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Operação do Gaeco prende Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil

Candidato a deputado federal, ele foi detido por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. Delegados Antonio Ricardo e Maurício Demétrio também são alvos

Ex-secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, deixou o cargo para concorrer nas eleições de 2022
Ex-secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, deixou o cargo para concorrer nas eleições de 2022 -
Rio - O ex-secretário de Estado de Polícia Civil, Allan Turnowski, foi preso na manhã desta sexta-feira (9), durante uma operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. A ação também cumpriu um mandado de prisão contra o delegado Maurício Demétrio, que está preso desde o ano passado. Os agentes ainda pretendem prender Marcelo José Araújo de Oliveira, que fazia pagamentos de propina da contravenção ao ex-chefe da Polícia Civil.
A operação ainda espera cumprir 22 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos estão o delegado Antonio Ricardo Lima Nunes, ex-diretor do Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa. Na casa dele, os agentes apreenderam quatro aparelhos celulares, sendo um de uso pessoal e outros três antigos. Allan Turnowski foi preso em sua casa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, e chegou à corregedoria da Polícia Civil, por volta das 9h, para prestar depoimento.
Na residência dele, os agentes do Gaeco apreenderam um fuzil, outras armas e celulares. Uma mandado de busca e apreensão também foi cumprido em seu escritório, no Centro do Rio. Candidato a deputado federal pelo Partido Liberal (PL), ele estava afastado do cargo de secretário desde início deste ano, por conta das eleições. Em 1º de abril, o ex-secretário foi substituído por Fernando Albuquerque, que era subsecretário de Inteligência da pasta. 
De acordo com o MPRJ, Turnowski recebeu propina do jogo do bicho e tem envolvimento em um plano para matar o bicheiro Rogério Andrade. Ele é acusado dos crimes de organização criminosa, corrupção e violação de sigilo funcional. A ação faz parte das investigações sobre um esquema de propina do delegado Maurício Demétrio, preso em 30 de junho 2021, por extorquir comerciantes de Petrópolis.
"Allan Turnowski atua como agente duplo na disputa entre os bicheiros. De modo dissimulado, aproveita seus vínculos com integrantes do grupo de Rogerio de Andrade, tais como Ronnie Lessa e Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, para repassar informações para seu comparsa Mauricio Demétrio, potencializando a atuação da dupla em benefício do grupo então liderado por Fernando Iggnácio. Os delegados de polícia mantinham rotina intensa de contatos e aconselhamento mútuo, na qual tratavam sobre recebimento de propina, vazamento de informações sobre investigações, estratégias para galgarem cargos estratégicos na corporação e necessidade de se protegerem mutuamente da atuação de investigadores", informa o MPRJ em nota.
Segundo o advogado de defesa de Turnowski, Fernando Drumond, a prisão do ex-secretário sem que a decisão do juiz fosse apresentada é "ilegal": "O mandado de prisão não tem fundamento nenhum, não tem decisão do juiz que decretou a prisão. É Kafkaniano. É uma decisão nula. É ilegal. Você tem que saber pelo que você está sendo preso", afirmou Drumond, que já entrou com habeas corpus para anular a prisão.
Outro alvo da operação do MPRJ, o delegado Antônio Ricardo estava licenciado das suas funções para concorrer à deputado estadual, pelo partido Podemos. 
A advogada do ex-diretor, Adriana Galucio, esteve na corregedoria na manhã desta sexta e relatou que ainda não teve acesso a inquéritos ou processos. De acordo com a defensora, os agentes disseram apenas que a ação tem ligação com uma investigação contra Demétrio. Entretanto, ela reforçou que o candidato não tem ligação com o preso.
"Ele não tem a menor ideia do que seja, porque ele não tem nenhum acesso a esse delegado, não tem amizade, não é amigo, sequer trabalharam juntos (...) Podem vasculhar a vida dele toda, quebra de sigilo, pode ficar à vontade. Ele está à disposição, toda a vida dele está disponível para fazer qualquer investigação, porque ele não deve nada, não tem nada a temer", afirmou a advogada. Segundo Galucio, a operação não atrapalha a candidatura do Antônio Ricardo, porque ele está na condição de investigado, mas a defesa suspeita de perseguição política.
"O doutor Antônio Ricardo tem 23 anos de delegado sem uma mácula na sua ficha. É muito suspeito, em véspera de eleição, já que ele está vindo candidato a deputado, aparecer uma busca e apreensão na casa dele, onde nada de ilícito foi encontrado e isso vai ficar provado no decorrer do processo, assim que eu tiver ciência do que ele está sendo acusado (...) Nós suspeitamos que seja alguma perseguição de viéis político, porque é muito estranho, as vésperar da eleição, aparecerem um mandado de busca e apreensão de um processo que ele nunca foi intimado para responder, para depor em nada. É bem suspeito", declarou Galucio.
A Polícia Civil informou que a Corregedoria-Geral (CGPOL) ainda não recebeu cópia da denúncia para poder se manifestar sobre a ação. A nota ressalta que "foi na atual gestão do Governo do Estado do Rio de Janeiro que os três chefes das principais facções da contravenção, Rogério Andrade, Bernardo Bello e José Caruzzo Escafura, o "Piruinha", foram investigados e tiveram os pedidos de prisão solicitados à Justiça".
De delegado a secretário de Polícia Civil
Allan Turnowski estava há 27 anos na Polícia Civil. Em sua passagem pela instituição ele foi diretor de Polícia da Capital e Especializada, além de titular das delegacias de Roubos e Furtos de Carga (DRFC); Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ele também foi delegado da Corregedoria Interna e da 16ª DP (Barra da Tijuca), além de várias distritais do interior do estado.
Entre os anos de 2010 e 2011, durante o governo de Sérgio Cabral, Turnowski foi chefe da Polícia Civil, mas deixou a pasta depois que uma investigação da Polícia Federal apontou que ele teria vazado uma operação. O delegado chegou a ser indiciado por quebra de sigilo funcional, baseado na gravação de uma conversa com um inspetor da instituição preso pela PF na Operação Guilhotina.

