Tim Lopes: morte do jornalista completa 20 anos com série de homenagens

Uma instalação com fotos do repórter foi colocada na Cinelândia. Ato na Abraji também marca a data

Jornalista Tim Lopes, assassinado por traficantes em 2002
Jornalista Tim Lopes, assassinado por traficantes em 2002 -
Rio - A morte do repórter Tim Lopes completa 20 anos nesta quarta-feira (2) com um dia repleto de homenagens. Ele foi assassinado no dia 2 de junho de 2002, aos 52 anos, em um dos crimes mais chocantes da época.
Atualmente, entre os sete condenados pelo crime, dois morreram, entre eles, o Elias Maluco, encontrado morto em uma cela no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, em 2020. O criminoso foi o mandate do assassinato do jornalista. O outro, Xuxa, foi morto durante uma troca de tiros com o Bope e, 2013. Entre o restante, quatro estão em liberdade e um permanece preso.

Uma instalação com fotos de Tim Lopes, acompanhada de um texto do jornalista Alexandre Medeiros, foi instalada na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores do Rio, nesta manhã. Alexandre, grande amigo de Tim, falou sobre a importância de relembrar a trajetória do jornalista durante esse período de ataques à figuras jornalísticas.

"Eu acho que é muito simbólico esse esses vinte anos dele nesse momento em que a imprensa está tendo tão atacada de diversas formas e o jornalista, no seu trabalho diário, também tem sido vítimas de agressões, de ataques. E a morte dele representa um pouco da imprensa livre, do exercício livre, da profissão. Então acho que nesse momento muito importante que que a gente sempre lembre da trajetória do Tim e do sacrifício dele", expôs. E completou, contando sobre sua vivência ao lado de Tim.

"Ele era superamigo meu, meu compadre, a gente se via sempre, um frequentava a casa do outro, ele sempre almoçava aqui em casa fim de semana, muitas vezes a gente tinha programa juntos, ia pra samba, pra Portela, pra Mangueira. Trabalhei com ele em várias redações. A gente estava escrevendo um livro juntos, que eu espero concluir esse ano ainda, que é um livro sobre sambistas que nunca tiveram o devido reconhecimento. Muito naquela pegada do Tim, né? De dar visibilidade de quem merece foi um pouco a pegada da vida inteira dele na no jornalismo."

Por volta das 10h, família e amigos do repórter se reuniram em uma missa no Santuário Cristo Redentor, em Santa Teresa. A celebração teve transmissão ao vivo no canal do Youtube.

Na parte da tarde, às 16h, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), irão realizar um ato em homenagem a Tim, que será feito no auditório do 9º andar da instituição, localizada na Rua Araújo Porto Alegre, 71, no centro da cidade.

A ABI também destacou a importância de retomar a memória a história de Tim. "No momento em que crescem os ataques a jornalistas — e à própria imprensa — no país, os 20 anos da morte de Tim Lopes se revestem de grande simbolismo. Segundo dados da Fenaj, foram registrados 430 ataques a jornalistas em 2021, o maior número desde que foi iniciado o levantamento, na década de 1990".

Tim Lopes já tinha mais de 30 anos de carreira quando foi brutalmente assassinado e já estava habituado a fazer matérias do mesmo tipo. Na época, ele decidiu fazer a reportagem após receber denúncias de moradores da comunidade Vila Cruzeiro de que menores estavam sendo obrigadas pelos traficantes a participar dos bailes, usar drogas e se prostituir.

O crime

O gaúcho Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, desapareceu no dia 2 de junho de 2002, enquanto fazia uma reportagem na comunidade Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio, sobre abuso de menores e tráfico de drogas em baile funks.

O repórter passou uma semana desaparecido até a polícia confirmar seu assassinato, no dia 9 de junho. Durante as investigações, testemunhas relataram que Tim teria sido sequestrado, torturado, julgado e morto por um grupo de traficantes liderados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco.

Depois de ser executado, o corpo de Tim foi carbonizado no que é chamado de "microondas", uma espécie de fogueira de pneus, onde a vítima é colocada entre eles. Os restos mortais do jornalista foram encontrados em um cemitério clandestino no alto da comunidade.

Com a demora do exame de DNA, que só ficou pronto quase um mês depois, no dia 5 de julho, confirmando que os restos mortais encontrados eram pertencentes a Tim, o enterro do jornalista ocorreu somente no dia 7 de julho.

Os condenados

No total, sete pessoas foram presas pelo crime e levados a julgamento em 2005. Elias Maluco, mandante do crime, foi preso no dia 19 de setembro de 2002, pouco mais de três meses após a morte do jornalista.

Elias Maluco teve a maior pena entre os integrantes do grupo e foi condenado a 28 anos e seis meses de prisão. Elizeu Felício de Souza, o Zeu, Reinaldo Amaral de Jesus, o Cadê, Fernando Sátyro da Silva, o Frei, Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho, e Claudino dos Santos Coelho, o Xuxa, foram sentenciados a 23 anos e seis meses de detenção. Já Ângelo Ferreira da Silva, o Primo, recebeu pena de 15 anos.