Integrantes de escolas de samba acusam Liga-RJ de fraude nos resultados da Série Ouro

Um dos diretores da Liga, Cícero Costa, renunciou o cargo e se disse frustrado com a administração

Desfile da GRES Acadêmicos do Cubango na Marques de Sapucaí, no primeiro dia do Grupo da Série Ouro
Desfile da GRES Acadêmicos do Cubango na Marques de Sapucaí, no primeiro dia do Grupo da Série Ouro -
Rio - Integrantes das escolas de samba da Série Ouro e membros da Liga-RJ, entidade responsável pelo desfile do Grupo de Acesso, fizeram fortes críticas ao resultado da apuração, que aconteceu no início da noite desta terça-feira. A tradicional Império Serrano foi a campeã e vai integrar o Grupo Especial em 2023. Já a Acadêmicos do Cubango e a Acadêmicos de Santa Cruz foram rebaixadas e vão desfilar na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho.
Especialistas apontavam, antes do resultado da apuração, o favoritismo da Império Serrano, mas o resultado das escolas rebaixadas não era esperada pelos carnavalescos que analisaram todos os desfiles. Anderson Baltar, jornalista da Rádio Arquibancada, analisou que as escolas mais desfavorecidas foram a Unidos de Bangu, Unidos da Ponte e Em Cima da Hora. "Como Bangu e Ponte perderam décimos por atraso de tempo, são escolas que estão mais desfavorecidas, mas a Em Cima da Hora também fez um desfile muito cheio de problemas", disse.
Alberto João, editor executivo do site Carnavalesco, também cogitou um possível rebaixamento entre as três citadas anteriormente: "Acredito que a disputa para ficar na Série Ouro esteja entre Em Cima da Hora, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu. A Em Cima da Hora é a mais preocupante. Não vejo outras escolas diferentes dessas três neste bolo contra o rebaixamento".
No entanto, o resultado das rebaixadas levantou questionamentos sobre a administração da Liga-RJ e sua parcialidade. Cícero Costa, diretor de Carnaval da Unidos de Padre Miguel, usou as redes sociais, logo depois da apuração, para comunicar seu afastamento da Diretoria da Liga-RJ. O carnavalesco fez graves acusações sobre a estrutura administrativa do grupo.
"Após passarmos por problemas administrativos em anos anteriores, acreditei e confiei que o processo e toda estrutura administrativa desta nova liga seria diferente das demais, me enganei. Saio com a certeza de que não posso compactuar com todas as injustiças vistas em especial neste último carnaval. O carnaval que deveria ser da retomada, de alegria, terminou sendo de frustração para diversas agremiações que lutaram muito para apresentar um desfile digno na avenida", informa um trecho do comunicado.
A presidente da Cubango, Patrícia Cunha, também questionou o resultado e disse que vai buscar reparação. "Nossa escola não fez um desfile para esse resultado. Um absurdo que indigna o mundo do samba com tamanha injustiça! Ao conferir cada justificativa dos jurados, buscaremos reparar a injustiça cometida, tomando as medidas cabíveis, em todos os âmbitos, para a defesa da Acadêmicos do Cubango", disse.
Neste Carnaval, a Cubango contou a história da atriz Chica Xavier, que atuou em mais de 50 novelas na televisão e estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1956, na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes. Comandada pelo carnavalesco João Vitor Araújo, a escola de Niterói abordou o trabalho de Chica para a TV e os aspectos da vida religiosa da artista.
A Acadêmicos de Santa Cruz ainda não comentou sobre o resultado. A escola homenageou o ator e diretor Milton Gonçalves. O carnavalesco Cid Carvalho preparou uma festa do Catupé, dança das Minas Gerais, terra da infância do artista e escolheu entrelaçar diferentes orixás com as fases de vida do ator na Avenida.
A presidente da escola de samba Tradição, Raphaela Nascimento, também fez acusações sobre um possível "esquema de fraude" dentro da Liga-RJ. A Tradição não teve o seu acesso reconhecido pela Liga para desfilar na Série Ouro e o caso está em andamento no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
Raphaela se indignou com o resultado dos desfiles e disse que as escolas rebaixadas não foram as piores. "Não é sobre desfiles, quesitos, quem é a melhor escola e quem é a pior na pista. É sobre interesses pessoais, financeiros e brigas internas. Até quem não é do Carnaval já sabia há meses que o Império Serrano seria o campeão do Carnaval e a União da Ilha, que fez um brilhante Carnaval, ficou em terceiro lugar. A Unidos de Padre Miguel, impecável, em quinto lugar. Agora desceu a Cubango, que dentro da pista foi uma das melhores, e a Santa Cruz, que fez um grande Carnaval", escreveu em suas redes sociais.
A presidente também disse também que quem deveria ter sido rebaixada era a Em Cima da Hora. "Foi a pior escola e ainda teve a fatalidade de matar uma criança e não dar a mínima assistência para a família da menina. Fora a Bangu que teve vários problemas e a Vigário Geral que há tempos já tinha que ter voltado para a Intendente Magalhães".
Por fim, Raphaela cobrou um posicionamento da Prefeitura do Rio e da RioTur sobre uma intervenção na administração da Liga-RJ.
Procurada, a Liga-RJ disse que não iria comentar sobre nenhuma destas acusações citadas na matéria. O DIA também questionou se a Prefeitura do Rio e a RioTur estudam intervir na Liga-RJ, mas até o momento não houve resposta.