Bolsonaro diz a evangélicos que Forças Armadas adquiriu Viagra para hipertensão

Evento ocorre no período que o governo quer reforçar laços com religiosos para as eleições. No encontro, o presidente comentou sobre os pregões feitos para compra de medicamentos

 Jair Bolsonaro (PL) expressa desejo de ter União Brasil ao seu lado durante eleições
Jair Bolsonaro (PL) expressa desejo de ter União Brasil ao seu lado durante eleições -
Brasília - O presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou explicar a líderes evangélicos a compra de 35.320 comprimidos de Viagra para as Forças Armadas. "Compram para combater hipertensão arterial e também doenças reumatológicas", disse o presidente em um café da manhã no Palácio da Alvorada. "Com todo o respeito, não é nada. Quantidade para o efetivo das três Forças, obviamente, muito mais usada pelos inativos e pensionistas", minimizou.

O deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) diz ter identificado, no Portal da Transparência e no Painel de Preços do governo federal, oito pregões homologados em 2020 e 2021 para a compra do medicamento conhecido por tratar a disfunção erétil. O líder do PSB na Câmara, Bira do Pindaré (MA), já começou a recolher assinaturas para instalar o que chamou de "CPI do Viagra".

Bolsonaro recebe evangélicos no Palácio da Alvorada nesta manhã em encontro que não consta da agenda oficial do presidente, como orienta a legislação, e no momento em que o governo quer reforçar laços com o segmento religioso para enfrentar o ano eleitoral.
Compra
A compra do remédio comumente usado no tratamento de disfunção erétil, além de remédios para a calvície, foi divulgada pela coluna da jornalista Bela Megale de O Globo. Oito pregões foram realizados por unidades ligadas aos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, de acordo com dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal. 
Nos processos de aquisição, o medicamento é identificado pelo nome do princípio ativo Sildenafila, composição Sal Nitrato (Viagra), nas dosagens de 25 mg e 50 mg. O maior volume, de 28.320 comprimidos, tem como destino a Marinha. Outros cinco 5 mil comprimidos foram aprovados para Exército e outros 2 mil, para Aeronáutica.

Os relatórios também mostraram que a pasta adquiriu substâncias como Minoxidil e Finasterida, os dois principais meios de combate à calvície masculina. O custo foi de R$ 2,1 mil empenhados entre 2018 e 2020.

Após descobrir as compras, que foram autenticadas em 2020 e 2021 e seguem válidas no ano de 2022, o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) apresentou ao Ministério da Defesa uma solicitação na qual pede explicações sobre os processos de compra do medicamento.

"Precisamos entender por que o governo Bolsonaro está gastando dinheiro público para comprar Viagra e nessa quantidade tão alta. As unidades de saúde de todo o país enfrentam, com frequência, falta de medicamentos para atender pacientes com doenças crônicas, como insulina, e as Forças Armadas recebem milhares de comprimidos de Viagra. A sociedade merece uma explicação", declarou o parlamentar.

Depois da divulgação do caso, a Marinha e a Aeronáutica se manifestaram e afirmaram que as licitações visam ao tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), "uma síndrome clínica e hemodinâmica que resulta no aumento da resistência vascular na pequena circulação, elevando os níveis de pressão na circulação pulmonar”.

Ainda de acordo com a instituição, essa síndrome "pode ocorrer associada a uma variedade de condições clínicas subjacentes ou a uma doença que afete exclusivamente a circulação pulmonar", além de ser uma “doença grave e progressiva que pode levar à morte”. Já o Exército não se pronunciou.