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Judeus nos Estados Unidos lutam contra novo antissemitismo que inunda redes sociais

O Twitter suspendeu na sexta-feira a conta do cantor Kanye West, depois que ele publicou a imagem de uma suástica entrelaçada com uma estrela de David

Rapper Kanye West disse amar Hitler
Rapper Kanye West disse amar Hitler -
Discursos de ódio e contra os judeus, proferidos por figuras públicas e divulgados nas redes sociais, motivaram a condenação enfática do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao antissemitismo na sexta-feira, 2, afirmaram analistas. "Silêncio é cumplicidade", destacou Biden no Twitter.
"O Holocausto aconteceu. Hitler era uma figura demoníaca. E, em vez de oferecer uma plataforma, nossos líderes políticos deveriam denunciar e rejeitar o antissemitismo", acrescentou.
O presidente democrata se pronunciou um dia depois de o magnata do hip-hop Kanye West declarar durante o programa "Infowars", apresentado pelo teórico da conspiração Alex Jones, que "ama" os nazistas.
O Twitter suspendeu na sexta-feira a conta do artista, depois que ele publicou a imagem de uma suástica entrelaçada com uma estrela de David. "Eu amo Hitler", declarou West em diversos momentos, o que provocou indignação nas redes sociais.
Além disso, há 10 dias o ex-presidente Donald Trump participou em um jantar com Kanye West e o supremacista branco Nick Fuentes, o que rendeu muitas críticas da Casa Branca e inclusive do Partido Republicano.
As controvérsias evidenciam a difícil luta de uma nova geração contra memes e teorias da conspiração, como a da comunidade QAnon, sobre os judeus, afirma os especialistas.
"Quando você tem celebridades que promovem o antissemitismo clássico como Kanye West, que tem mais seguidores no Twitter do que o número de judeus no planeta Terra, isto vai fazer parte da discussão pública", declarou à AFP Oren Segal, da ADL, organização que denuncia o ódio e o antissemitismo.
"Essa normalização não é algo que começou apenas quando Kanye perdeu a cabeça. É algo que observamos na opinião pública, francamente, há muito tempo", completou Segal.
Para Segal, o trumpismo é um fator importante. "Se o trumpismo é entendido como a normalização da desinformação e das teorias da conspiração, a normalização do antissemitismo não está muito longe", disse.
Isto tem consequências reais, como os ataques extremistas fatais contra sinagogas de Pittsburgh (Pensilvânia) e Poway (Califórnia), em 2018 e 2019.
O fato de West e celebridades como o astro do basquete Kyrie Irving (que recentemente fez um post antissemita) serem afro-americanos provoca um alerta sobre uma onda de antissemitismo entre negros e jovens de minorias.
As redes sociais contribuíram, com a possibilidade de armazenar e compartilhar com facilidade qualquer tipo de conteúdo, inclusive as mensagens de ódio. A aquisição desordenada do Twitter por Elon Musk demonstrou a velocidade com que material censurável de qualquer tipo pode retornar se uma plataforma não for extremamente diligente.
Segal disse que os maiores problemas são o "ecossistema" de plataformas baseadas em algoritmos como o TikTok e os serviços de mensagens e discussão, como Telegram e Reddit, praticamente sem censura, onde são formadas comunidades baseadas no antissemitismo.
"É um ambiente online tóxico, onde as pessoas mais vulneráveis estão obtendo sua visão de mundo, onde acredito que estamos começando a ver as consequências", explica Segal.
Para Cheryl Greenberg, professora do Trinity College, a única resposta é trabalhar de maneira mais próxima com outros grupos, inclusive com os que criticam Israel, para manter o antissemitismo sob controle. "É algo interminável, porque assim que as pessoas esquecem, saímos do radar", disse.