, sobre o crime. "O assassinato de Moïse Kabamgabe é inaceitável e revoltante. Tenho a certeza de que as autoridades policiais atuarão com a prioridade e rigor necessários para nos trazer os devidos esclarecimentos e punir os responsáveis. A prefeitura acompanha o caso", escreveu o prefeito no Twitter.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou como causa da morte traumatismo do tórax com contusão pulmonar e também vestígios de broncoaspiração de sangue. O documento revela lesões concentradas nas costas e o tórax aberto, com os órgãos dentro.
A família de Moïse esteve nesta segunda-feira com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, que vai acompanhar o caso.
"Ele foi brutalmente assassinado em frente a um quiosque e os vídeos das câmeras de segurança disponíveis mostram quem foram as pessoas que o agrediram até a morte. Não há dúvidas de que o racismo foi um fator no caso. As imagens mostram mais um negro sendo espancado até à morte, algo que pessoas que transitavam pelo local já normalizaram. Vamos exigir que o Ministério Público denuncie cada uma dessas pessoas e, principalmente, identifique o gerente do quiosque, que teria chamado esses agressores", afirmou o presidente da CDHAJ, Álvaro Quintão.
A deputada Dani Monteiro, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, destacou o caráter racista do crime e ofereceu apoio à família de Moïse.

"Estamos, junto com a OABRJ, prestando solidariedade à família e tentando garantir a justiça diante da brutalidade que foi cometida contra Moïse. Infelizmente a democracia no Brasil não funciona na sua totalidade para pessoas pretas, sejam elas brasileiras ou imigrantes africanos. Nesse caso, nos choca muito o horário do ocorrido, por volta das dez da noite, e o local, um quiosque na praia da Barra da Tijuca. Isso mostra que a ideia de que uma pessoa negra possa ser amarrada, torturada e espancada em público está naturalizada na nossa sociedade e é acompanhada de uma expectativa de impunidade".

Fernand Umpapa, representante da comunidade congolesa, também expressou sua indignação com o assassinato de Moïse.

"Esse foi um caso que chocou todo mundo, não apenas na comunidade congolesa, mas qualquer pessoa com sensibilidade na comunidade brasileira", afirmou Umpapa.
Durante o encontro, o irmão de Moïse, que não teve seu nome revelado, afirmou que o jovem e a família se sentiam acolhidos desde que chegaram ao Brasil. "Estávamos felizes e nos sentíamos acolhidos, mas no momento não temos mais vontade de ficar. Há um sentimento de insegurança. O que esperamos é que a justiça seja feita".

Repercussão

A morte brutal de Moïze Kabamgabe segue repercutindo entre os grupos e instituições que atendem os refugiados no país. O Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas (PARES Cáritas RJ), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), informaram que vão acompanhar o caso.

O Abuna, uma organização sem fins lucrativos, também repudiou o ocorrido. "O Abuna repudia este ato de covardia, brutalidade e xenofobia. Nos unimos à família de Moïse e demandamos justiça. Barbáries como esta não podem acontecer. Crimes como este precisam acabar. Nossa oração é por consolo aos familiares da vítima, para que o Espírito Santo enxugue cada lágrima. Neste dia, nós choramos com a querida comunidade congolesa no Brasil".

Moïse tinha 25 anos e chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus irmãos. No país, ele e sua família foram reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro. Segundo o Programa, ele era uma pessoa muito querida por toda a equipe do PARES Caritas RJ, que o viu crescer e se integrar.

"O PARES Cáritas RJ, o ACNUR e a OIM estão acompanhando o caso, esperando que o crime seja esclarecido. Neste momento, as organizações apresentam suas sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil", disse em um comunicado conjunto entre as equipes PARES Cáritas RJ, ACNUR Brasil e OIM Brasil.

Parentes e amigos também pediram rigor na investigação da morte do congolês. "Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça", afirmou Ivana Lay, mãe de Moïse, em entrevista ao "Bom Dia Rio", da TV Globo.
Moïse Kabagambe foi morto no início deste ano em um quiosque na Barra da Tijuca
Moïse Kabagambe foi morto no início deste ano em um quiosque na Barra da Tijuca Divulgação