Após fechamento em 2017, prédio do Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, está abandonado

Fachada do clube tradicional chama a atenção pelas péssimas condições de conservação em que se encontra; governo estadual ainda não definiu uma destinação para o local

Fachada pichada e suja do Esporte Clube Maxwell, no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio, fechado em 2017
Fachada pichada e suja do Esporte Clube Maxwell, no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio, fechado em 2017 -
Rio – De ensaios da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, da posição de destaque no futebol de salão do Rio e do local de encontro entre amigos e parentes para o abandono total: o Esporte Clube Maxwell, na Vila Isabel, Zona Norte, fechado desde 2017, chama a atenção pelas péssimas condições em que se encontra o prédio, na Rua Maxwell, tomado por lixo e pichações na fachada. O local pertence ao Rioprevidência, autarquia do Governo do Estado. No mesmo ano em que encerrou as atividades, a sede foi tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), da Prefeitura do Rio, por seu interesse histórico, social, esportivo e de lazer.
Símbolo de uma época em que Vila Isabel possuía clubes tradicionais, como o Atlética Vila Isabel (que fechou as portas em 2020), e, consequentemente, uma rotina de encontros para atividades esportivas e sociais, o Maxwell viveu por 77 anos como um espaço de convivência do bairro e da região, com ampla área de esportes e lazer. A associação possuía piscina, time próprio de futebol de salão, espaço para shows, eventos e feiras. Nos últimos anos de existência, já em decadência, foi alvo de operações policiais para estourar bingos que funcionavam clandestinamente no local.

Galeria de Fotos

O aposentado José Maurício Nunes da Silva lembra do Clube Maxwell com saudades da época em que ia nos ensaios do Salgueiro e jogava futebol no lugar Pedro Ivo / Agência O Dia
Os amigos Celso de Vasconcellos (camisa azul) e Gilberto Barbieri (camisa verde) frequentaram juntos os ensaios da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro no Clube Maxwell Pedro Ivo / Agência O Dia
A comerciante Luciane de Oliveira Silva ia ao Clube Maxwell às sextas-feiras após o trabalho, para aproveitar a 'Feira de Itaipava' que acontecia no local Pedro Ivo / Agência O Dia
O aposentado José Machado da Silva jogou futebol de salão profissionalmente pelo time do Clube Maxwell Pedro Ivo / Agência O Dia
O aposentado José Machado da Silva jogou futebol de salão profissionalmente pelo time do Clube Maxwell Pedro Ivo / Agência O Dia
Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, está fechado desde 2017 Pedro Ivo / Agência O Dia
Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, está abandonado após o fechamento em 2017 Pedro Ivo / Agência O Dia
Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, está abandonado após o fechamento em 2017, com lixo e pichações na fachada Pedro Ivo / Agência O Dia
Prédio do Esporte Clube Maxwell, na Zona Norte do Rio, está abandonado desde o fechamento em 2017, sem definição de futuro Pedro Ivo / Agência O Dia
Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, está abandonado desde o fechamento em 2017, sem definição de futuro Pedro Ivo / Agência O Dia
Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, está abandonado desde o fechamento em 2017 Pedro Ivo / Agência O Dia
Fachada pichada e suja do Esporte Clube Maxwell, no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio, fechado em 2017 Pedro Ivo / Agência O Dia
Prédio do Esporte Clube Maxwell, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, está abandonado desde o fechamento em 2017 Pedro Ivo / Agência O Dia
Em maio de 2017, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE), após 17 anos de disputas judiciais, obteve autorização da Justiça para desalojar o Esporte Clube Maxwell, que ocupava o imóvel do Rioprevidência. Desde setembro de 2000, o clube não pagava a taxa de ocupação, depois que a autarquia reajustou o valor de 663,98 Unidades Fiscais de Referência do Estado do Rio de Janeiro (UFIRRJ) para 21 mil e 130 UFIRRJ. Em 2017, cada unidade fiscal de referência custava R$ 3,1999. A retomada do prédio teve início com a retirada de móveis e desmontagem de equipamentos pertencentes ao clube.
Desde então, o espaço do clube segue fechado sem definição de futuro. Jorge Arthur, de 51 anos, presidente da Associação Empresarial e de Moradores de Vila Isabel (VIA Associados) afirma que há três anos se reuniu com o então presidente do Rioprevidência, Sérgio Aureliano, para propor a retomada do espaço pela comunidade, para a promoção de projetos sociais e esportivos.
