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Samba no pé fortalecido no Rio

Com trajetórias de conquistas, pai e filha mangueirenses explicam a importância da iniciativa do governo para fortalecer a cultura popular

Passista Índio da Mangueira e sua filha Juliana Clara
Passista Índio da Mangueira e sua filha Juliana Clara -
Rio - Tradicional símbolo representativo da cultura popular brasileira, o samba no pé subiu mais um degrau de reconhecimento. Com a lei que torna passistas Patrimônio Cultural do Estado, sancionada este mês pelo governador Cláudio Castro, novas portas podem se abrir para quem faz deste ofício um modo de vida.

Na família do passista Índio da Mangueira, como é popularmente conhecido, o amor pelo samba e pela Estação Primeira de Mangueira pulsa no sangue. Hoje, aos 62 anos, alcançou a marca de 52 anos ininterruptos desfilando na ala de passistas da verde e rosa. Sua filha, Juliana Clara, de 35 anos, segue o mesmo caminho. Desde os dois anos começou a sambar na escola mirim da agremiação e há 12 anos é musa da Mangueira. Entre todos os títulos e troféus que colecionam juntos pela performance e molejo no samba, este de Patrimônio Cultural deixou um gosto especial.

"Confesso que fiquei muito feliz em ver essa sensibilidade cultural do governo em dar esse verdadeiro prêmio para os passistas. A partir de agora vai ser um olhar diferente para quem administra o carnaval e nos deixa em uma posição de poder pleitear novos voos daqui para frente. Quem sabe o passista pode começar a valer ponto no cenário do carnaval? Fica aqui minha gratidão e aplausos por essa iniciativa", destacou Índio.

Para Juliana Clara, que hoje tem no samba sua fonte de renda, o contato com o ritmo envolve um mix de sentimentos que só quem vivencia sabe.

"O samba significa muito para mim. Além de ser o meu trabalho, hoje sou a Juliana Clara da Mangueira, por causa do samba que aprendi e vivo desde pequena. Tenho um respeito imenso, porque o samba é vida. Quando entro na quadra ou vou trabalhar sambando, é como se eu jogasse toda a minha energia ali. Vou para casa tranquila, porque me descarrega e me energiza ao mesmo tempo", contou Juliana.

E para quem acredita que alguns dons vêm do DNA, a família mangueirense já revela um novo talento. Maria Luiza, filha de Juliana, no auge dos seus 6 anos de muito gingado, já demonstra que herdou o talento da mãe e do avô.

"A minha filha tem contato com o samba desde a barriga. Em 2016, quando a Mangueira foi campeã, desfilei grávida de seis meses. Hoje em dia ela liga para o avô e o chama para o samba. Já vem de berço, de sangue", explicou Juliana.

Aos que se perguntam se passista tem idade para parar, Índio que já completou bodas de ouro riscando o chão com seu samba no pé, esclarece:

– Quando querem saber se tenho pretensão de parar, sou obrigado a falar o grande poema do mestre Candeia. Ele diz assim: “A idade não importa, a cor da tua pele não me interessa. Se tem perna torta, se tem perna certa. Basta saber se tem samba na veia. O samba veio de longe, hoje está na cidade, hoje está nas aldeias. Nasceu no passado, vive no presente. Quem samba uma vez, samba eternamente".

Só este ano, foram sancionadas outras duas leis que declaram o mestre-sala e a porta-bandeira Patrimônios Culturais do Rio de Janeiro e a que reconhece o Sambódromo da Marquês de Sapucaí como Patrimônio do Estado. As iniciativas tiveram como objetivo preservar a cultura do samba, da música e da história do carnaval.

"Em todas as mais diversas formas de expressão que a cultura brasileira se apresenta, sem dúvidas, o samba é uma das principais e mais genuínas. Além de trazer alegria para os apaixonados pelo ritmo, contribui significativamente para a geração de emprego e renda. Nada mais justo do que oferecer esse reconhecimento aos passistas, que trazem ainda mais vida para o ritmo", disse o governador.

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