Rio - Após a Justiça mandar soltar, na última sexta-feira (9), o sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, acusado de matar a tiros Durval Teófilo Filho, de 38 anos, a viúva do repositor falou da angústia vivida por ela e pela família desde a morte do marido. Luziane Teófilo reforça a acusação que o crime fora motivado por questões diferentes da defendidas pelo autor do crime.
A defesa do militar entrou com pedido de um novo habeas corpus, que foi aceito pelo desembargador Cairo Ítalo França, da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Em contato com o MEIA HORA, Luziane contou que viu com revolta a decisão e que, desde a data do fato, 2 de fevereiro, não teve a paz necessária para viver seu luto.
"Eu, sinceramente, não esperava por essa soltura. Fiquei indignada. Desde o dia 2/2/2022, data do assassinato, eu não tive paz. Eu perdi a minha liberdade. Até hoje, eu não consegui viver o meu luto. Tá muito difícil!", desabafou.
Após o crime, parentes tiveram que se mudar do condomínio. Ainda de acordo com a viúva, ela chegou a receber ameaças "veladas" que teriam partido de vizinhos e conhecidos de Aurélio. Ao menos dois comentários colocaram em dúvida a segurança da viúva e sua filha, fazendo com que preferisse por não ficar mais no local.
Aurélio foi filmado atirando em Durval na porta do condomínio onde ambos moravam, no bairro Colubandê, em São Gonçalo, em fevereiro deste ano. As imagens mostram o repositor abrindo a mochila para pegar uma chave e o sargento disparando três vezes de dentro do carro. Em depoimento, Aurélio afirmou que atirou por achar que seria assaltado pelo vizinho.
O sargento admitiu que não conseguia ver com clareza o objeto que Durval carregava e disse que, ao ouvir do homem que ele também era morador de seu condomínio, prestou socorro. Para a família, o homem foi assassinado por ser negro, a partir da premissa do militar de que a vítima poderia ser um assaltante.
"Da forma que o assassino agiu, eu não tenho dúvidas que foi racismo, sim. Ele conhecia muito bem o meu esposo. O Aurélio tinha fama de ser muito arrogante. Ele escolhia a dedo quem ele iria cumprimentar no condomínio", afirmou Luziane.
De acordo com a decisão do TJ-RJ, o sargento está proibido de mudar de endereço ou se afastar da comarca onde reside, por mais de oito dias sem autorização judicial e não pode manter contato com parentes da vítima, por qualquer meio de comunicação. A determinação também destaca que ele deve cumprir as seguintes medidas cautelares: comparecimento em juízo até o dia 10 de cada mês, prestação de conta de suas atividades, comparecer em juízo, sempre que for notificado.
A defesa da família emitiu nota à imprensa na noite de sábado (10), informando que todos estão "consternados com toda situação e clamam por justiça". Segundo o advogado Luiz Carlos Aguiar, já há um recurso protocolado no Plantão Judiciário para reverter a decisão pela soltura.
Até o momento, o mandado de soltura de Aurélio não foi cumprido e ele segue preso.

