Petrobras terá para realocar US$ 3 bi, se for barrada na foz do Amazonas

Na revisão do Plano Estratégico 2023-2027, esses recursos poderão tanto impulsionar a transição energética quanto ajudar na volta da internacionalização da estatal

 Revisão do plano precisa ser entregue pela diretoria ao conselho de administração até julho
Revisão do plano precisa ser entregue pela diretoria ao conselho de administração até julho -
Se for mantida a decisão do Ibama de negar a licença ambiental para a Petrobras explorar a bacia da foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira, a empresa terá de decidir onde aplicar os US$ 3 bilhões destinados para a exploração da área. Na revisão do Plano Estratégico 2023-2027, esses recursos poderão tanto impulsionar a transição energética quanto ajudar na volta da internacionalização da estatal, em busca de novas reservas.

A revisão do plano precisa ser entregue pela diretoria ao conselho de administração até julho, mas a previsão é de que a versão 2024-2028 seja entregue apenas em novembro. "Não podendo fazer exploração na área, metade do potencial exploratório da Petrobras desaparece. A empresa vai ter de rever o plano estratégico e decidir se vai usar esse investimento no Brasil ou não", diz Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio.

Ele explica que não faz sentido destinar esses recursos para o pré-sal, segundo maior destino dos investimentos em exploração da companhia, mas que já não possui áreas interessantes para explorar. O caminho seria buscar reservas fora do Brasil. As melhores alternativas, pela escala do volume de possíveis reservas, seriam a Margem Equatorial, via Guiana ou Suriname, e a Namíbia, na África. "Do ponto de vista exploratório, no pré-sal o grande esforço já foi feito. Em termos de exploração não tem muito mais do que a Petrobras já está fazendo", constata

A Margem Equatorial contém cinco bacias, do Rio Grande do Norte ao Amapá, e é considerada a última grande fronteira no Brasil para a descoberta de reservas de petróleo. Sem ela, a estatal teria de buscar a internacionalização para aumentar seus números, diz Almeida.

Na semana passada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, admitiu em entrevista ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que é possível explorar a Margem Equatorial via Guiana ou Suriname se não for permitida a exploração na parte brasileira da área. Ele disse também que ainda existem algumas oportunidades em outras bacias da Margem, como a Potiguar, e talvez na Bahia, mas nada se compara à bacia da foz do Amazonas.

Na quarta-feira, 31, uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Câmara dos Deputados, vai debater a intenção da Petrobras de explorar petróleo e gás na bacia foz do Amazonas, uma das cinco bacias sedimentares da Margem Equatorial.

Novo pré-sal

Na Guiana e no Suriname já foram descobertos reservatórios com mais de 10 bilhões de barris de petróleo, o que poderia gerar uma produção média de 1 milhão de barris por dia, mesmo nível dos melhores poços do pré-sal, como Tupi e Búzios, na bacia de Santos.

Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), no pico de produção, em 2029, a parte brasileira da margem poderia atingir 1,1 milhão de barris por dia, elevando o total diário produzido no Brasil para quase 7 milhões de barris.

Nos últimos quatro anos, a estatal teve seus investimentos reduzidos e se concentrou no pré-sal e nos planos para explorar a Margem Equatorial. A previsão era de que o primeiro poço fosse perfurado em novembro passado, e, por isso, uma sonda foi instalada no local.

Na falta da licença, a estatal iniciou esta semana as atividades para levar o equipamento para a bacia de Campos e, depois, para a Potiguar, enquanto aguarda a solução do impasse. O custo estimado da manutenção da sonda inoperante é de cerca de US$ 1 milhão, segundo a consultoria Wood Mackenzie.

Para o coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ, Emilio Lebre La Rovere, os estudos ambientais não foram feitos corretamente no governo anterior e dificilmente no curto prazo a Petrobras deve obter o licenciamento. "A curto prazo, não me parece provável (ter exploração). A área é muito sensível ambientalmente. O Ibama pediu oito vezes informações complementares e, pelo visto, a Petrobras não conseguiu fornecer, assim como a Total (que devolveu o bloco)", diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.