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Mais de 11 mil crianças e adolescentes sofreram abuso sexual desde 2017, aponta levantamento

Boletim foi realizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio

No total, a SES registrou mais de 17 mil casos de violência sexual em todo o estado
No total, a SES registrou mais de 17 mil casos de violência sexual em todo o estado -
Rio - A Secretaria Estadual de Saúde do Rio (SES) divulgou, nesta segunda-feira (30), um boletim contendo as notificações de violência sexual em todo o estado, nos últimos cinco anos. No total, foram 17.480 casos. Desses, 11.607 (66%), eram de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. O levantamento foi realizado no Maio Laranja, mês destinado ao combate à exploração e abuso sexual infantil no Brasil.

A SES ainda apontou que entre as mais de 11 mil notificações de violência sexual, no caso de crianças entre 1 e 4 anos, o pai se destacou como o principal agressor, sendo 24% desses números. Já na faixa etária que compreende de 5 a 14 anos, o crime é mais cometido por amigos e conhecidos.

"As situações de abuso e violência sexual de crianças e adolescentes não podem ficar na invisibilidade e as informações são imprescindíveis para orientar gestores e profissionais de saúde, educação e segurança pública, entre outros, a traçar ações para prevenir e combater esses casos de violência", afirma Eralda Ferreira, coordenadora de Vigilância e Promoção em Saúde da SES.

Segundo a ex-psicóloga do conselho tutelar e perita, especialista em crianças e adolescentes Claudia Melo, o problema pode ser evitado com a conscientização dos pais e responsáveis e com a conquista da confiança dessas crianças. Ela ainda destacou a importância do acolhimento para que se crie uma rede de confiança entre as partes.

"Eu acredito que poderia ser evitado quando você consegue falar sobre esse tipo de crime de uma maneira muito mais aberta e muito mais eficaz dentro de casa, nas escolas, deixando claro para essas crianças o quanto ela pode se proteger, criando com essas crianças um vínculo muito mais forte. Os pais precisam deixar claro desde cedo que essas crianças podem sim confiar neles. Quando esses pais tem uma fala real e verdadeira, cumprindo com a sua palavra, isso cria na criança um vínculo muito forte, a criança começa acreditar e confiar que esse pai e essa mãe sim vai protegê-lo".

Ainda de acordo com Marcia, essa atitude vindo dos responsáveis pode, até mesmo, afastar um possível abusador, visto que pode ser interpretada como um sinal para o adulto de quanto aquela criança tem uma rede de proteção forte e de confiança, que está atenta a ela.

Os dados contidos no boletim contabilizam de 2017 a 2021. De acordo com o levantamento, cerca de 70% dos casos de violência sexual tem como vítimas as mulheres. "Os números existem para dar luz a esses casos. Eles não podem ficar na invisibilidade. Entre os meninos, a faixa etária de 5 a 9 anos é a que registra o maior número de casos de violência sexual, 23,9%. E os meninos com idades entre 1 e 4 anos têm o segundo maior número de notificações deste tipo de violência para o sexo feminino: 20,3%", informa Eralda.

Especialista aponta que número pode ser maior

O alarmante número ainda pode ser maior. De acordo com a psicóloga especialista em crianças e adolescentes Claudia Melo, muitos casos acabam não sendo registrados por conta do abusador ser parte da família da vítima.

"Eu sei que existe muito mais (casos de violência) e que nem todas as denúncias são feitas, infelizmente as pessoas acabam não notificando e passa despercebido por medo de falar sobre o assunto, porque às vezes o abusador é alguém ali muito próximo então acabam não levando o caso adiante".

Para ela, é importante que os responsáveis realizem o acolhimento dessas crianças e adolescentes após um episódio de abuso sexual para que as vítimas não sofram com traumas futuros.

"É muito importante que esses pais acolham essa criança, deem suporte emocional de segurança. A criança pode desenvolver a ansiedade, a depressão, pânico, porque elas não sabem lidar com aquilo e não querem lidar com essa questão porque se sentem culpadas, acreditando naquilo, porque o abusador faz a criança acreditar que ela seduziu, ela queria. Então é importante conversar com a criança sobre e dissolver todo esse tipo de pensamento que ela tem em relação a a si própria e as consequências do ato", explica.

O boletim elaborado pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES), com base nos registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), alimentado por unidades de todo o estado. Nos casos de violência contra crianças, adolescentes e idosos, as unidades comunicam as ocorrências ao Conselho Tutelar e ao Conselho do Idoso obrigatoriamente.