Moradores de Petrópolis relatam sentimentos de luto e tristeza após tragédia provocada por chuvas

Município da Região Serrana foi atingido, em seis horas, por volume de chuva superior ao esperado para todo mês de fevereiro; já ultrapassa de 60 o número de vítimas fatais

Chuva forte na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio, deixa centenas de pessoas mortas
Chuva forte na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio, deixa centenas de pessoas mortas -
Rio - Imóveis destruídas, postes caídos, carros virados e lama para todos os lados. Foi essa a visão dos moradores de Petrópolis, na Região Serrana, na manhã desta quarta-feira, após a cidade ser atingida por um temporal, que provocou grandes estragos e deixou mais de 60 vítimas fatais e pessoas desaparecidas. Com o município tomado por 400 Bombeiros que faziam buscas pelos desaparecidos e prestavam socorro aos desalojados que tinha dificuldades de sair de suas casas, os sentimentos da população petropolitana eram de luto e tristeza.

"A situação é desoladora, estamos de luto pela cidade. Moro no bairro Samambaia, e da minha casa até o Nogueira, vi sujeira, lixo, carros virados, caminhões quebrados, poste caído, lama para tudo que é lado. A região mais problemática foi o Alto da Serra. A Rua Teresa, o conhecido polo de roupas, acabou. Por sorte aqui no meu bairro não tivemos grandes problemas", descreveu a professora Luiza Tavares. 


Até às 16h30, o Corpo de Bombeiros já havia retirado 67 corpos dos escombros e o número de desaparecidos ainda é incontável. Das vítimas fatais, 37 eram mulheres, 22 homens e oito eram crianças. Os bairros mais atingidos pelo temporal foram Centro, Quitandinha e Alto da Serra, segundo a Defesa Civil de Petrópolis.

"A situação está calamitosa. É muito difícil passarmos por isso novamente, depois de 11 anos. A cidade chora seus mortos e lamenta demais o que aconteceu. São muitos jovens desaparecidos, vidas que podem ter sido interrompidos por essa fatalidade. Estava no hospital acompanhando meu pai e da janela pude ver uma barreira cair e atingir o veículo de um médico que estava no estacionamento", lamentou o jornalista Michel Grillo, que relembrou a forte tempestade que atingiu os municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, em janeiro de 2011, e deixou mais de 900 mortos.

As chuvas deixaram diversas pessoas sem energia, água e sinal de celular. Moradores contaram ainda que o serviço de transportes públicos também foi afetado.

"Fiquei preso aqui no hospital e ainda estou sem poder tomar banho, porque o hospital está sem água, ou me locomover, vou dormir aqui mais um dia porque não há meio de transporte para os bairros. O sinal de internet está péssimo por conta da tempestade e tem bairros totalmente sem energia. É muito triste a situação, mas agradeço por estar vivo", desabafou Grillo.

A psicóloga Anna Nascimento descreveu a imagem que viu da cidade, nesta quarta-feira, como um cenário de guerra, onde podia ser visto corpos na rua.

"É assustador, a cidade está bem abalada, um sentimento de total tristeza. Parece um cenário pós-guerra. Muitas pessoas ficaram em estado de choque porque tinham corpos na rua depois que a água abaixou. Tem muitas pessoas ainda desaparecidas. Está todo mundo muito aflito, é lama pura, comerciantes perderam seus estoques, entrou água em várias casas e lojas, as pessoas perderam muita coisa. É realmente uma situação desesperadora", narrou.

Mas no meio de tanta tragédia, também há solidariedade. "Está tendo uma mobilização geral para ajudar, muitos pontos de doação e arrecadação, ajudas financeiras, acolhimento psicológico", falou a psicóloga.

A meteorologia prevê mais chuvas para esta quarta-feira, e essa previsão está assustando os moradores da cidade. "As pessoas estão correndo contra o tempo para conseguirem doações, abrigo, e também para dar continuidade aos resgates", finalizou Ana.

A tempestade preocupou também pessoas que são oriundas de Petrópolis, mas não moram mais na Cidade Imperial. Vivendo em Niterói, a estudante de arquitetura Vitória Jahara, de 23 anos, acompanhou, a distância, com muito apreensão as notícias que surgiam sobre as fortes chuvas.

"Eu não moro mais lá, mas minha família e meus amigos moram, fiquei super preocupada ao saber do que estava acontecendo. Estou acompanhando as informações sobre desaparecidos pelas redes sociais, são parentes de pessoas conhecidas minhas. Tem a mãe de uma menina que estudou comigo que está sumida desde às 18h de ontem (terça-feira), ela estava no shopping e até agora ninguém consegue contato com ela; tem também o primo de uma grande amiga que também está desaparecido. A casa dele caiu e não sabem se ele escapou ou não. A situação está realmente difícil de acompanhar, estão todos desesperados", disse Vitória.