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Falsas videntes tiram R$ 725 milhões de idosa, inclusive obras de Tarsila do Amaral

Operação 'Sol Poente' visa prender quadrilha. Filha da vítima ajudou no golpe e manteve mãe em cárcere privado; quadros foram parar em museu da Argentina

Quadro 'Sol Poente' (1929), óleo sobre tela de Tarsila do Amaral dá nome à operação
Quadro 'Sol Poente' (1929), óleo sobre tela de Tarsila do Amaral dá nome à operação -
Rio - Na manhã desta quarta-feira, 10, a Polícia Civil realiza a operação 'Sol Poente' para prender integrantes de uma quadrilha que se apresentaram como videntes e roubaram de uma idosa cerca de R$ 725 milhões entre obras de artes, joias e dinheiro. No total, foram expedidos seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão em endereços localizados nas zona sul e norte do Rio. Até às 7h, quatro alvos haviam sido presos.
A operação ocorre após a idosa, de 82 anos, viúva de um marchant (negociador de obras de arte), ter sido ludibriada pelo grupo que ofereceu tratamento espiritual para uma de suas filhas em troca de vultuosos pagamentos. Ao desconfiar que a ação fosse um golpe, a idosa não quis mais realizar as remessas de dinheiro, ocasião em que passou a ser mantida em cárcere privado, em seu apartamento na Zona Sul, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, pela própria filha. A idosa descobriu, então, que todo o golpe havia sido articulado pela filha, que também passou a vender obras de arte para uma galeria em São Paulo. 
Durante o cárcere, a idosa era agredida pela filha, privada de comida e até chegou a ter uma faca colocada em seu pescoço para realizar a transferência de dinheiro. 
Entre as obras levadas pela filha para a venda na galeria estavam 'O Sono', de Tarsila do Amaral; 'O menino', de Alberto Guignard; 'Mascaradas', de Di Cavalcanti; 'Maquete para o meu espelho'; de Antônio Dias; e 'Elevador Social'; de Rubens Gerchman. Duas obras foram vendidas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina, e ainda não foram recuperadas. 
A investigação, realizada pela Deapti (Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade), intimou o responsável pela galeria em São Paulo que devolveu os quadros que não haviam sido vendidos, o que fez a idosa reaver cerca de 40% do valor desviado. 
A Deapti identificou os seguintes nomes como integrantes da organização criminosa: Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic; Jacqueline Stanescos; Rosa Stanesco Nicolau; Ronaldo Ianov; Slavko Vuletic; e Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger. A reportagem não irá divulgar o nome da filha para preservar a idosa. 
Relembre outro caso de golpe de supostos videntes
Atendendo em uma casa na Rua Pereira Nunes, Maria Cristina dos Nascimento, Inaiara Lúcia Farias Gonçalves e Merian Greco Petrovich chegaram a tirar somente de uma vítima, idosa de 71 anos que sofre da doença de Parkinson, R$300 mil, oferecendo possíveis soluções místicas. De uma senhora de 73 anos levaram todas as suas joias, avaliadas em R$ 40 mil, além de R$11.900. Através de convencimento, elas falavam que precisavam das quantias para rezas e trabalhos espirituais.
Na ocasião, Lhuba Batuli, da Fundação Santa Sara kali, explicou que para uma pessoa não-cigana é difícil reconhecer quem é estelionatário. "O curso de baralho cigano está disponível em sites e há livros sobre o assunto. Golpistas existem em todos os lugares", disse.