Escravidão no Rio em pleno século 21

Campos e São Francisco de Itabapoana batem recorde desse crime em todo o estado

Desde 1995, muitos escravizados foram resgatados em regiões onde se cultiva a cana-de-açúcar
Desde 1995, muitos escravizados foram resgatados em regiões onde se cultiva a cana-de-açúcar -

Entre 2020 e 2022, na cidade do Rio, pelo menos 26 imigrantes em situação análoga à escravidão, vindos da China, Venezuela, Paraguai e Congo, foram atendidos no Projeto Ação Integrada, em parceria com a Cáritas Arquidiocesana do Rio. O maior número de casos de trabalho escravo está em Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana. Um estudo do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi base de um seminário, neste mês, na Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 1ª Região.

"O seminário teve muita importância porque a gente pode discutir com os juízes e com a academia as repercussões da alteração do artigo 149, que está fazendo 20 anos. A partir disso, houve a inclusão de novos elementos tipificadores do crime de trabalho análogo ao escravo, que é a jornada exaustiva, a dívida, o trabalho forçado e condições degradantes", disse a procuradora Guadalupe Couto, do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Segundo ela, não houve a verdadeira abolição da escravatura e ainda há empresas que se utilizam dessa forma exploratória de trabalho. A maioria dos escravizados são negros. "Mas isso não significa que não há trabalhadores amarelos, como chineses, ou brancos também resgatados. A maioria também tem baixa escolaridade, então essas pessoas se submetem a essas condições justamente porque precisam de um emprego", diz Guadalupe.