"Tivemos uma reunião na Rioprevidência com o então presidente Sérgio para falar da nossa ideia de devolver o clube à comunidade. Ele está obsoleto, sucateado. Gostaríamos que ele fosse devolvido para fazermos uma série de projetos sociais. Poderíamos fazer muita coisa para os jovens e idosos, mas não conseguimos entender por que preferem deixar o espaço acabar a devolverem para a sociedade", questiona.
E a comunidade de Vila Isabel sente a falta do Maxwell. A comerciante Luciane de Oliveira Silva, 39 anos, frequentava a feira de alimentação e roupas que acontecia às sextas-feiras, conhecida como 'Feirinha de Itaipava'. "Eu ia direto do trabalho, uma loja de ferragens na Rua Gonzaga Bastos, perpendicular à rua do clube, para me divertir um pouco e iniciar o fim de semana".
Geisa Martins Faustino, 42 anos, cientista de dados, frequentava a mesma feirinha quase toda a semana para comprar roupa: "O clube tinha eventos bem interessantes, e é uma pena ele estar completamente abandonado, cheio de lixo, espero que não seja invadido. Todos os clubes do bairro acabaram, só nos restou o espaço do Maxwell, não sei o que vai acontecer com ele. A feirinha faz falta, dava movimento à rua, agora ela está muito abandonada. Já escurece um pouco e ficamos com receio de passar ali, pois o movimento era do clube, não tem comércio naquela região. Fora que dá um aspecto feio aquela construção ali grande e abandonada”, pondera.
Moradores mais antigos percebem as suas histórias entrelaçadas com as do clube. A secretária Dirce Cerqueira, de 55 anos, frequentou o lugar por bastante tempo e tem memórias afetivas em comum com outros moradores: "Eu frequentei bastante o Maxwell e faz muita falta para a gente. Fui sócia do clube e ia em eventos. Era um clube família, as famílias que tinham menos poder aquisitivo conseguiam frequentar. Tinham bailes e o salão era acessível para fazer festa de 15 anos. Eu frequentei até o fechamento, durante a gestão do presidente Jorge. Ele fez algo legal que era cobrar taxa barata para frequentar a piscina. É uma perda muito grande para o bairro, perdemos um clube histórico e a história da gente de Vila Isabel, lugares que nós e nossos pais frequentaram. E ele está abandonado, uma imundície cheia de rato. Além da perda, temos que suportar o imóvel deteriorando. Faz muita falta para quem tem filho, é triste não ter mais espaço para reunirmos a família".
Jorge Coelho de Souza, de 60 anos, é o presidente mencionado por Dirce, o último do clube. No final de sua gestão, ele cobrava taxas simbólicas para os moradores locais e da região frequentarem a piscina, em um intuito de promover um espaço de lazer em prol da comunidade: "Eu cobrava um valor simbólico de R$ 10, mas as crianças que não podiam pagar entravam de graça. Moradores da Mangueira, do Morro dos Macacos, Andaraí, Salgueiro, todos iam e se misturavam. Nós fazíamos feijoada, Festa de São Jorge, tudo com a comunidade frequentando. Depois, com a Feirinha de Itaipava, ia gente do Rio todo”, conta Jorge.
O administrador esclarece que o terreno foi doado pelo ex-governador Anthony Garotinho, que esteve à frente do Estado do Rio de Janeiro de 1999 a 2002, e o combinado era de o clube pagar uma mensalidade de R$ 1 mil, apenas um valor representativo para ter a posse e tomar conta do endereço. Quando o ex-governador Sérgio Cabral assumiu, o valor do aluguel foi reajustado para R$ 30 mil.
"O Garotinho tinha doado o terreno. Falam que é do Rioprevidência, mas o Garotinho tinha doado para o Maxwell, para quem fosse presidente tomasse conta. Pagávamos R$ 1 mil simbolicamente, mas aí o governo da outra gestão passou de R$ 1 mil para R$ 30 mil. Então, tivemos uma briga com Cabral por dois mandados e depois com Luiz Fernando Pezão (que sucedeu Cabral no comando do Governo do Estado), sempre tentando fazer acordo. O governo só enrolava, sem acordo. Houve, depois, um burburinho que queriam vender para uma rede de supermercado. Relutamos, conversamos com deputados e vereadores. Através do deputado Bebeto, em 2014, e do vereador Carlo Caiado, em 2017, conseguimos tombar o clube. Mesmo assim, tombado, queriam tomar da gente. Tentei conversar com várias pessoas, mas ninguém quis ajudar", relembra.
Com o tombamento da edificação, a demolição e a transferência definitiva de suas atividades esportivas e sociais ficaram proibidas, e só é admitida a transferência provisória em caso de necessidade de eventuais obras. Mas a retomada do terreno pelo Governo do Estado foi inevitável.
