Garçom vítima de acidente de ônibus na Avenida Brasil é sepultado

Família de Rodolfo Willian Nunes de Oliveira, 30 anos, reclama da falta de socorro imediato no momento do acidente

Mulher de Rodolfo Willian Nunes de Oliveira se despede do marido, vítima de um acidente de ônibus na Avenida Brasil
Mulher de Rodolfo Willian Nunes de Oliveira se despede do marido, vítima de um acidente de ônibus na Avenida Brasil -
Rio – Rodolfo Willian Nunes de Oliveira, 30 anos, foi enterrado, neste domingo (26), no Cemitério Jardim da Saudade, em Jardim Sulacap, bairro da Zona Oeste. O garçom morreu no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte, na madrugada desta sexta-feira (24), após complicações dos ferimentos sofridos em um acidente na Avenida Brasil.
Rodolfo foi uma das 18 vítimas da colisão entre dois ônibus na rodovia, na altura do Caju, na noite desta quarta-feira (22), a única fatal. Embora só ele tenha tido machucados gravíssimos, ele não foi socorrido de imediato, segundo a família.
No sepultamento deste domingo, entre os familiares havia sentimentos de tristeza e indignação.
Felipe Nunes de Oliveira, de 31 anos, irmão da vítima, disse que a saudade será imensa: "Vai deixar uma saudade imensa, o que irá ficar é a lembrança de menino sorridente e trabalhador. Ele tinha acabado de conquistar um sonho que estava percorrendo há muito tempo, de ter um trabalho de carteira assinada", disse o autônomo.
Ele e Rodolfo faziam aniversário no mesmo dia, 24 de agosto, com diferença de apenas um ano. Felipe acabou ganhando o irmão como presente de seu primeiro aniversário. Ele contou ao DIA que eles sempre comemoravam juntos: "Nós éramos melhores amigos, fazíamos aniversário no mesmo dia, como não sermos próximos? Sempre comemorávamos juntos. Ano passado, ficamos três dias comemorando, o fim de semana todo, com a família toda reunida. A gente gostava muito de celebrar assim. Chegava o nosso aniversário, como era dupla, a gente ficava três, quatro dias comemorando", lembrou com sorriso no rosto.
A reclamação da família sobre a empresa de ônibus não dar nenhum apoio permanece. A empresa do coletivo da linha 397 (Campo Grande x Candelária) ainda não entrou em contato com a família para prestar assistência: "Ninguém entrou em contato com a gente, ninguém da empresa de ônibus. Deixaram ele dentro do ônibus sem socorro, ele ficou dentro do ônibus sentindo muita dor, pedindo ajuda. Em nenhum momento os bombeiros, ninguém foi acudir ele. Primeiro foram até o motorista, para tirar o motorista das ferragens, e deixaram ele lá abandonado".
Felipe relatou que teve acesso a vídeos do dia do acidente. Segundo o jovem, uma das imagens mostra o ônibus já escuro, apagado com todo mundo do lado de fora e Rodolfo sozinho dentro do veículo. "Se ele tivesse tido socorro, ele estaria aqui com a gente. Mas todo mundo foi omisso", conclui o jovem. "Não vai trazer ele de volta, mas não quero isso para ninguém. Se ele tivesse tido socorro imediato, ele estaria conosco ainda. Tenho certeza disso", completou.
Extremamente emocionada, a mãe da vítima contou chorando que Rodolfo fará muita falta. Lúcia Helena Nunes de Oliveira, de 50 anos, dona de casa, afirmou ainda que o filho "era um menino muito alegre, feliz, e que estava todo bobo por ter conseguido emprego com carteira assinada".
Na hora de falar sobre o ocorrido, Lúcia chorou ainda mais: "O bombeiro estava do lado dele, mas ninguém ajudava ele. Os bombeiros quebrando a porta para salvar o motorista, e o meu filho ali pedindo socorro, com muita dor, e não apareceu ninguém pra ajudar o meu filho. Ele era uma pessoa feliz, alegre, chegava a ser chato, me agarrando toda hora. Essa empresa acabou com a felicidade do meu filho, com a vida dele".
Em seguida, falou com carinho sobre o amor de pai que Rodolfo possuía: "Ele amava muito os filhos dele, ele vivia com as crianças, sempre que podia pegava eles para passear". Rodolfo deixou uma filha de 10 anos e um filho de 8, frutos de um relacionamento passado.
Já a tia da vítima, Maria Luiza de Oliveira de Castro, 57 anos, autônoma, desabafou sobre a insatisfação da família com o atendimento recebido pelo Hospital Municipal Salgado Filho, para onde Rodolfo foi levado. "Uma rede pública, credenciada, muito grande, nos deixou bem insatisfeitos. Rodolfo morreu à 1h30 de quinta-feira e nós só fomos saber às 13h20, quando chegamos para a visita".
A parente denuncia que o hospital tinha os números de telefones para entrar em contato com a família e contar sobre o óbito: "O hospital tinha nosso telefone, ele tem RH, administração, tudo. É incompreensível o que aconteceu. Morrer todos nós vamos, porém, fazer isso com a família, a família ficar sem saber nada, isso não pode acontecer. Eles tinham que informar a gente, porque tudo atrasou por isso. Se nós tivéssemos sabido a tempo, tudo teria sido resolvido. Para mim, foi uma negligência do hospital, uma falta de organização, de respeito com a família. Porque ele já tinha falecido, mas a família estava de pé, sofrendo, chorando, e tem que ter respeito. Médico fez juramento, então tem que fazer isso. Isso não pode de forma alguma acontecer", disse Maria Luiza.
A mulher de Rodolfo, Adriana Clemente Lacerda, 48 anos, doméstica, engrossou o coro sobre o descontentamento da família em relação ao Hospital Municipal Salgado Filho. "Nós ficamos muito insatisfeitos em relação ao descaso com a família. A assistência social tinha o telefone de todo mundo. Ele faleceu na quinta, à 1h da manhã, ninguém comunicou nada. A minha sogra saiu de casa, sofrendo com a situação, chegou para a visita, e ele tinha falecido 1h da manhã. Um descaso total”, disse Adriana.
A mulher da vítima relatou ainda o hospital demorou para falar com a família no dia do acidente: "Chegamos ao hospital por volta de meia-noite e foram falar com a família só às 2h, com laudo de que Rodolfo não estava com nada, tinham feito tomografia completa, não tinha dado nada na cabeça, nada no corpo, mas estava entubado. No dia seguinte, a médica falou que ele estava com sangramento no cérebro, com traumatismo craniano e que o estado dele era gravíssimo. Os médicos não informavam nada para gente. A minha revolta é da falta de respeito com os familiares", desabafou a doméstica.
Adriana contou que o que a conforta neste momento é saber que ele era um homem de família e trabalhador. "Foi uma morte muito estupida, Rodolfo estava muito feliz, pois há três anos estava pelejando por uma vaga de trabalho. Ele conseguiu esse trabalho com carteira assinada, tinha só duas semanas. E acontece essa fatalidade. O que nos conforta é que Rodolfo era um homem de família e trabalhador. Queria apenas trabalhar para dar o sustento da família. E conforta também saber que Deus levou".
A falta de atendimento rápido foi reivindicada também pela única irmã da vítima, Thainá Nunes, de 28 anos, cabelereira: "O meu irmão foi a única vítima fatal, o único que perdeu a vida em um acidente de 18 pessoas, e isso pelo fato de ele não ter tido atendimento rápido. Todas as outras pessoas tiveram ferimentos leves, inclusive o motorista que eles ficaram aquele tempo todo tentando tirar, e ele só teve ferimentos leves no joelho e foi liberado. O meu irmão foi o único que teve ferimento grave, ficou grave no hospital e perdeu a vida", alegou Thainá.

