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Projeto de acordo na Conferência de Biodiversidade da ONU pretende proteger 30% do planeta

Texto apresentado pela China inclui defesa dos povos indígenas

Segundo Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature, esse é o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra
Segundo Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature, esse é o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra -
Proteger 30% do planeta e aumentar a ajuda internacional à natureza são as propostas do projeto de acordo apresentado neste domingo (18) pela China na cúpula da ONU em Montreal, um texto que tenta responder à necessidade de ações urgentes para salvar a biodiversidade.
Os países devem aprovar na segunda-feira (19), com base nesta proposta, qual será o roteiro para a próxima década para travar a perda acelerada de espécies e a degradação dos ecossistemas.
A meta de proteger 30% das terras e dos mares do planeta até 2030, anunciada como ponto-chave dessas negociações, consta na proposta da China, que preside a cúpula.
A proteção dos povos indígenas, guardiões de 80% da biodiversidade da Terra, também é mencionada, demanda amplamente reivindicada pelos representantes dessas comunidades na cúpula.
Em uma tentativa de resolver a espinhosa questão financeira, a China também propõe arrecadar "pelo menos US$ 20 bilhões" em ajuda internacional anual até 2025 e "pelo menos US$ 30 bilhões até 2030".
Os países em desenvolvimento pedem 100 bilhões de dólares por ano dos países ricos. Isso representa dez vezes a ajuda atual para a biodiversidade.
Após a divulgação do projeto do acordo, novas e intensas negociações são esperadas até esta noite, quando ocorrerá uma nova sessão plenária.
A proteção de 30% do planeta é "o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra", disse Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature.
"A conservação nesta escala dá uma chance à natureza. Se aprovada, as perspectivas para leopardos, borboletas, tartarugas marinhas, florestas e populações melhorarão acentuadamente", acrescentou.
No entanto, Sue Lieberman, da ONG Wildlife Conservation Society, observou que "alguns aspectos não são ambiciosos o suficiente e se concentram em 2050, um futuro muito distante".
Os cientistas alertam que o tempo é curto: 75% dos ecossistemas foram alterados pela atividade humana e mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção.
"Não é um documento perfeito nem um documento que deixa todos felizes, mas é um documento baseado nos esforços de todos nós nos últimos quatro anos", afirmou Huang Rinqiu, ministro do Meio Ambiente da China, no sábado.
"Fizemos enormes progressos", comemorou o seu homólogo do Canadá, Steven Guilbeault, co-anfitrião do evento, que não foi realizado na China devido à covid-19.
Este acordo deve suceder ao plano de dez anos assinado no Japão em 2010, que não conseguiu atingir quase nenhum dos seus objetivos, falha atribuída à falta de mecanismos de monitoramento, algo que o atual projeto de acordo prevê.
Mas os detalhes dos vinte objetivos ainda estão em debate.
Além dos subsídios, os países de baixa renda também pressionam fortemente pela criação de um fundo global dedicado à biodiversidade, como o obtido em novembro na cúpula do clima no Egito.
Mas os países ricos, especialmente a França, mostram resistência, preferindo reestruturar o existente Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FMAM), bem como buscar no setor privado e em doações filantrópicas.
"Imagine uma partida de futebol com 200 times no mesmo campo ao mesmo tempo", disse o brasileiro Braulio Dias, ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica. "É isso que estamos tentando fazer aqui!"