Em 2022, o então deputado estadual Alexandre Knoploch procurou a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras para propor a criação de uma área de esporte radicais no local. "A ideia era derrubar o clube, pois tem muita parte que não dá para aproveitar. Iriam fazer pistas radicais no padrão internacional para skate. O governo poderia destombar o prédio", afirma Alexandre, que não ocupa mais o cargo.
A perda é muito lamentada pelos moradores antigos. Sentados em uma mesa de um bar clássico do bairro, os amigos Gilberto Barbieri, de 76 anos, e Celso de Vasconcellos, fotógrafo de 74 anos, relembram bons momentos que passaram juntos no espaço. "Eu sinto muita falta do clube, sou nascido e criado em Vila Isabel, então o Maxwell fez parte da minha vida. Eu cheguei a jogar futsal pelo Esporte Clube Maxwell, e só não fui jogador profissional porque o seu pai não permitiu. Nós também íamos nos ensaios do Salgueiro", conta Gilberto.
"O fechamento é uma pouca vergonha. Os clubes estão acabando. O outro clube tradicional daqui, a Associação Atlética Vila Isabel, virará um supermercado. Ele foi pentacampeão mundial de futsal, e vai virar um supermercado. Não tem mais nada aqui em Vila Isabel", completa Celso.
A Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro ensaiou no clube durante 10 anos, de 1965 a 1975, quando Joaquim Nate era o presidente da agremiação e ela havia perdido a quadra no Morro do Salgueiro por especulação imobiliária. Pedro Nobre, de 70 anos, integrante da escola de samba e ex-diretor de barracão, lembra que o clube era muito simples nesta época e que conseguiu crescer graças aos ensaios do Salgueiro.
"O Salgueiro foi muito feliz no Maxwell. Era um clube muito pobre, a frente era de cimento batido, tinha três portas, literalmente, portas, como as de casa. Lá dentro tinha uma quadra pequena de futebol de salão e um campo descoberto. Como fez muito sucesso com os ensaios da Salgueiro, pôde começar a fazer reformas e obras. Instalou seis portas com roletas com o faturamento que a Salgueiro proporcionava. O lucro da portaria era do Salgueiro, mas o do bar ficava com o Clube Maxwell, então ele conseguiu fazer obra, cobrir o campo do clube e construir uma piscina. Em 1975, quando o Salgueiro foi bicampeão e teve eleições para escolha do presidente da escola, o então presidente do Maxwell avisou que fosse qual fosse o presidente do Salgueiro, o clube não ensaiaria mais lá. Como já tinha quadra para fazer evento e ensaios, o Salgueiro parou a parceria com o clube".
As lembranças alegres e as saudades são compartilhadas por toda a Vila Isabel. O aposentado José Maurício Nunes da Silva, de 67 anos, fala com tristeza da perda que o bairro sofreu com o fechamento do clube:
"A Rua Maxwell não tem mais nada. Quando tinha o clube, ainda tinha um movimento, mas agora não, está vazia. A piscina (do clube) deve estar proliferando mosquito da dengue. O clube teve uma época de ouro, mas agora tudo acabou. Eu ia sempre nos shows, nos ensaios e jogava futebol de salão lá. É uma perda grande para o bairro", avalia.
Falando em futebol de salão, em 1963, com 21 anos, o aposentado José Machado da Silva fez parte do time profissional do Clube Maxwell. Como atleta de futebol e basquete, ele era contratado por vários times da cidade pelo período de um ano para participar de campeonatos. Também carnavalesco de coração, frequentava o Clube Maxwell nos ensaios do Salgueiro, além de praticar futebol de salão no local: "A Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro fazia um dos melhores sambas do Rio de Janeiro no Maxwell, na época que o presidente era Osmar Valença. A situação financeira, social e política acabou com os clubes. A violência e os condomínios com sauna, piscina, salão de festa também tiveram a sua parcela. Hoje, nesta área, o único que resiste é o Renascença", conta em referência ao clube do bairro Andaraí, ainda na Zona Norte.
Procurada pelo DIA, a Rioprevidência informou que "a destinação do imóvel está sendo tratada pela autarquia com os demais órgãos estaduais. A autarquia ressalta ainda que está atenta a demandas em relação à conservação e utilização do antigo Clube Maxwell a fim de oferecer uma nova destinação ao imóvel".
Ainda procurados pela reportagem, o ex-governador Sérgio Cabral e a Secretaria de Estado de Governo não se manifestaram. O espaço continua aberto para os posicionamentos.