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Homem suspeito de manter esposa e filhas em cárcere privado por mais de 20 anos segue foragido

Caso foi descoberto pela Polícia na última quinta-feira (29), em Valença, na Região Sul Fluminense

Vítimas juntaram os pertences e foram para casa de parente
Vítimas juntaram os pertences e foram para casa de parente -
Rio - Policiais seguem à procura de José do Carmo João, de 60 anos, suspeito de manter em cárcere privado a mulher e duas filhas por 22 anos em uma casa simples de condições precárias no município de Valença, no Sul Fluminense. O cativeiro foi descoberto na última quinta-feira (29) após a Polícia ter sido chamada para averiguar denúncia de ameaça do homem a vizinhos. Ao notar a chegada dos agentes, ele foi visto correndo para uma área de mata e não foi mais localizado.
O delegado da 91ª DP (Valença), Flávio Almeida Narcizo, explicou que, por força da lei eleitoral, José do Carmo só poderá ser detido após o pleito do 1º turno, já que, nesse período, só são permitidas prisões em flagrante, como seria o caso na hipótese do suspeito não ter conseguido fugir. Contudo, o titular acrescentou que a Polícia mapeia possíveis locais onde ele possa estar escondido. A mãe, de 48 anos, e as duas filhas, de 25 e 19, segundo Narcizo, já receberam a visita de assistentes sociais e estão na casa da irmã da esposa, que sequer sabia que ela estava viva pelas duas décadas sem ter contato.
"O homem conseguiu um emprego para trabalhar nessa fazenda, com criação de gado extensivo, roçado de terra, um vínculo totalmente informal. E, a partir daí, ele começa a ter uma vida escondida e submete a mulher e a primeira filha a esse tipo de vida. A segunda filha dele nasceu dentro dessa casa, num parto normal. As duas meninas nunca foram ao médico, nunca foram à escola, são analfabetas. Elas nunca tiveram contato com pessoas, com homens, com funcionários da fazenda", explicou o delegado nesta sexta-feira (29).
As investigações apontaram que a esposa também era proibida de sair de casa e de manter contato com parentes, que acreditavam que ela teria morrido, porque não tinham notícias dela há muitos anos. A mulher teria tentado fugir diversas vezes, mas sempre era perseguida pelo marido e submetida à agressões e ameaças. Já as filhas não eram vítimas de violência física, mas não tinham acesso à televisão ou aparelhos de celular, além de serem impedidas de conviverem com outras pessoas que não do núcleo familiar. Não houve relatos de abuso sexual por nenhuma das mulheres.
Na casa, os policiais civis encontraram grande quantidade de munições e armas, entre elas uma espingarda e uma escopeta, que foram apreendidas. Além do mandado de prisão por homicídio qualificado, agora o homem também passa a ser investigado e procurado pelos crimes de cárcere privado, porte ilegal de armas, abandono material e intelectual e ameaça.
Em novas imagens divulgadas pela polícia, ficam nítidas as condições bastante precárias do imóvel onde as três mulheres viviam com o homem. Era uma casa simples, aparentemente pequena e em condições ruins de conservação ao se notar a estrutura da construção exposta e janela bem rudimentar.
"Na medida das nossas possibilidades, o que a gente precisa é fechar essa história, não só com a inserção dessas três mulheres numa rede de proteção, para poderem recomeçar a vida delas, entender o que é um médico, entender o que é uma escola, o que são pessoas, como também fechar todo esse ciclo com a efetiva captura desse cara, que é foragido da Justiça desde 2006. A gente vai fazer oitiva dos proprietários da fazenda e dois demais funcionários, para saber o que aconteceu. Como essas pessoas, durante 20 anos, não perceberam que tinha três mulheres dentro daquela casa?", completou o titular.
Essa é a mesma pergunta que pessoas têm feito nas redes sociais. Em páginas locais em que o fato é compartilhado, não é difícil notar o espanto com a notícia e o questionamento de alguns em como ninguém, sejam moradores próximos ou até mesmo funcionários do serviço social municipal, descobriu ou, ao menos, suspeitou desse cativeiro anteriormente.
Procurada, a Prefeitura de Valença não retornou os contatos da reportagem até o fechamento da matéria.