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PM apura conduta de agentes que decapitaram ursos de pelúcia na Penha

Policiais mutilaram bichos de brinquedo e fincaram em estacas para ameaçar traficante Edgar Alves, conhecido pelo apelido Urso, durante operação na Vila Cruzeiro

Cabeças de ursos de pelúcia são fincadas em barricadas na operação. Cordão do Doca é um urso (detalhe)
Cabeças de ursos de pelúcia são fincadas em barricadas na operação. Cordão do Doca é um urso (detalhe) -

Rio - A Polícia Militar irá apurar a conduta de policiais que decapitaram ursos de pelúcia durante a operação na Vila Cruzeiro, no dia 23 de maio. Urso é outro apelido do traficante Edgar Alves, também chamado de Doca. A ação policial na comunidade, em conjunto com as polícias federal e rodoviária federal, deixou 24 mortos.

Os dois ursos de pelúcia grandes foram encontrados no chamado Campo da Vacaria, local que seria utilizado por Doca para torturar desafetos e que teria até um cemitério clandestino. Teria sido nesse local, por exemplo, que ele executou traficantes do Morro do Castellar, em Belford Roxo, que participaram do assassinato de três crianças, no ano passado. Segundo a polícia, as execuções ocorreram após o caso ganhar repercussão nacional.

Testemunhas afirmaram que agentes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) usaram facas para cortar as cabeças dos ursos de brinquedo e fincar em estacas, que estavam em uma barricada. O obstáculo foi colocado por traficantes para dificultar a locomoção da polícia pelas ruas. A ação dos policiais seria uma ameaça a Doca, gerente-geral do tráfico da Vila Cruzeiro e chefe da chamada Tropa do Urso - grupo de criminosos subordinados a ele.

Doca ou Urso está foragido e, de acordo com informações de inteligência, teria se refugiado com outros chefes na favela da Rocinha, que possui mais fuzis. Ele possui 77 anotações criminais e é um dos principais procurados do Comando Vermelho.

Porta-voz da PM cita filósofo

O Porta-voz da Polícia Militar, coronel Ivan Blaz, citou o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) para analisar a situação. "Nietzsche já falava das dificuldades de se combater monstruosidades com o grande risco de se transformar em monstros também", disse.

E completou: "Então, ao observarmos atitudes como essa, que ainda será apurada se foram realmente policiais, mas dada algumas posturas adotadas por agentes, principalmente em redes sociais, há sim uma proximidade quase que emocional desse combate, desse enfrentamento. Há um envolvimento emocional por parte de policiais, eles já viram amigos morrerem, amigos feridos por conta dessa violência promovida por essas quadrilhas, sobretudo por essa quadrilha desse marginal que atende pela alcunha de Urso. Então, é de se esperar que haja esse envolvimento. Tem que ter um acompanhamento desse policial para que ele não se envolva".

Especialista: 'tática de terror'
Para a especialista em Segurança Pública, Silvia Ramos, a ação dos policiais é uma tática de terror. "A polícia do Rio de Janeiro faz operações nas favelas como principal estratégia de Segurança Pública, em vez do uso da inteligência para desarticular quadrilhas criminosas. São mais de mil mortes decorrentes de ações policias todos os anos e as quadrilhas continuam fortes. Os detalhes do uso de recursos de ironia e humilhação nessas operações, dentro de favelas, revelam uma polícia que tenta usar o terror porque perdeu a legitimidade e o respeito", criticou. A Polícia Militar afirmou que trabalha dentro da legalidade e qualquer desvio será apurado.

Atualmente, o Ministério Público do Rio e o Ministério Público Federal abriram procedimentos para apurar a excepcionalidade da operação e possíveis abusos de autoridade.
 

Para a especialista em Segurança Pública, Silvia Ramos, a ação dos policiais é uma tática de terror. "A polícia do Rio de Janeiro faz operações nas favelas como principal estratégia de Segurança Pública, em vez do uso da inteligência para desarticular quadrilhas criminosas. São mais de mil mortes decorrentes de ações policias todos os anos e as quadrilhas continuam fortes. Os detalhes do uso de recursos de ironia e humilhação nessas operações, dentro de favelas, revelam uma polícia que tenta usar o terror porque perdeu a legitimidade e o respeito", criticou. A Polícia Militar afirmou que trabalha dentro da legalidade e qualquer desvio será apurado.

Atualmente, o Ministério Público do Rio e o Ministério Público Federal abriram procedimentos para apurar a excepcionalidade da operação e possíveis abusos de autoridade.
 

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