O acidente
A batida entre os coletivos aconteceu por volta das 22h, no sentido Zona Oeste da Avenida Brasil, próximo ao viaduto da Linha Vermelha. Uma faixa da pista lateral chegou a ficar ocupada e só foi totalmente liberada para o tráfego no final da madrugada desta quinta-feira (23).
Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver que o acidente aconteceu porque um dos ônibus colidiu com a traseira do outro. Entretanto, ainda não há informações sobre o que provocou a batida. A Polícia Militar e a CET-Rio isolaram a área e o Corpo de Bombeiros foi acionado às 22h08. Algumas vítimas ficaram presas nas ferragens de um dos coletivos e as equipes precisaram serrar a lataria para retirá-las. Confira abaixo.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 18 vítimas do acidente deram entrada em unidades da rede. Para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, além de Rodolfo, Francisca da Silva, 26, também foi levada e teve alta médica. Outras 16 pessoas foram levadas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro.
Atuaram na ocorrência os quarteis Central, de Benfica, do Catete e da Penha, que ficaram no local até a 1h45. A pista foi liberada por volta das 5h, após a retirada dos ônibus, de acordo com o Centro de Operações Rio (COR), da prefeitura.
Neste sábado (25), em entrevista ao DIA, quando foi liberar o corpo no IML do Centro, a família já havia criticado a falta de apoio por parte das empresas de ônibus envolvidas no acidente: "Ficamos esses dias no hospital, ele internado em estado grave e ninguém apareceu para prestar suporte. Ninguém mesmo. Nem uma ligação sequer nós recebemos. São duas empresas envolvidas no acidente que resultou na morte de um trabalhador e ninguém nos procurou", criticou Wanderson Rampi, cunhado do garçom.

O Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus, foi procurado pela reportagem para falar sobre o caso, mas até o momento não se manifestou.