Entretanto, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) decidiu não denunciar o ex-chefe e arquivou o inquérito, depois que concluiu que não havia comprovação de que ele tinha conhecimento prévio sobre a realização da operação. Em 2020, o delegado foi nomeado secretário de Estado de Polícia Civil, cargo que ocupou até março deste ano, quando se licenciou para concorrer nas eleições de 2022 pelo Partido Liberal.

Em sua gestão, a Polícia Civil deu início à uma força-tarefa de combate à milícias, que já prendeu mais de mil criminosos e ocasionou um prejuízo de aproximadamente R$ 2,5 bilhões a grupos paramilitares. Foi também durante a chefia de Turnowski que a instituição realizou a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, que terminou com a morte de 28 pessoas, entre elas, um policial civil.

No ano de 2012, o ex-chefe teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apreendida depois de se recusar a fazer o teste do bafômetro em uma blitz da Lei Seca, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele acabou multado em mais de R$ 950 e perdeu sete pontos, infração considerada gravíssima. O veículo do delegado só foi liberado após um condutor habilitado ter se apresentado.
Ex-secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, deixou o cargo para concorrer nas eleições de 2022 Marcos Porto/Agencia O Dia
Allan Turnowski foi preso por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho Marcos Porto/Agencia O Dia
Allan Turnowski já foi titular de diversas delegacias do Rio ARQUIVO O DIA
Allan Turnowski já havia sido chefe da Polícia Civil entre 2010 e 2011 Marcos Porto/Agencia O Dia
Gestão de Allan Turnowski foi responsável por prisão de mais de mil milicianos Marcos Porto/Agencia O Dia
Durante gestão de Allan Turnowski, a Polícia Civil realizou a operação mais letal do Rio de Janeiro Arquivo/Agência O Dia
Ex-secretário é candidato a deputado federal pelo Partido Liberal (PL) Cléber Mendes/Agência O Dia
Allan Turnowski estava na Polícia Civil há 27 anos Cléber Mendes / Agência O Dia
Agentes do Gaeco apreenderam fuzil na residência do delegado Allan Turnowski Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Ex-secretário Allan Turnowski chegou à Corregedoria da Polícia Civil por volta das 9h Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Delegado Allan Turnowski foi preso em sua casa, na Barra da Tijuca Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Agentes do Gaeco chegaram à Corregedoria da Polícia Civil com fuzil de ex-secretário dentro de uma bolsa Reginaldo Pimenta/Agência O Dia